Diretor da Carris em Lisboa avalia que empresa está pronta para atuar no Rio de Janeiro

Por Ígor Lopes
Mundo Lusíada

No mês de setembro, o governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o ministro português Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, anunciaram, durante o 6º Encontro de Negócios Brasil-Portugal, na capital fluminense, uma cooperação técnica entre o Estado do Rio e a empresa pública portuguesa Carris, com o intuito de recuperar o serviço de transporte através de bondes no bairro de Santa Teresa. Em entrevista exclusiva ao Mundo Lusíada, Martins Marques, diretor da Estação de Elétricos da Carris, confirmou esse contato com o governo do Rio, e sublinhou que “a Carris já recebeu algumas informações sobre o trabalho em questão, mas ainda preliminares”. A empresa portuguesa estaria pronta para atuar na cidade carioca.

Segundo este responsável, “o que está genericamente previsto e que irá ser detalhado no protocolo a celebrar é que a Carris poderá vir a prestar consultoria técnica nas diversas áreas que constituem o sistema de elétricos de Santa Teresa”.

O diretor explicou que “estão a decorrer contatos entre os responsáveis pelo sistema de elétricos de Santa Teresa e a Carris, para se definir o âmbito da colaboração e apoio técnico que a nossa empresa poderá vir a prestar”. Este responsável ressalta, no entanto, que a empresa que dirige “não irá fabricar, nem vender elétricos para Santa Teresa”.

A geografia lisboeta prova que não é impossível fazer com que os bondes operem em segurança em locais onde haja muitas inclinações, curvas apertadas, circulação de pedestres e de outros veículos. O mesmo deve acontecer em Santa Teresa. Sendo assim, trazer para o Rio a experiência da empresa estatal de Portugal pode ser uma solução para os problemas técnicos que fazem parte do cotidiano do transporte em bondes num dos bairros mais característicos do Rio. Martins Marques garante que a Carris está disposta a trabalhar em conjunto com o governo do Estado do Rio.

“A Carris está totalmente disponível para partilhar, com a sua congênere do Rio, a sua vasta experiência e conhecimento sobre elétricos históricos que, em Lisboa, operam em linhas difíceis, quer pelas grandes inclinações e curvas apertadas, quer por os veículos circularem, em conjunto, em vias em que circula o restante trânsito rodoviário”, diz Martins Marques.

Este engenheiro acredita que para a Carris “a importância deste trabalho resume-se a disponibilizar a sua expertise acumulada ao longo de mais de 100 anos, contribuindo para que as entidades responsáveis pela gestão do sistema de bondes de Santa Teresa possam dispor de mais informação que lhes permitam escolher as melhores soluções técnicas”.

Boa parte da experiência da Carris, empresa que nasceu no Rio de Janeiro, vem das atividades em relação ao transporte público em outras cidades espalhadas pelo mundo.

“Os quadros da Carris têm colaborado em processos de reorganização dos sistemas de transportes noutras cidades do mundo. No caso particular do elétrico, tanto quanto sabemos não existem em qualquer outro país, para além de Portugal e do Brasil, sistemas com características deste tipo, isto é, com veículos históricos com tecnologia do princípio do século passado, a operar em linhas com inclinações superiores a dez por cento e curvas com raios inferiores a 15 metros, sem possuírem um sistema por cabo ou por cremalheira. Existem, sim, algumas linhas turísticas, com veículos semelhantes mas a operar em linha quase planas”, analisa Martins.

Comitiva carioca visita Lisboa e avalia cooperação com Carris

Uma comitiva organizada pelo governador Sérgio Cabral fez uma viagem a Lisboa, no dia 20 de setembro, onde foi possível avaliar a cooperação técnica com a Carris. O grupo ficou responsável por levantar informações sobre a operação do sistema de elétricos portugueses e estudar uma parceria entre a Carris Transportes Públicos Lisboa que administra o sistema local.

Os técnicos teriam dito que existem “muitas semelhanças entre os dois sistemas, em especial, nas condições das vias, inclusive em termos de inclinação das ladeiras e nas questões referentes ao trânsito”. Essa realidade portuguesa estará presente num relatório que será entregue ao governador do Rio pelo interventor Rogério Onofre, juntamente com o parecer sobre o que pode ser adaptado ao bonde carioca.

Segundo nota da assessoria de imprensa do Detro, Rogério Onofre ficou impressionado com o trabalho da Carris e adiantou que a experiência da empresa portuguesa vai ser fundamental na qualidade do serviço em Santa Teresa.

“O governador Sérgio Cabral acertou em cheio ao mandar nossa equipe a Portugal para o encontro com os técnicos da Carris. Realmente, o sistema de bondes de Lisboa e os problemas existentes ali são bastante parecidos com os de Santa Teresa e esta troca de experiência será fundamental para o serviço de recuperação necessário aos bondinhos cariocas. Em Lisboa, os integrantes da Comissão Interventora puderam constatar na prática, por exemplo, a diferença que fazem os trilhos bilabiados na via permanente em relação ao contratrilho usado em Santa Teresa. As soluções no que diz respeito ao sistema viário também chamaram a atenção. Enfim, os técnicos da Carris podem dar assessoria em todos os setores, desde a rede aérea, passando pelos bondes, até a via permanente. O governador Cabral deu um grande passo ao acenar com esta parceria entre o governo fluminense e Portugal”, sublinhou Onofre.

A comitiva foi composta pelo engenheiro Eduardo Macedo, anunciado por Sérgio Cabral como novo presidente da Central, pelo coordenador geral da comissão de intervenção dos Bondes, Alcino Rodrigues, vice-presidente do Detro, pela arquiteta Ana Carolina Vasconcelos, sub-coordenadora da equipe de intervenção e assistente técnica da diretoria operacional do Detro, e pelo engenheiro da Central Marcelo Nery.

Carris, empresa centenária

A Carris é uma empresa de transporte público de passageiros, fundada em 18 de setembro de 1872, na cidade do Rio de Janeiro, e que está ligada ao desenvolvimento da cidade de Lisboa.

Nessa época, a companhia dotou a cidade lisboeta de uma rede de transportes públicos coletivos, através do chamado sistema americano: carruagens movidas por tração animal deslocando-se sobre carris.

Para Martins Marques, a única ligação histórica da Carris ao Rio de Janeiro tem a ver com a sua fundação. “A nossa empresa foi fundada no Rio com a designação, que ainda hoje tem, de Companhia Carris de Ferro de Lisboa”.

Tragédia abalou cariocas

Um acidente no dia 27 de agosto com um bonde em Santa Teresa deixou seis mortos e 57 feridos. Os motivos do desastre ainda estão sendo averiguados pelas autoridades. Os bondes de Santa Teresa só voltarão a funcionar em um ano, segundo informou Rogério Onofre. A decisão seria resultado de uma análise sobre as condições dos bondes, realizada por uma comissão interventora.

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