EPOPÉIA PORTUGUESA
Por Emídio Tavares
Heróis do mar, nobre povo, gritai hoje de novo: é campeão, é Portugal
Depois de inúmeras conquistas em diversos esportes como o atletismo, o hóquei, o futebol de base e outros mais, faltava ao nosso povo batalhador e sofrido, que tudo que conquistou sempre foi a duras penas e com muito suor, um titulo no futebol principal, e que algumas vezes nos foi tirado, quer pela manipulação dos comandantes da FIFA, quer pelo destino. Desacreditado, Portugal perdeu seu primeiro jogo na fase de qualificação para a Euro, em casa por 1×0 para a limitada Albânia, num grupo relativamente fácil contando também com Dinamarca, Armênia e Servia, e que daria vaga aos dois primeiros colocados. Foi a derrota da guinada de 360 graus na historia da seleção portuguesa. Paulo Bento foi demitido e para seu lugar veio Fernando Santos que venceu todos os 7 jogos restantes classificando Portugal como primeiro do grupo. A convocação final para a Euro, com algumas baixas por contusão (a mais sentida foi a de Coentrão), não agradou a todos, principalmente pela insistência do treinador em levar o atacante luso, nascido na Guiné-Bissau, Eder. Os goleiros convocados foram Rui Patrício, Eduardo e Antony Lopes; os zagueiros foram Pepe, Ricardo Carvalho, Jose Fonte, Bruno Alves, Vieirinha, Cedric, Raphael Guerreiro e Eliseu; os meio-campistas foram Renato Sanches, Danilo, Adrien Silva, Andre Gomes, William Carvalho, João Mario e João Moutinho; e por fim os atacantes Rafa, Quaresma, Cristiano Ronaldo, Nani e Eder.
Enfim veio o 1o jogo de Portugal na Euro, e enquanto as seleções favoritas confirmavam dentro de campo a preferência, a seleção comandada por Fernando Santos decepcionava na estreia empatando por 1 gol com a Islândia num jogo em que o técnico luso respeitou demais o adversário armando um meio-campo mais defensivo e deixando Nani e Cristiano isolados na frente, com Quaresma entrando apenas nos últimos 20 minutos. Portugal abriu o marcador no 1o tempo com Nani, após passe de CR7; mas sofreu o empate no inicio da etapa final oriundo de um cruzamento que Vieirinha não conseguiu interceptar, e que acabou por lhe custar a titularidade.
Para o 2o jogo frente à Áustria o técnico luso melhorou o poderio ofensivo da seleção, colocando Quaresma no lugar de João Mario, e William Carvalho no lugar de Danilo. Foi um massacre do começo ao fim do time luso para cima dos austríacos, e como o gol não saia o nervosismo aumentava. Na etapa final Cristiano foi agarrado dentro da área, mas na execução da penalidade máxima mandou a bola na trave deixando mais uma vez a vitoria escapar.
Para o terceiro e decisivo jogo contra a Hungria, ate então líder do grupo, Fernando Santos colocou Eliseu na lateral-esquerda no lugar de Raphael Guerreiro que se contundiu. Foi um desastre. Num lance bisonho em que tentou atacar e passar por 3 adversários no meio de campo Eliseu perdeu a bola que resultou num contra-ataque húngaro. Do lance surgiu um escanteio com Nani desviando a bola de cabeça, mas para os pés do atacante adversário que desferiu um canhão com Rui Patrício, encoberto, nada podendo fazer. Mesmo assim o ataque luso predominava e aos 42 minutos, após o passe de CR7, Nani empatava o jogo. Para a etapa final Fernando Santos foi para o tudo ou nada e trocou Moutinho por Renato Sanches, alem de Nani por Quaresma. Porem o azar teimava em bater a nossa porta. Aos 2 minutos, numa cobrança de falta que desviou na barreira, a Hungria passava novamente à frente no marcador. Foi então que Cristiano Ronaldo acordou para a Euro. Aos 5 minutos, após cruzamento da direita, o craque luso fez de letra o gol de empate para Portugal. Mas novamente o azar veio nos “visitar”. Aos 10 minutos, num bate e rebate a entrada da área lusa, novo desvio em um homem nosso, enganando Rui Patrício e decretando o 3×2 para a Hungria. Mas quem tem Cristiano jamais perde a esperança. Aos 17 minutos, em nova bola alçada a área adversária, CR7 deu um verdadeiro “tiro” de cabeça para fechar o placar em 3×3 e que ate aquele momento garantia o 2o posto a Portugal, que assim sendo enfrentaria a Inglaterra nas oitavas, visto que a Islândia, que empatava com a Áustria, ficaria em 3o assegurando uma das vagas dentre os melhores terceiros colocados. Acontece porem que a Islândia fez um gol nos acréscimos e que lhe garantiu o 2o posto do grupo, jogando Portugal ao 3o lugar, para enfrentar a Croácia. Com os gols marcados nesse jogo CR7 transformou-se no 1o jogador a marcar em 4 Eurocopas diferentes.
Para o jogo contra a Croácia, Raphael Guerreiro voltou para a lateral-esquerda e Cedric assumiu a direita no lugar de Vieirinha. Para o meio-campo outra retranca: Adrien Silva, Andre Gomes, William Carvalho e João Mario. Domínio amplo da posse de bola pela Croácia durante todo o 1o tempo. Para a etapa final Renato Sanches substituiu Andre Gomes melhorando a posse de bola para Portugal, e no final da partida Quaresma substituiu João Mario. Contudo nem um chute sequer foi desferido no rumo do gol durante os 90 minutos por qualquer das seleções, batendo um recorde negativo que durava mais de 30 anos. Na prorrogação as emoções foram aumentando de lado a lado com bolas perdidas ate que no penúltimo minuto da prorrogação a Croácia resolveu ir para o abafa, acertando uma bola na trave de Rui Patrício; no rebote Cristiano armou contra-ataque lançando Renato Sanches que conduziu a bola ate a entrada da área adversária tocando para Nani na esquerda que de trivela encontrou CR7 dentro da pequena área. O craque madeirense chutou cruzado para brilhante defesa do goleiro croata, que porem não conseguiu evitar a cabeçada certeira de Quaresma no rebote, para o gol que colocaria Portugal nas quartas-de-final para enfrentar a Polônia. Já estávamos entre os 8 melhores da Europa.
Para enfrentar os poloneses o técnico colocou na defesa Jose Fonte, Pepe, Cedric e novamente Eliseu (pela contusão de Raphael); e no meio de campo Renato Sanches, Adrien Silva, Willian Carvalho e João Mario. E como se fosse rotina o “senhor azar” resolveu visitar novamente Portugal com a Polônia abrindo o marcador a 2 minutos de jogo em lance parecido ao de Vieirinha no 1o jogo, mas agora com falha de Cedric que não conseguindo interceptar a bola permitiu o gol adversário. Mas Portugal desta vez era outro e com Renato Sanches em campo o gol de empate não tardou a acontecer, com Renato tabelando com Nani e concluindo para as redes ainda na 1a etapa, onde alias o arbitro deixou de assinalar pênalti claro em cima de Cristiano Ronaldo. A partida correu igual na 2a etapa toda e foi para a prorrogação onde nada mudou. Na decisão por pênaltis Cristiano foi o grande líder intimando João Moutinho a bater. Com Cristiano, Renato, João Moutinho e Nani a seleção portuguesa converteu as 4 primeiras cobranças. A Polônia converteu as 3 primeiras, mas na 4a encontrou o monstro Rui Patrício que desviou a bola com a ponta dos dedos. Quaresma então bateu a 5a para Portugal, num chute forte e no alto, e classificou a seleção das cinco quinas para enfrentar o País de Gales nas semifinais. Já estávamos entre as 4 melhores seleções do velho continente.
No jogo mais importante ate então finalmente o técnico luso ousou colocando um meio-campo mais ofensivo com Renato Sanches, Adrien Silva e João Mario; e ainda com Danilo de libero a frente da zaga composta por Bruno Alves (no lugar de Pepe contundido), Jose Fonte, Cedric e Raphael Guerreiro. Só dava Portugal, que ainda assim não conseguiu furar a retranca de Gales no 1o tempo. Contudo, aos 5 minutos do 2o tempo, após cobrança de escanteio, a sorte mudou com Cristiano subindo mais do que toda a zaga adversária e abrindo o marcador de cabeça. Com o gol Cristiano igualou Platini como maior artilheiro de todas as Eurocopas marcando seu nono tento somadas as 4 Euros que disputou. Três minutos depois, num chute mascado de Cristiano, Nani apareceu no meio do caminho para desviar a bola e fazer o 2o gol que garantiu a vitoria portuguesa e presença na final contra a França, dona da casa, que houver eliminado a Alemanha. Já estávamos entre as 2 melhores seleções europeias.
Na grande final contra a França, adversária que Portugal não vencia ha 41 anos, um terço do estádio era de torcedores portugueses que em mais de 25 mil compareceram para apoiar a seleção. Com Rui Patrício, Pepe, Jose Fonte, Cedric e Raphael; William, Renato, João Mario e Adrian Silva; Nani e Cristiano o selecionado luso tentaria calar o mundo e a critica que teimava em menosprezar nossos heróis. Mas o medo de novo bateu a nossa porta: com pouco menos de 20 minutos Cristiano Ronaldo saiu contundido após entrada violenta de Payet no joelho do madeirense. Em seu lugar entrou Quaresma. A saída do nosso líder em campo caiu como uma ducha gelada, com a França acuando a nossa seleção e com Rui Patrício fazendo milagres para garantir o empate pelo menos na primeira parte. Na etapa complementar a pressão continuou, mas com Portugal mais presente em campo. Fernando Santos sacou Renato e fez entrar Eder, dando ideia de que iria para o ataque tentar a vitoria. Também sacou Adrien e fez entrar Moutinho. No ultimo lance dos 90 minutos Giroud quase marcou, mas a trave era lusa e impediu a desgraça. Na prorrogação o jogo foi mais aberto com portugueses e franceses tentando o gol.
Eder, num lance fortuito do ataque luso, quase marcou de cabeça no 1o tempo da prorrogação, com o goleiro frances fazendo milagre. Mas aos 4 minutos do 2o tempo da prorrogação o “patinho feio” da imprensa lusa, chamado de afilhado de Fernando Santos, transformou em realidade a previsão de Cristiano Ronaldo, estimulando seus companheiros do banco durante toda a prorrogação e falando ao ouvido de Eder na entrada deste a campo: “vais fazer o gol do titulo”! E Eder fez, evoluindo com a bola e desferindo chute de fora da área no canto baixo do goleiro frances (alias gol que concorre juntamente com o de Cristiano frente a Gales e mais outros 3 ao melhor da Eurocopa em votação no site da UEFA). Somando os acréscimos foram mais 14 minutos de sofrimento que acabaram com o apito final e o grito dos 25 mil lusos das bancadas de “é campeão, é campeão”, com Portugal vencendo a França depois de 41 anos, e Fernando Santos cumprindo a promessa de que a seleção só voltaria para casa dia 11 de julho, e campeã da Europa, após as criticas que recebeu nos 2 primeiros jogos. Fernando definiu ainda em poucas palavras a estratégia da conquista lusa: “fomos simples como as pombas e prudentes como as serpentes”. Titulo vencido de forma inédita onde em 7 jogos Portugal empatou 3 no tempo normal, venceu 2 na prorrogação, 1 nos pênaltis e 1 no tempo normal. Alias Portugal soma 11 jogos consecutivos invicto em Eurocopas.
Pepe foi eleito o melhor em campo na final; Renato Sanches o melhor jovem da Eurocopa e Rui Patrício o melhor goleiro da Eurocopa, que alias, na sua seleção tem 4 portugueses que figuram ao lado de 3 alemães, 2 galeses e 2 franceses, a saber: Rui Patrício, Kimmich, Boateng, Pepe e Raphael Guerreiro; Toni Kross, Joe Allen, Ramsey e Payet; Griezmann e Cristiano Ronaldo.
A chegada da seleção a Lisboa nessa segunda-feira parou o país, com o avião da delegação chegando no espaço aéreo português escoltado por 2 caças da defesa aérea lusa, e sendo recebido no aeroporto por dois jatos de espuma, verde e vermelha, em forma de arco a simular a conquista da Torre Eiffel. O presidente português Marcelo Rebelo recebeu a todos em Belém e os homenageou com a Comenda da Ordem do Mérito. Estima-se um impacto positivo e milionário na economia portuguesa com a conquista da Euro de 609 milhões de euros, incluindo premiações, publicidade, apostas on-line, venda de jornais e TV paga.
Portugal que já tinha faturado 11 milhões ate as oitavas, recebeu mais 17 milhões com a chegada a decisão e conquista do titulo, perfazendo 28 milhões de euros faturados.
Com a conquista da Eurocopa a seleção portuguesa adquiriu também o direito de participar ano que vem na Rússia, no período de 17 de junho a 2 de julho, da Taça das Confederações ao lado da Rússia (anfitriã da Copa de 2018), Alemanha (ultima campeã mundial), Austrália (campeã da Oceania), Chile (campeão da confederação sul-americana), México (campeão da Concacaf), Nova Zelândia (campeã da OFC) e o campeão africano ainda por ser definido.
De D.Pedro a Amália Rodrigues, de Camões a Eusébio, de D.Afonso Henriques a Oto Gloria, do mais nobre português ao mais simples imigrante, nossos heróis em campo mostraram e provaram que realmente somos uma nação valente e imortal, que levantou hoje de novo o esplendor de Portugal. Enfim torcedor português, herói do mar e da bola, solte o grito contido na garganta e festeje: Portugal é Campeaaaaao!!!