Digitalização – uma oportunidade inexplorada pelos empresários portugueses

Por Bruno Bobone

Num mundo cada vez mais globalizado, caracterizado por mercados dinâmicos onde apenas as empresas mais ágeis conseguem ser bem-sucedidas, a competitividade das empresas nacionais depende hoje muito da sua capacidade de adaptação e da forma como conseguem responder aos imperativos de uma economia sem fronteiras. Neste cenário, a digitalização está a rescrever as regras do jogo.

A digitalização não é apenas uma nova tendência do mundo empresarial. Na verdade, assume-se ainda como um argumento essencial para uma estratégia de internacionalização que apresenta exigentes desafios às empresas nacionais, caracterizadas por baixos níveis de competitividade face às suas congéneres de outros países e por uma elevada percentagem de empresas que nem sequer tem ainda presença online.

A digitalização é, portanto, um passo essencial e urgente para o tecido empresarial português, que não deve ignorar os reptos que lhe são lançados.

Desafios da digitalização
No caminho da digitalização portuguesa, o tecido empresarial nacional enfrenta três grandes desafios:

– Renovação tecnológica: a falta de vontade ou coragem para investir em novas tecnologias cria um distanciamento considerável entre as mais recentes inovações apresentadas no mercado e as tecnologias que são hoje utilizadas no panorama empresarial e industrial nacional. As empresas portuguesas continuam em grande parte a olhar para a tecnologia como um argumento acessório e não estratégico.

– Colaboradores com falta de cultura digital: a renitência frequentemente verificada na formação tecnológica dos colaboradores das empresas e o desaproveitamento de oportunidades de melhor capacitação e actualização das suas competências promove a falta de cultura digital. Esta não é apenas dos colaboradores, mas dos próprios decisores, incapazes por vezes de compreenderem os reais benefícios de apanhar o comboio digital que está a passar à sua frente.

– Analítica como enabler de novos modelos de negócio: outro desafio passa pela capacidade de recolha e análise das enormes quantidades de dados gerados pela digitalização da economia, essencial para fazer da analítica digital um elemento central na definição de novos modelos de negócio.

Digitalização assegura produtividade
Nos dias que correm, a digitalização é quase condição sine qua non para garantir superiores níveis de produtividade – e competitividade – e assegurar uma posição sólida quando a área de jogo passa pelos mercados internacionais. Mas de que forma consegue a digitalização assegurar melhorias na produtividade?

– Mais competências, melhor formação: A digitalização e a transformação a ela inerente conseguem impactar tanto a força de trabalho especializada como a não especializada. Enquanto a maioria dos colaboradores das empresas não é composta por Millennials ou membros da Geração Z, há que garantir formação adequada e melhorar as competências da força de trabalho actual através de iniciativas de promoção da digitalização. Com este tipo de abordagem, a AT&T reduziu o ciclo de desenvolvimento de produto em 40% e acelerou o time to revenue em 32%.

– Mudança de estratégia: A digitalização começa por ser uma necessidade para, rapidamente, se transformar num pilar do negócio das empresas, componente essencial na definição de novas estratégias. As empresas devem deixar de olhar para a tecnologia como um mero conjunto de produtos e serviços técnicos que garantem operações, mas encará-la como um enabler de negócio, um argumento estratégico que fomenta a criação de novos modelos e potencia outras fontes de receita para melhorar o desempenho.

– Transformação da experiência do consumidor: o mundo digital permite que as empresas respondam às necessidades dos seus clientes de novas formas para assegurarem um superior desempenho. A analítica de dados, por exemplo, permite recolher informações essenciais sobre as especificidades de cada cliente de forma a personalizar a oferta e optimizar a experiência do consumidor, disponibilizando atempadamente ofertas adequadas ao seu perfil e aumentando as hipóteses de sucesso.

Digitalização, o Setor Privado e o Estado
Torna-se imperativo fomentar o espirito da inovação e garantir que os principais actores da economia nacional assumem o seu papel enquanto enablers de uma digitalização que não vai esperar por retardatários. Exige-se ao tecido empresarial português consciencialização, compreensão e, depois, coragem e determinação para actuar. Deve ainda assumir uma mensagem crucial: a digitalização já não é opcional, mas imperativa.

Empresas como a NOS, no sector das telecomunicações, ou o Banco Best no sector bancário, apostam hoje na digitalização para personalizarem os seus serviços e em tecnologias disruptivas como a Inteligência Artificial. Outro bom exemplo são os CTT, uma empresa secular em profunda transformação nos últimos anos e que se empenha na diversificação e digitalização do seu negócio e dos processos a ele associados.

Os decisores do sector privado têm um papel essencial na implementação de estratégias de digitalização que sirvam de pilares para empresas mais competitivas e produtivas e que lhes permitam concorrer num mercado global.

Contudo, o Estado também deverá assumir as suas responsabilidades enquanto facilitador da revolução digital e como exemplo na optimização de processos, na ruptura com antigos processos e rotinas instituídas e na dinamização de estratégias. De acordo com o estudo “Digital by Default: Impacto Económico e Factores de Sucesso”, o nosso país poderá obter poupanças de até 400 milhões de euros somente no que respeita ao Estado ao adoptar uma estratégia verdadeiramente digital.

Feitas as contas, o custo de não conseguir implementar a digitalização não podia ser mais gravoso. Neste cenário em particular, a escolha é assumir que ela não é o inimigo e considerar as melhores formas de adoptar estar transformação digital. A alternativa? Ver o negócio num lento e irrecuperável definhar.

As empresas nacionais que não consigam fazer esta transição não sobreviverão num mundo digitalizado, onde é preciso maior agilidade, dinamismo e uma superior capacidade de resposta. O comboio está em movimento e é obrigatório apanhá-lo.

 

Por Bruno Bobone
Presidente da CCIP – Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa

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