Mundo Lusíada com Lusa
Neste dia 21, o primeiro-ministro considerou que os últimos oito anos foram o período de melhores relações entre órgãos de soberania e manifestou-se confiante de que o Presidente de Portugal vai adaptar-se ao novo chefe de Governo que sair das eleições.
António Costa falava na sessão de cumprimentos de Natal do Governo ao Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém – ato em que participou pela oitava e última vez enquanto primeiro-ministro.
“Por razões que conhece bem, este momento acontece dois anos mais cedo do que era previsto. É não só um momento de votos de boas festas mas também de despedida, visto que é o último Natal que passamos em conjunto nestas nossas funções de primeiro-ministro e Presidente da República”, começou logo por salientar o líder do executivo no início da sua intervenção.
António Costa, depois, repetiu a ideia que Marcelo Rebelo de Sousa lhe colou “ de ser irritantemente otimista”, mas para falar sobre o futuro quando for nomeado um novo primeiro-ministro na sequência das eleições legislativas de 10 de março.
“Sei que nunca experimentou presidir com outro primeiro-ministro. Eu já tive a oportunidade de ser primeiro-ministro com outro Presidente da República”, assinalou, numa referência a Aníbal Cavaco Silva.
Neste contexto, António Costa procurou deixar uma garantia: “O que posso assegurar é que nos habituamos, os estilos são bem diversos mas habituamo-nos”.
“Portanto, acho que seguramente vai habituar-se e vai poder correr bem”, sustentou o primeiro-ministro, dirigindo-se ao chefe de Estado.
António Costa referiu-se então aos oito anos em que foi primeiro-ministro e Marcelo Rebelo de Sousa Presidente da República, falando em momentos felizes e outros infelizes ao longo deste período.
“De qualquer modo, foram oito anos em que os portugueses, no essencial, recordarão do ponto de vista da relação institucional como talvez dos melhores períodos de relações entre órgãos de soberania. Duvido que tenha havido tantos períodos de tanta boa convivência entre órgãos de soberania, o que não quer dizer coincidência de pontos de vista, sobretudo quando somos de famílias políticas diversas”, assinalou António Costa.
O primeiro-ministro afirmou ainda que estará disponível para o Presidente depois de abandonar funções, falando por telefone ou pessoalmente, e prometeu que não irá imitar o comportamento de alguns dos seus antecessores no cargo.
Ao longo dos últimos oito anos, António Costa disse que teve a possibilidade de conhecer “ainda melhor Portugal”, razão pela qual, atualmente, está “mais confiante no futuro do país”. “E verifiquei, com grande satisfação, que esse meu otimismo irritante foi passando a ser, se não contagiante, pelo menos cativante. Foi com grande satisfação que ouvi o Presidente da República lamentar [na terça-feira] a tendência de alguns para o pessimismo”, justificou.
Perante o Presidente da República, o primeiro-ministro defendeu a tese de que, “com pessimismo, é muito difícil encarar com boa cara o mau tempo”.
“Temos de dar sempre boa cara ao mau tempo, porque o mau tempo não se evita, embora às vezes se possa prevenir. E quando o mau tempo surge temos de estar com boa cara”, insistiu António Costa, defendendo, depois, a necessidade de uma atitude de “confiança nos outros e na capacidade do país”.
Valeu a pena
O Presidente por sua vez fez um balanço dos oito anos de coabitação com António Costa, e concluiu que “valeu a pena” e que o país ganhou com o “esforço de compromisso” que fizeram.
“Houve aqui um esforço de compromisso. Eu acho que valeu a pena. Valeu a pena”, defendeu, perante António Costa, depois de fazer um resumo de cada um dos oito anos em que coincidiram nas funções de Presidente da República e primeiro-ministro, desde 2016.
“Para ser sincero sincero, sincero, eu estava convencido que ia durar mais um tempo. Eu tinha, aliás, uma fórmula: um ano e dez meses”, declarou em seguida o chefe de Estado, referindo-se ao “tempo que faltava até à realização de eleições autárquicas e, portanto, a entrada no período eleitoral”.
“Mas não quis o destino que fosse assim. E, portanto, estava eu já a pensar bater o recorde de ter um só primeiro-ministro durante dez anos – é um recorde que não consigo cumprir, mas a vida é assim, a vida tem essas notícias”, acrescentou.
Segundo o Presidente da República, “o que é fato é que foi importante para a democracia portuguesa, foi importante para a economia e para a sociedade portuguesa”.
Marcelo Rebelo de Sousa resalva que “nem tudo correu bem”, seja “por razões internacionais, por razões nacionais objetivos” ou “por erros” que ambos e outros cometeram.
“Faz parte da política ser assim. Mas eu acho que um dia, quando se observar com atenção e com distanciamento, se dirá que não é por acaso que o povo português decidiu manter por tanto tempo as suas opções e as suas escolhas relativamente ao Presidente e ao Governo”, considerou.
No fim da sessão, o Presidente da República cumprimentou um a um todos os ministros do Governo de António Costa. Estiveram todos no Palácio de Belém.
Marcelo Rebelo de Sousa começou por António Costa, dando-lhe sonoras palmadas nas costas e assinalando que o líder do executivo “tem saúde para dar e vender”.
Quando passou pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, o chefe de Estado deu um aperto de mão prolongado, comentando que o Orçamento para 2024 “é uma garantia interna e externa. A seguir, com o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, fez uma alusão indireta ao facto de ele ter sido candidato (derrotado) à liderança do PS, observando: “Tenho-o visto muito na televisão”.
Já com o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, Marcelo Rebelo de Sousa deu um aperto de mão ao estilo do ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mais vigoroso, e trocou algumas palavras com o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, que motivaram um esclarecimento por parte da titular da Presidência, Mariana Vieira da Silva.
O Presidente da República disse a Manuel Pizarro que já tinha promulgado o novo estatuto dos médicos, mas o ministro da Saúde disse-lhe que não.
Marcelo Rebelo de Sousa manifestou-se surpreendido com a resposta do ministro, Mariana Vieira da Silva ouviu e informou que esse diploma, na realidade, tal como o chefe de Estado dissera, já está mesmo promulgado.
Antes das despedidas, o Presidente da República tirou uma fotografia de família com o Governo, posicionando-se bem ao centro. António Costa comentou então: “Acho que nestes anos tem vindo da direita para a esquerda”.
Marcelo Rebelo de Sousa reagiu imediatamente, usando também o humor: “Não diga isso senhor primeiro-ministro”.