Da Redação com Lusa
Nesta terça-feira, o empresário David Neeleman disse que o Governo português tinha uma “obsessão pela nacionalização” da TAP, acusando ainda o executivo de “inabilidade política” e “má gestão”.
O empresário, que respondeu a 80 perguntas enviadas pela comissão parlamentar de inquérito à TAP, documento a que a Lusa teve acesso, deixou críticas à forma como os governantes têm gerido a TAP.
“Obsessão pela nacionalização, inabilidade política ou má gestão do Governo, só assim se pode compreender, por exemplo, que o Ministro das Infraestruturas de então [Pedro Nuno Santos], num debate no parlamento português, tenha dito, com grande vigor, que a TAP estava falida e que não podia recorrer aos auxílios covid, o que naturalmente foi muito prejudicial a qualquer pedido que se fizesse junto da Comissão Europeia”, destacou, no documento.
Questionado sobre quando percebeu que o Governo ia avançar para a nacionalização disse: “tornou-se mais óbvio quando não responderam em fevereiro, março e abril de 2020 às solicitações de apoio que a TAP fez através da Comissão Executiva. Depois tivemos declarações públicas de altos governantes a denegrirem a nossa gestão e a empresa e aí ficou claro que havia uma agenda que ia nesse sentido”.
O empresário disse ainda que mantinha a posição que assumiu “desde o primeiro dia”. Se “tivessem deixado a nossa Comissão Executiva acompanhar e intervir nas negociações com a Comissão Europeia, teria sido possível obter outro resultado”, assegurou.
O antigo acionista da TAP disse que “não havia alinhamento possível”, visto que o Estado queria “ser acionista de controlo, estar presente na gestão e esse não era o caminho” que Neeleman “julgava necessário na TAP”.
O empresário considerou que a companhia “precisava de continuar com uma administração experiente, independente e livre para perseguir os melhores interesses da TAP, sem uma espada política e ideológica”.
Ainda assim, confirmou, “a Atlantic Gateway não dispunha de meios econômicos para aportar em tão curto espaço de tempo a liquidez e apoios de que a TAP precisava”.
Neeleman fez ainda uma avaliação das perspectivas para a transportadora.
“Acredito que a TAP isolada vai ter dificuldade em sobreviver”, assegurou, indicando que irão surgir oportunidades, “mas, para aproveitá-las é preciso um grande conhecimento do mercado e uma gestão independente e de atuação rápida, que dificilmente existirá sob a égide do Estado”. Neste contexto, para o ex-acionista, “será melhor para o futuro da TAP que o comprador seja um grupo forte do setor da aviação e não tanto um comprador financeiro”.
Acerca da polêmica renovação da frota da TAP, que incluiu a anulação de um contrato para a compra de 12 aviões A350, Neeleman garantiu que informou o Governo e a Parpública de todos os trâmites.
“Não consigo imaginar como podia ter sido dada mais informação sobre o tema. Houve absoluta transparência e é chocante a negligência com que alguns membros do Governo de então referem que não tiveram conhecimento deste tema”, lamentou.
“Eu não fiz um mau negócio para a TAP, não prejudiquei a empresa e jamais – como já ouvi dizer e escrever – ‘recebi luvas’ ou comissões pelo negócio com a Airbus. Tal suspeita é insultuosa e inaceitável”, garantiu.
Neeleman rejeitou que os chamados ‘fundos Airbus’ tenham sido usados para comprar ações da transportadora aérea, garantindo mesmo que ajudaram a salvar a companhia “de uma insolvência imediata”.
Por fim, sobre os trabalhadores, o empresário acredita que “os sindicatos estavam satisfeitos com a gestão privada”.
“Não tivemos sequer uma greve no período da nossa gestão, a TAP cresceu, rejuvenesceu e reorganizou-se de uma forma extraordinária”, rematou.
Saída
O antigo acionista da TAP, disse que negociou a saída da transportadora quando entendeu “que o Governo queria o controlo da empresa a todo o custo”, assegurando que os 55 milhões de euros recebidos não representaram qualquer indenização.
“Não sendo jurista gostava de clarificar que não recebi indenização de qualquer ordem”, destacou, assegurando que os 55 milhões de euros que têm sido referidos “foram o preço negociado e pago pelo Estado à Atlantic Gateway por uma participação no capital da TAP SGPS, precisamente porque o Governo forçou uma saída”, que disse que não desejava e que foi “imposta”.
“Aceitei negociar a minha saída a partir do momento em que entendi que o Governo queria o controlo da empresa a todo o custo, justificando-se com a pandemia”, explicou.
David Neeleman assegurou que o Governo recusou “todas as demais hipóteses de escolha de outro caminho”.
O empresário disse ainda que o consórcio Atlantic Gateway “celebrou um acordo parassocial que lhe atribuía o direito a exercer uma opção de venda caso ocorressem determinados eventos”.
“É provável que sem o acordo para a minha saída se tivesse iniciado um litígio, desde logo porque a Parpública já tinha violado o acordo parassocial quando impediu o IPO e porque tínhamos proteções contratuais caso a empresa voltasse a ser pública”, acrescentou.