Defesa Nacional mobilizou 140 leitos num dia, mais que todo o setor privado em Portugal

"Hospital Porto", montado para retaguarda aos Centros Hospitalares de São João e Universitário do Porto (Santo António), para o tratamento de doentes com a covid-19. Preparado para acolher mais de 300 camas, em diversas "enfermarias", instaladas pelo Exército Português e pela Câmara Municipal do Porto. FERNANDO VELUDO/LUSA

Mundo Lusíada
Com Lusa

O primeiro-ministro, António Costa, revelou neste dia 19 que o Ministério da Defesa Nacional mobilizou mais 140 leitos para doentes com covid-19, mais do que aquelas disponibilizadas por todo o setor privado, rejeitando assim qualquer “complexo ideológico”.

“Só hoje, o ministro da Defesa Nacional conseguiu mobilizar mais 140 camas [para doentes covid] e 10 camas de cuidados continuados integrados, o que significa que são mais que aquelas que os privados disponibilizaram no seu conjunto para combater a covid-19”, afirmou.

Este número foi revelado por António Costa já na segunda parte do primeiro debate do ano com sobre política geral, na Assembleia da República, depois de ter sido acusado por um deputado do CDS-PP de sobrepor uma “questão aparentemente ideológica a tudo o resto”.

Em resposta, o primeiro-ministro rejeitou essa ideia e retorquiu: “não venha com fantasmas sobre ideologia”.

“O que é que quer que lhe diga? A realidade é esta e não há da nossa parte nenhum complexo. Haja mais disponibilidade [do setor privado], venham eles, são muitíssimo bem-vindos”, afirmou.

Ainda assim, António Costa considerou que os hospitais privados têm “disponibilizado aquilo que têm podido disponibilizar”, e sublinhou, ainda a propósito da acusação de complexo ideológico, que respeita “a sua lógica própria de funcionamento”.

Na sua interpelação ao primeiro-ministro, o deputado centrista Telmo Correia considerou que o executivo de António Costa não soube preparar a época do outono-inverno, deixando de fora o setor privado do plano para combater a pandemia da covid-19.

“O Governo assumiu mais do que uma vez que o SNS (Serviço Nacional de Saúde) era autossuficiente, quando efetivamente não era, e só em outubro começaram a procurar à séria o apoio dos privados”, criticou o deputado.

Esta questão já tinha sido está em cima da mesa logo na primeira parte do debate, quando a a coordenadora do Bloco de Esquerda voltou a apelar ao primeiro-ministro para que use a requisição civil para ajudar o SNS.

“Quando os privados depois de meses de negociação não são capazes de por a disponibilidade do estado sequer 10% da sua capacidade, se não é agora que os requisitamos, quando? Quando temos hospitais de campanha do SNS que não podem abrir porque não têm profissionais suficientes, mas há profissionais e instalações no privado e não os requisitamos agora, senão agora, quando? Quando?”, questionou a deputada.

Na intervenção de Telmo Correia, o deputado do CDS-PP criticou também esta posição, questionado o que é que o Governo vai requisitar. “Os privados também estão cheios, o que é preciso é contratualizar camas que possam ainda ser disponibilizadas”, argumentou.

Escolas

Cobrado pelos partidos pela decisão de manter escolas abertas, António Costa salientou que “o mais fácil para um decisor político era mesmo encerrar as escolas”, advogando que “o custo não é imediato” mas será pago “daqui a 10, daqui a 20 anos”.

“O que é responsável politicamente é batermo-nos por manter as escolas abertas, e é por isso que vamos fazer tudo para poder manter as escolas abertas”, assegurou, notando que não há consenso entre os especialistas sobre se devem continuar as aulas presenciais.

No que toca às infecções em contexto escolar, o chefe de Governo indicou que, de 5.400 escolas públicas, “só 13 estão encerradas por surtos”, e de mais de um milhão de alunos, “39 mil estão confinados”, salientando que “a vigilância médica é feita”. Costa declarou que por exemplo, em cado da estirpe inglesa se tornar dominante no país, “muito provavelmente vamos ter mesmo de fechar as escolas”.

Associações de pais de escolas portuguesas mostram-se divididas e sem certezas sobre a necessidade de encerrar ou não os estabelecimentos, admitindo que há benefícios com relação a pandemia mas também dificuldades e riscos na decisão de voltar ao ensino à distância.

Neste dia 20, quarta-feira, começa a campanha de testagem rápida nas escolas, através de testes de antigênio no público e privado nos concelhos de risco extremamente elevado, segundo comunicado conjunto dos ministérios da Educação e Saúde.

Nesta terça-feira, Portugal contabilizou 218 mortes, novamente um novo máximo de óbitos em 24 horas, relacionados com a covid-19, e 10.455 novos casos de infecção pelo novo coronavírus, segundo a Direção-Geral da Saúde.

Costa ainda revelou que a Segurança Social já apoiou, nas diversas modalidades, mais de dois milhões de pessoas afetadas pela pandemia.

“Desde o início desta crise, a Segurança Social já apoiou mais de dois milhões de 400 mil pessoas nas suas mais diversas modalidades”, afirmou o primeiro-ministro no debate sobre política geral que decorre esta tarde na Assembleia da República.

No balanço, o chefe de Governo referiu igualmente que já foram apoiadas “mais de 21 mil pessoas chamadas trabalhadores informais”.

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