Da Redação
Com Lusa
Os emigrantes portugueses estão divididos quanto ao local onde querem ser sepultados, mas a porcentagem dos que preferem Portugal diminui à medida que aumentam os anos passados no país de acolhimento, segundo estudos feitos no Luxemburgo e na França.
O estudo “Envelhecimento dos migrantes: partir, ficar, envelhecer no Luxemburgo”, do Centro de Estudos e de Formação Intercultural e Social (CEFIS), questionou imigrantes no Grão-Ducado sobre o local onde preferiam ser enterrados, incluindo portugueses, que representam cerca de 16% dos estrangeiros no país.
38% dos portugueses disseram que preferiam ser sepultados no Luxemburgo, contra 22%, que escolheriam Portugal. A porcentagem de indecisos ronda, no entanto, os 40%, o que torna difícil fazer “projeções estatísticas” de forma fiável, alertam os investigadores.
O estudo sugere que os anos passados no país de acolhimento influem na decisão, apontando o caso dos imigrantes italianos, que estão há mais tempo no Luxemburgo que os portugueses e são também os mais numerosos a escolher o Grão-Ducado como local de inumação (50%, contra 20,9% que preferem Itália).
Já entre os imigrantes cabo-verdianos, chegados há menos tempo ao Grão-Ducado, a tendência inverte-se: 51,2% preferiam ser sepultados em Cabo Verde, contra apenas 7,4% no Luxemburgo.
“Trata-se de uma população chegada mais recentemente ao Luxemburgo e que não dispõe ainda de uma história migratória de várias gerações, como é o caso dos italianos” (que começaram a chegar ao país no início do século XX), aponta o estudo.
O número de anos passados no país de acolhimento é uma das variáveis que mais pesam na decisão, indica outro inquérito realizado em França, citado no estudo luxemburguês. O estudo francês, realizado com base em dados de 2003, concluiu que “cada ano passado em França reduz em 3,1% a escolha pelo país de origem” para ser enterrado.
Aquele inquérito também indicava que os emigrantes portugueses em França estavam divididos quanto ao país onde queriam ser sepultados (34% contra 31%, sendo que cerca de 34% não sabiam ou consideravam o local indiferente).
Para o historiador Victor Pereira, professor de história contemporânea na Universidade de Pau, em França, “a percentagem de portugueses que querem ser enterrados em França ou no Luxemburgo aumenta com o número de anos passados no país, porque há uma mudança do sentimento de pertença”.
“A tendência é para os emigrantes optarem por ser sepultados no local onde vivem, perto dos filhos e netos: querem que eles possam pôr flores na campa ou ir visitá-los ao cemitério. São pessoas que estão há mais tempo no país, estão mais enraizadas, e desenvolveram menos ligações com a aldeia de origem”, afirmou.
Segundo dados obtidos pela Lusa, em 2015 morreram 220 pessoas com nacionalidade portuguesa no Luxemburgo (que representam 5,5% do total de óbitos no país), tendo o Ministério da Saúde luxemburguês emitido 80 atestados médico-sanitários, necessários para o transporte de cadáveres para Portugal.
Os números deixam, no entanto, de fora as pessoas que optaram pela cremação, já que a remoção das cinzas para outro país não requer a autorização do Ministério da Saúde nem tem de ser feita por profissionais.
A cremação fica mais barata e começa a ser uma opção cada vez mais procurada pelos portugueses, segundo a Federação de Agências Funerárias e Empresas de Cremação do Luxemburgo.
“Os portugueses são mais tradicionalistas e a cremação foi sempre um tabu, mas de há cinco anos para cá há cada vez mais portugueses que optam por esta solução”, disse à Lusa Jean-Paul Erasmy, um dos responsáveis da federação.
Na transladação de corpos do Luxemburgo para Portugal, as agências funerárias podem cobrar entre 2.800 a 4.500 euros, segundo estimativas de empresas do setor.
Para Pedro Almas, proprietário de uma agência funerária em Esch-sur-Alzette, uma das localidades com maior percentagem de portugueses no Luxemburgo, a maioria dos emigrantes continua a preferir ser enterrada em Portugal, mas a tendência está a mudar.
“No ano passado foi o ano em que fiz mais funerais de portugueses no Luxemburgo” (11 no total), disse Pedro Almas.