Diplomata exalta papel de Malangatana na luta pela independência de Moçambique

De tão famoso, Malangatana virou sinônimo de dinheiro em Moçambique. Com uma foto impressa na antiga cédula de 5 mil meticais, o poeta ficou com o nome atrelado à nota.

Por Eduardo CastroDa EBC na África

A morte de Malangatana Ngwenya, na madrugada de 5 de janeiro, em Portugal, surpreendeu o último amigo a visitá-lo no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, nos arredores da cidade do Porto, onde o artista estava internado. “Passei o dia todo com ele. Estava lúcido e feliz, embora já lutando contra a morte”, disse, por telefone, o advogado e ex-cônsul de Moçambique no Porto, Augusto Macedo Pinto. “Ele estava satisfeito por ter recebido duas mensagens do presidente [de Moçambique, Armando] Guebuza durante o dia”.

Malangatana lutava contra um câncer descoberto havia pouco tempo. “A doença o incomodava muito, atrapalhava a respiração”, disse o advogado, sem entrar em detalhes da doença.

O governo de Moçambique providenciou o transporte do corpo do pintor para Maputo, capital do país. Além de artista reconhecido mundialmente, Malangatana Ngwenya foi deputado na Assembleia da República, vereador em Maputo, membro do Conselho de Estado e titulado doutor honoris causa por várias universidades.

“Foi uma pessoa que sofreu o colonialismo na pele, ficou preso um ano e meio pela PIDE [Polícia Internacional e de Defesa do Estado]. Lutou pelos ideais da independência”, ressaltou Macedo Pinto, lembrando o envolvimento de Malangatana na luta pelo fim do regime colonial português em Moçambique.

De tão famoso, Malangatana virou sinônimo de dinheiro em Moçambique. Com uma foto impressa na antiga cédula de 5 mil meticais (a moeda moçambicana), o poeta ficou com o nome atrelado à nota. Era comum moçambicanos pedirem por “um malangatana”, quando se referiam ao valor. Algo parecido com o que o ocorreu no Brasil com a antiga nota de 1.000 cruzeiros, conhecida nas ruas como “um barão” por causa da estampa do Barão do Rio Branco.

Nomeado Artista da Paz pela Unesco, Malangatana Ngwenya (crocodilo, na língua changana, a mais comum na região de Maputo) é reverenciado no mundo todo pelos retratos que fez da guerra colonial em seu país, com rostos expressivos, traços firmes e cores fortes. Enormes murais decoram vários prédios em Maputo, como, por exemplo, o salão de entrada do Ministério do Interior, as instalações da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e as paredes externas do Museu de História Natural.

O corpo do pintor moçambicano chegou dia 12 a Maputo, onde foi velado e enterrado. Herói da independência do país, Malangatana foi homenageado com um funeral de Estado. Foi decretado luto oficial de dois dias no país.

Em Portugal, o corpo de Malangatana foi velado no Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa. A ministra da Cultura Gabriela Canavilhas e o ex-presidente Mário Soares participaram de uma cerimônia oficial de homenagem. 

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