Depois de 40 anos de carreira, o Brasil descobre a fadista Marina Mota

Por Vanessa Sene
Mundo Lusíada

 

Atriz e fadista Marina Mota, na Casa de Portugal de Sâo Paulo. Foto: Mundo Lusíada

 

Ela é portuguesa, atriz, e fadista também. Conhecida do público brasileiro pela sua atuação na novela “Aquele Beijo” da TV Globo, fez um sucesso que não esperava no Brasil. E agora, Marina Mota faz sucesso, entre os brasileiros, como fadista.

Após uma apresentação no Cais do Porto, algo assim entre amigos, Marina Mota foi novamente convidada pela comunidade portuguesa para uma apresentação, da sua vertente cantora, no tradicional jantar de 77 anos da Casa de Portugal de São Paulo, no último dia 13 de julho.

“Minha carreira começou como cantora, minha carteira profissional é de fadista, não de atriz. O meu primeiro disco foi gravado em 73, há quase 40 anos, e o teatro de revista só apareceu na minha vida em 1982” conta Marina, que simpática e carismática, recebeu o Mundo Lusíada mais uma vez, para uma conversa antes do show em seu camarim.

“Eu costumo dizer que sou fadista mesmo calada, porque fado para mim é um estado de alma. Gosto de ouvir, gosto de ficar brincando, mesmo quando não estou a cantar, sou fadista d’alma” diz ela citando que a representação veio com convites posteriores, e foi tudo acontecendo.

“O gênero que eu faço em Portugal, o teatro de revista, é um gênero musical onde implica eu cantar. É uma área que me faz muito feliz porque eu posso exercer as duas carreiras que gosto, representar e cantar. Mas são coisas diferentes, representar nós vestimos uma personagem e somos outras pessoas, e fadista sou eu mesma”.

A cantora veio para São Paulo para participar do evento, a convite da diretoria da Casa de Portugal. “A direção teve a generosidade de me convidar e é um privilégio de fato participar do aniversário que é uma data muito importante para a casa e para a comunidade. E também através da Teresa Morgado que me conhece desde a primeira vez que vim cantar em São Paulo, imagine, em 79” diz a cantora que também esteve no Brasil para participar das gravações do programa do Jô Soares, onde foi entrevistada e cantou ao lado de Roberto Leal, e dos músicos do Trio Ricardo Araújo.

No repertório da noite, na Casa de Portugal, um pouco de tudo. “Os meus fados de repertório que foram escritos para mim são muito antigos. Desde que entrei no teatro de revista deixei de fazer uma carreira com regularidade de cantora. Eu trago algumas coisas que são clássicas no fado, e outras que são menos conhecidas, mas o importante é que acima de tudo trago meu estado d’alma, é com ele que eu canto”.

A fadista elogiou ainda os músicos que são residentes no Brasil e a acompanharam no show. “É muito bom saber que no Brasil, tem músicos que são descendentes, alguns nem sequer são, mas gostam de fado. Estou aqui para partilharmos um bocadinho dos dois países” diz Marina completando ser “um privilégio” tocar com os músicos brasileiros e ainda com o português Mario Rui. “Acima de tudo estamos nos divertimos, fazendo nosso trabalho, subindo ao palco e dando nosso melhor”.

Segundo Marina Mota, ela que conhecia o Brasil enquanto fadista, já viajou diversas vezes pelo país, e somente agora perdeu seu anonimato, como atriz. E não esperava ter tantos fãs no Brasil. “Foi apenas um trabalho, a duração da novela de seis ou sete meses é muito pouco para mostrarmos o que podemos eventualmente fazer. E senti muito acarinhada pelo público brasileiro, e ver nosso trabalho reconhecido em tão pouco tempo é muito bom, principalmente quando já se tem 40 anos de carreira, e me senti quase que sendo uma estreante porque quase ninguém me conhecia aqui”.

Marina cita que, como todas as suas vertentes, seu lado cantora sempre faz por amor. “Não escolhi nem uma profissão nem outra, estou há tantos anos porque a profissão me escolheu. Em qualquer país do mundo, ter uma carreira e continuar numa ativa ao fim de 40 anos é porque alguma coisa acontece” afirma. “Mas a surpresa do espetáculo é quando entramos no palco não sabemos exatamente qual expectativa as pessoas criaram a nosso respeito. Só sei o que eu posso fazer, mas essa troca de energia, as pessoas querendo ouvir e eu querendo cantar, ao final do espetáculos vamos ver se é isso mesmo e se valeu a pena”.

Ela, que reside em Portugal, aproveitou sua vinda para “dar um pulinho ao Rio, para dar um abraço nos amigos que lá ficaram”, e no dia 23 de julho retornou a São Paulo para gravação no programa da TV Globo, regressando a Portugal em 25 de julho. Marina Mota começa agora as gravações de uma nova novela na TVi em Portugal, e tentará conciliar com suas apresentações na casa de fados Marques da Sé, em Alfama, Lisboa.

Entrevista na TV brasileira

No programa transmitido na sexta-feira, dia 27, a cantora e atriz portuguesa foi uma das entrevistas pelo Jô Soares, na televisão brasileira. Ao público, falou das diferenças nas expressões no Brasil e Portugal, e da sua carreira iniciada no teatro de revista, explicando a atuação que necessita de diversos gêneros, como um teatro musical. No encerramento do programa, ao lado de Roberto Leal, Marina Mota cantou “Uma casa portuguesa”.

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