Descoberta de petróleo em Moçambique traz esperança e preocupação

Da RedaçãoCom ABr

Depois do anúncio da descoberta de petróleo na costa de Moçambique, especialistas aguardam mais informações para avaliar melhor o impacto que a notícia pode trazer ao país. O Ministério dos Recursos Minerais confirmou, em 17 de agosto, que a empresa norte-americana Anadarko Petroleum Corporation detectou a existência de hidrocarbonetos na Bacia do Rio Rovuma. Segundo a ministra Esperança Bias, ainda não foi apurado se a descoberta tem viabilidade comercial.

Há alguns anos já se tem a informação da presença de gás na região. Se os estudos continuaram, diz o engenheiro petroquímico moçambicano Inácio Bento, é porque a probabilidade de extração comercial de petróleo é grande. Mas ele lembra que a vizinha África do Sul já passou pela decepção de encontrar petróleo e não conseguir explorá-lo. "Levar esse petróleo do mar para a terra requer investimentos extraordinários. Se o petróleo for pouco, não vale a pena", explicou o engenheiro.

O óleo está a mais de 5 mil metros de profundidade, equivalente à da camada do pré-sal na costa brasileira. Foi localizado a 30 quilômetros (km) da costa do Oceano Índico, na província de Cabo Delgado, que faz fronteira com a Tanzânia. A descoberta ocorreu na terceira perfuração feita pela empresa. No primeiro furo foi detectada, em maio, a presença de gás natural. Mais seis perfurações ainda devem ser feitas. Para o economista Carlos Nuno Castel-Branco, a estimativa é que as reservas, se comerciais, podem gerar entre U$ 300 e 360 bilhões.

Mas existem impactos que não se restringem aos campos econômico e ecológico. "Em Angola, foi quase que devastador" lembrou a chefe do Departamento de Sociologia da Universidade Eduardo Mondlane, a brasileira Nair Teles. Segundo ela, as consequências sociais e econômicas da descoberta de grandes reservas no início deste século em Angola foram "muito violentas".

Angola hoje só perde para a Nigéria em produção de petróleo na África. O óleo responde por 90% das receitas de exportação. Mas a indústria petrolífera emprega somente 1% da mão de obra do país, cerca de 60% da população ainda dependem da agricultura de subsistência.

Os ganhos do petróleo atraíram investidores, mas transformaram Luanda em uma das cidades mais caras do mundo. Como a guerra civil acabou há menos de dez anos, as ofertas habitacionais e a infraestrutura ainda são restritas, o que eleva demais os custos de aluguel no centro. Para reduzir o déficit habitacional, o governo de Angola lançou no ano passado um projeto para construir um milhão de casas até 2012.

Um termômetro do interesse crescente na região é o fluxo de imigrantes portugueses. Colônia lusitana até 1975, Angola sempre exportou mão de obra para Lisboa. Há três anos, o fluxo se inverteu. Já há quase três vezes mais portugueses vivendo em Angola (100 mil oficialmente) do que angolanos morando legalmente em Portugal (34 mil).

Nair Teles diz que Moçambique é diferente de Angola, mas os efeitos vividos lá servem de parâmetro para os problemas que podem surgir. "É preciso esclarecer que o país não vai ficar rico no dia seguinte, nem que o nível econômico e social vai mudar de uma hora para outra."

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