Mundo Lusíada
Com agencias
A escola de samba Beija-Flor ganhou o Carnaval do Rio de Janeiro de 2015, diante de um desfile polêmico em que a imprensa divulga ter sido patrocinado com dinheiro da Guiné Equatorial e que exaltou o país africano.
Dias antes do desfile foi noticiado que a escola recebeu um apoio de 10 milhões de reais (três milhões de euros) por parte do Governo da Guiné Equatorial, mas o presidente da instituição, Farid Abraão, afirmou que recebeu apenas contribuições pessoais do país. Em causa está o fato do governo de Teodoro Obiang, há 35 anos a comandar o país, ser suspeito de várias violações dos direitos humanos.
Com o enredo “Um Griô Conta a História: um Olhar sobre a África e o Despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a Trilha de Nossa Felicidade”, a Beija-Flor foi grande campeã do carnaval 2015 em uma disputa ponto a ponto com o Salgueiro, conseguindo somar 269,9 pontos.
No desfile, uma série de símbolos da cultura do país africano foi mostrada na Marquês de Sapucaí, como os griôs, anciãos da África Ocidental que tinham a responsabilidade de estudar e reproduzir os saberes do povo. A colonização europeia e a escravidão foram outros temas abordados pela escola, que encerrou destacando os laços culturais entre a Guiné Equatorial e o Brasil.
O carnavalesco Fran Sérgio, integrante da comissão de carnaval da escola, afirma que a única ajuda de custo que receberam foi nas viagens para pesquisar sobre a Guiné Equatorial. “A Beija-Flor está exaltando um grande povo que merece respeito”, disse ele, que afirmou ter viajado três vezes ao país africano.
Segundo Fran Sérgio, empresas brasileiras que atuam na Guiné Equatorial doaram para o enredo. “Elas queriam mostrar a Guiné como a joia da África”, disse o carnavalesco, que classificou o desfile como impecável. “A gente mostrou o samba no pé, e a tradição do samba para ganhar esse carnaval”, comemorou.
A embaixada da Guiné Equatorial no Brasil negou que o governo tenha financiado o desfile. “Foram financiadores culturais. Um deu 50 euros, outro deu 100 euros. Não temos como saber quanto cada um deu, o valor exato. O governo não tem nada a ver com isso. Somente pessoas do meio cultural”, disse o embaixador Benigno Pedro Matute Tang, ao jornal Estado. “O que a imprensa divulgou é uma soma muito excessiva. Se quiserem, podemos verificar e fazer a estimativa em detalhes em vez de falar no ar”.
Uma comitiva de 40 autoridades do país africano esteve na Marquês de Sapucaí para a segunda noite de desfiles, incluindo a presença do filho do presidente, divulgado em fotos pela imprensa brasileira. O embaixador da Guiné Equatorial no Brasil também desfilou em um dos carros alegóricos. Antes do Rio, a comitiva se hospedou na Bahia.
Também o governo da Guiné Equatorial divulgou uma mensagem, na manhã do dia 19, reforçando que a iniciativa partiu de empresas brasileiras que operam no país e que são falsas as manchetes no Brasil que relatam a presença do presidente na Sapucaí, dizendo que o mesmo se encontrava em visita oficial a Camarões. O texto menciona um jornal internacional que teria divulgado uma fotografia do vice-ministro de governo, José Mba Obama, como sendo do presidente, assistindo ao desfile no Rio.
SP: Enredo sobre Moçambique fica em 7º lugar
A escola de samba Nenê de Vila Matilde, que desfilou um enredo sobre Moçambique, ficou em sétimo lugar no Carnaval de São Paulo.
A campeã foi a Vai-Vai, com o enredo “Simplesmente Elis – A Fábula de uma voz na transversal do tempo”, sobre a cantora brasileira Elis Regina. Nove critérios foram analisados pelos jurados para a atribuição de notas, entre eles samba-enredo, bateria, fantasia, harmonia e evolução.
A Nenê de Vila Matilde, da zona leste de São Paulo, desfilou o enredo “Moçambique – A Lendária Terra do Baobá Sagrado”, baseado em símbolos do país africano e na lenda da árvore. A escola, que estava entre a terceira e a quarta posições durante o apuramento, perdeu pontos no critério evolução, que avalia a progressão dos foliões pelo sambódromo.
O desfile da escola foi composto por quatro partes, a primeira delas com alas sobre a formação de Moçambique, com povos de várias regiões africanas; a segunda sobre as invasões e a colonização; a terceira sobre os costumes e tradições culturais; e a quarta com uma visão otimista de futuro, incluindo a agricultura e o turismo. O baobá, uma árvore de grande porte também chamada de imbondeiro, foi representada no primeiro carro alegórico, sob a escultura de uma águia, símbolo da escola.