Desde que venceu o pleito em 2014 a oposição não deu tréguas à Presidenta Dilma Rousseff, impondo-lhe forte pressão diária a partir do Congresso – que teve uma renovação bastante conservadora na Câmara dos Deputados e onde o governo tem uma base de aliados nada confiável, amparada no escorregadio PMDB –, da grande mídia comercial, de setores da justiça e, claro, de batidos e inconformados, caso do senador mineiro Aécio Neves e seus simpatizantes. Este poderoso grupo criou um cenário que, para muitos analistas, foi chamado de ‘terceiro turno’, porque deu a impressão da eleição não ser concluída até que Dilma fosse derrotada ou, em outras palavras, saísse de alguma maneira do cargo que foi mantida por 54,5 milhões de votos. Mas, se existiram dificuldades externas, elas não foram as únicas. Questões internas também contribuíram para a paralização do país, em meio à desarticulação do governo.
Às vésperas da eleição, Dilma convidou Joaquim Levy para assumir o cargo do Ministério da Fazenda. Levy é um conhecido técnico vindo do setor financeiro e defensor de maior liberdade de ação do mercado e menor intervenção estatal. Este convite – com outros nomes como, por exemplo, uma liderança do agronegócio, Katia Abreu, para o Ministério da Agricultura –, ajudou Dilma a colecionar animosidade também entre os movimentos populares e segmentos de esquerda. O segundo mandato de Dilma faria um ‘choque fiscal’ que, para muitos, representava cortes nos programas sociais e maior aproximação com setores conservadores. Ou seja, o segundo governo Dilma começou mal politicamente, desejando ‘fazer média’ com quem não lhe tem respeito. E, não custa lembrar, lidava na esfera econômica com um problema que já atormentava há certo tempo, isto é, o baixo crescimento do país, com inflação subindo, crédito caro e taxa cambial criticada. Tudo somado a um cenário sombrio exterior.
Com o bombardeio de acusações vindas a partir da operação Lava Jato e a prisão de empresários e ex-diretores da Petrobrás, multiplicaram-se os pedidos de impeachment. Embora fossem, um a um sendo derrubados nas instâncias jurídicas, a imagem de Dilma e seu governo inquestionavelmente foram cada vez mais arranhados. Despencou na opinião pública. Assim, o esquema organizado pela oposição ia funcionando muito bem, atazanando o governo diariamente ou, como alguns diziam, ‘fazendo sangrar continuamente’, até que duas coisas extras ocorreram, dando estímulo ao acuado e inoperante governo.
No dia 23 de Setembro, o Superior Tribunal Federal – STF, por 8 votos a 2, retirou do juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, a plenitude de ações sobre a Lava Jato, ‘fatiando o caso’, com outras cortes do país. Isto esvaziou parte considerável das investigações sob responsabilidade do juiz e sua equipe de procuradores do Ministério Público Federal do Paraná, assim como atingiu a tese central de que ‘foi uma mesma quadrilha quem operou um contínuo assalto à República, cujo pano de fundo era o projeto de perpetuação do Partido dos Trabalhadores e aliados no poder’.
A oposição sentiu a decisão do STF, porque Curitiba propiciava muitas das acusações de corrupção contra o governo, diariamente reverberadas pela grande imprensa. Assim, deu à situação a esperança que, agora, oposicionistas também venham a ser investigados de forma mais intensa por corrupção, caso da própria Operação Lava Jato, cujas empreiteiras também financiaram campanhas de outros partidos que não os da chapa governista.
Outro fator foi o impacto sobre Eduardo Cunha, como o próprio Juiz Moro, um nome querido entre oposicionistas. Ambos muito lembrados pelas passeatas ‘contra a corrupção, a impunidade e a esquerda’, acontecidas neste primeiro semestre nas capitais. As faixas “somos todos milhões de Cunha” foram reproduzidas pelas redes sociais e imprensa. Acontece que a justiça suíça, acidentalmente, atingiu o esquema da oposição. Cunha, presidente da Câmara e importante agente do PMDB pró-impeachment, foi acusado pelo Ministério Publico daquele país europeu de ter US$ 5 milhões em quatro contas bancárias. Para abertura de uma de suas contas na Suíça o banco Julius Baer estimou seu patrimônio em mais de 37 vezes o que ele declarou à Justiça Eleitoral. Em abril deste ano os suíços começaram os trabalhos de investigação sobre ele e familiares. Aqui, Eduardo Cunha sob holofotes e aplausos, negava tudo, passeava ileso dirigindo a Câmara e, mesmo sendo citado na Lava Jato, pouco teve repercutida essa situação. Quatro delatores em juízo o acusam de receber propina do esquema. Um quinto o apontou como responsável por dar a palavra final em uma das diretorias da estatal. Duro golpe nas pretensões de Aécio Neves e cia. O PSB já abandonou o barco do impeachment. Boa oportunidade para Dilma começar a tentar fazer funcionar o seu desgoverno.
Resumo da ópera: está na hora do Congresso começar a trabalhar pautas para reequilibrar a situação política, o que vai ajudar a esfera econômica ter mais tranquilidade para pensar planos. É preciso estabilidade para as empresas calcularem seus investimentos. Reaquecer a economia. O desemprego cresce e os ganhos sociais correm risco, prejudicando a população. Isto é absolutamente injusto. A oposição que seja competente e vença o governo nas próximas eleições de forma honesta, honrosa e democrática. E, claro, vale lembrar: se Cunha não for preso como Zé Dirceu e outros petistas, levando consigo também velhos companheiros de trama – que começou há anos, em tempos da Telerj, tendo muito a delatar sem sombra de dúvidas –, a Justiça do Brasil vai dar provas de imoralidade em sua conduta, desnudando seu caráter conivente e seletivo com o crime. A Lei deve ser igual para todos. São Paulo, 16 de outubro de 2015.
Prof. José de Almeida Amaral Júnior
Professor universitário em Ciências Sociais; Economista, pós-graduado em Sociologia e mestre em Políticas de Educação; Colunista do Jornal Mundo Lusíada On Line, do Jornal Cantareira e da Rádio 9 de Julho AM 1600 Khz de São Paulo