Da Redação com Lusa
A Diocese do Porto e a Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) iniciam esta semana aulas ‘online’ de português dedicadas aos refugiados ucranianos que chegarem a Portugal.
A iniciativa partiu de duas estudantes de mestrado da FLUP, uma portuguesa e outra ucraniana, e está a ser coordenada pelo Secretariado Diocesano das Migrações e Turismo.
“Cerca de 200 pessoas já se inscreveram e as inscrições não param de chegar. Todos os dias chegam autocarros, todos os dias chegam refugiados”, disse à agência Lusa a diretora do Secretariado Diocesano das Migrações e Turismo, Maria Viterbo.
A ideia passa por adaptar à realidade atual e às necessidades imediatas os conteúdos dos cursos dedicados a estrangeiros que existem há cerca de duas décadas fruto de uma parceria da Universidade do Porto e da Diocese do Porto.
Os cursos estão a ser simplificados e os conteúdos estão focados nas necessidades imediatas do dia a dia dos refugiados.
“Os nossos cursos PLE [Português Língua Estrangeira] têm a duração de três anos. Não é o que se justifica neste momento de emergência. Vamos arrancar com uma coisa adaptada, um curso não tão acadêmico como o habitual, para ajudar quem chega sem conhecimento nenhum a interagir no dia a dia. Vamos concentrar-nos no ensino de português adaptado ao sentido prático da vida diária”, descreveu Maria Viterbo.
Os pedidos de inscrição têm chegado ao Secretariado Diocesano das Migrações e Turismo “todos os dias”, quer vindos de quem chega a Portugal por estar a fugir à guerra na Ucrânia quer por familiares ou amigos de refugiados que já moram no país.
À Lusa, a diretora contou que “as pessoas chegam com muita vontade, porque percebem que aprender português é uma necessidade”.
“Não podem ficar sem perceber nada. Vamos avançar e esperamos poder ser úteis a quem chega”, resumiu.
Estão a ser montados dois modelos de aulas: ‘online’ para pessoas que estejam dispersas pelo país e tenham crianças a seu cargo e presenciais para refugiados acolhidos no Porto.
“Verificamos que quem vem são senhoras com crianças pequeninas e bebês e que ficam alojados em locais dispersos e conforme a oferta que existe. Seria muito difícil obrigar as pessoas a virem aqui [Casa Diocesana – Seminário de Vilar]. Para essas pessoas teremos de avançar com cursos ‘online’. As turmas presenciais são para pessoas acolhidas no Porto que podem deslocar-se”, acrescentou a responsável.
As aulas serão dadas, a título voluntário, por alunos de mestrado da FLUP, bem como professores que mostraram disponibilidade, entre os quais do departamento de Ensino do Secretariado Diocesano das Migrações e Turismo.
Maria Viterbo, que confidenciou à Lusa que passou a noite a distribuir os refugiados inscritos por turmas de forma a arrancar “já esta semana e sem demora”, contabilizou mais de 20 voluntários, uma bolsa que “está sempre em aberto e a crescer”.
Já informação publicada no ‘site’ da Universidade do Porto especifica que os cursos de Português para Estrangeiros (Nível A1 – Iniciação) são gratuitos e podem decorrer em diferentes horários, sendo as aulas ‘online’ ou em regime presencial, de acordo com o local de residência dos estudantes.
“O curso será igualmente aberto a cidadãos de outras nacionalidades também deslocados/refugiados em Portugal”, lê-se na informação publicada.
Comunidade Hindu
A Comunidade Hindu de Portugal vai facultar gratuitamente aulas de português a cidadãos ucranianos, à semelhança do que já fez com refugiados afegãos, e prevê lançar dentro de meses uma plataforma de apoio ao emprego.
No templo hindu reza-se também pela Ucrânia, pelas vítimas do conflito, para que a paz regresse a um país de onde já fugiram 4,8 milhões de pessoas desde a invasão russa, a 24 de fevereiro.
O apoio imediato à Ucrânia passou pela disponibilização do espaço onde se encontra o imponente templo Radha Krishna, em Lisboa, para recolha e armazenamento de bens destinados à população ucraniana, disse Chirague Bhanji, vice-presidente da Comunidade Hindu de Portugal, onde o sagrado e o profano andam de mãos dadas.
A intervenção foi articulada com um sacerdote ucraniano e os objetivos de curto prazo passam pela aproximação a esta comunidade, revelou o responsável pela nova direção, eleita há um mês e meio.
“Estamos agora a desenvolver uma linha de apoio de fundos monetários para serem enviados para as respectivas entidades para darem o apoio financeiro a todos os refugiados da Ucrânia”, indicou.
A comunidade vai também disponibilizar apoio aos cidadãos ucranianos que chegam a Portugal, ao nível da distribuição de água, medicamentos, produtos de higiene e brinquedos.
Percorrer os corredores da instituição, com o estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), implica passar por várias indicações para aulas de português, um projeto iniciado com refugiados afegãos acolhidos em Portugal na sequência da tomada do poder em Cabul pelo regime talibã, em agosto do ano passado.
“Começamos com três turmas, íamos ter três turmas de 60 pessoas. Quando abrimos as inscrições, em 24 horas tínhamos mais de 400 pessoas inscritas para aulas de português”, contou à reportagem da Lusa o ex-vice-presidente, Ajit Hansraj, sublinhando o apoio do Instituto Camões, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e do Alto Comissariado para as Migrações.
Atualmente decorrem aulas para imigrantes oriundos da Índia que não falam português e “muito brevemente” esta valência estará disponível para cidadãos ucranianos. “Certamente vão precisar desse apoio linguístico”, sublinhou Chirague Bhanji.
A comunidade, que conta com o trabalho voluntário de várias professoras, tenciona “reativar um protocolo com o Instituto Camões”.
No âmbito da intervenção social, está ainda em desenvolvimento uma plataforma de apoio à procura de emprego por parte de refugiados que, segundo Chirague Bhanji, estará concluída dentro de quatro a cinco meses.
A iniciativa está a ser desenvolvida em parceria com o Alto Comissariado para as Migrações, adiantou o vice-presidente da Comunidade Hindu, formada por hindus oriundos de Moçambique, que se instalaram em Portugal a seguir à independência do país, em 1975, e que abarca cada vez mais países, em resultado das novas vagas de imigração. A abertura à sociedade, em geral, tem vindo a acentuar-se através da intervenção social e cultural.
“Esta comunidade é aberta a todas as religiões e a todas as instituições. O que vemos é que a emancipação que houve um pouco também da cultura do ioga e do ayurveda trouxe aqui bastantes pessoas a conhecer a comunidade, a conviver conosco também. É um centro que claramente está aberto a todas as pessoas”, afirmou Bhanji.