Delegação africana chega ao Brasil em busca de apoio no controle de pragas

Sete técnicos em saneamento rural de Moçambique visitaram a Feira SemiáridoShow no dia 29 de outubro, em Pernambuco. Foto: Embrapa
ARQUIVO Técnicos de Moçambique em Pernambuco. Foto: Embrapa

Da Redação

Autoridades de alto nível do governo de 11 países da África desembarcaram no Brasil esta semana para cumprir uma agenda emergencial que tem mobilizado agências de cooperação, instituições de pesquisa e organismos internacionais no controle de uma praga na agricultura, a Spodoptera frugiperda, ou a lagarta-do-cartucho.

Entre os dias 26 e 29 de março, a delegação estrangeira está envolvida em reuniões, visitas a campos experimentais e propriedades rurais onde já são adotadas as tecnologias de controle da praga.

Na manhã do dia 26, a comitiva foi recebida no Palácio do Itamaraty, em Brasília, por representantes da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), responsáveis pela coordenação da iniciativa de apoio técnico-científico às nações africanas, em especial da região subsaariana, atualmente em estado de alerta.

O presidente da Embrapa, Maurício Lopes, participou da abertura da programação oficial e destacou o modelo de agricultura desenvolvido no Brasil, baseado principalmente em ciência, e chamou a atenção sobre a importância do compartilhamento de conhecimentos e do trabalho desenvolvido em rede.

Segundo ele, quatro décadas de pesquisa renderam um “arsenal” de possibilidades para o controle da lagarta do cartucho. “Hoje ela não é mais um problema, porque dispomos de um conjunto de técnicas, como o manejo integrado, que permite a convivência com a lagarta, mantendo o nível de danos sob controle”, disse.

Lopes falou sobre a orientação que será oferecida pelos pesquisadores brasileiros, a partir da qual cada país africano poderá adaptar as tecnologias de acordo com as realidades locais.

O caso da lagarta Helicoverpa armigera, enfrentado pelo Brasil em 2010, foi lembrado pelo secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Luís Rangel. “Naquele momento, era necessário sermos ágeis e a comunicação de risco foi fundamental neste processo, tendo como base a ciência”, afirmou. “O Brasil aprendeu muito no momento de crise”.

À tarde, as autoridades africanas foram recebidas na sede da Embrapa pelo secretário de Inteligência e Relações Estratégicas (Sire), Renato Rodrigues, para a uma série de palestras técnicas, entre as quais a do chefe da Embrapa Milho e Sorgo, de Sete Lagoas (MG), Antônio Álvaro Purcino, que antecipou as tecnologias que serão vistas in loco pela delegação, como controle químico, o uso de óleos vegetais, controle cultural e controle biológico.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), no início de 2018, apenas 10 dos 54 países africanos ainda não tinham sido atingidos pela praga em especial na cultura do milho. No continente, a praga foi detectada pela primeira vez há três anos, na Costa Oeste. Ainda de acordo com estimativa da FAO, a cada ano, caso não sejam controladas, as lagartas podem destruir entre oito e 21 milhões de toneladas de milho, que representam perdas entre US$ 2,5 bilhões e US$ 6,5 bilhões para produtores.

De acordo com a comissária para Economia Rural e Agricultura, da União Africana (AU), Josefa Sacko, de Angola, esta é uma oportunidade importante de conhecer a experiência brasileira e definir as políticas que devem ser adotadas nos países africanos. “Sabemos que será difícil, mas a partir do exemplo de gestão adotado pelo Brasil no combate à lagarta-do-cartucho, podemos transformar esta primeira iniciativa conjunta em uma oportunidade de superar os desafios e encontrar formas de reverter a vulnerabilidade africana”, disse ela, referindo-se ao cenário da segurança alimentar. Sacko lembrou o compromisso previsto nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, de erradicação da fome até 2025, como consequência do sucesso das tecnologias que deverão ser adotadas pelos produtores em suas propriedades.

A mesma expectativa é compartilhada pelo diretor nacional de Agricultura de Moçambique, Mohamed Valá, que espera deixar o Brasil com subsídios suficientes para encaminhar a elaboração de um plano de ação especial para o controle da lagarta em seu país.

“Temos que ter estratégias de curto, médio e longo prazo, pautadas em ações transversais que garantam a preservação da segurança alimentar da população”, comentou. De acordo com o representante do governo moçambicano, atualmente 90% da população rural do país têm o milho como base alimentar. “Felizmente, o impacto dos prejuízos causados pela lagarta-do-cartucho está em torno de 8%”, disse ele, referindo-se ao período de chuvas dos últimos 12 meses que acabou contribuindo com o controle da praga graças às condições climáticas.

Nos dias 27 e 28, a delegação estrangeira está no município mineiro de Sete Lagoas, na Embrapa Milho e Sorgo, para visitas a propriedades rurais na região, além de participação em palestras técnicas na vitrine de tecnologias da Unidade.

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