Especialistas debatem no 9º Fórum Internacional de Patrimônio Arquitetônico Brasil-Portugal

Foto UEMA

Mundo Lusíada

No último dia 14, aconteceu a abertura da 9ª edição do Fórum Internacional de Patrimônio Arquitetônico – FIPA, evento celebrado anualmente entre Brasil e Portugal, no Teatro da Cidade em São Luís. A capital maranhense é a primeira cidade do Nordeste brasileiro a sediar o evento.

A Universidade Estadual do Maranhão (Uema) sediou o evento até sexta-feira (16), no prédio do Curso de Arquitetura e Urbanismo que fica na Rua da Estrela – Centro Histórico de São Luís. Além da Uema, o evento contou com a participação de outras instituições, entre elas: Universidade de Aveiro, Prefeitura de São Luís, Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil e Maranhão, Ufma.

“É uma oportunidade para troca de experiências, para que sementes sejam plantadas e pontes sejam construídas. Nós temos que valorizar cada vez mais a riqueza que temos em São Luís. Espero que vocês possam aproveitar adquirir conhecimento e usar esse conhecimento para melhorar a nossa vida no dia a dia” destacou reitor da Uema, Walter Canales.

Eduardo Braide, prefeito de São Luís, disse: “A iniciativa de São Luís sediar o Fórum se deu em razão de termos um centro histórico que é patrimônio mundial. A ideia era justamente trazer para São Luís um evento dessa magnitude, que durante esses dias reúne os maiores especialistas em patrimônio arquitetônico do mundo acadêmico, técnico e profissional. São Luís é uma fonte preciosa de conhecimento, mas, além disso, os ensinamentos que vocês oferecerão para nossa cidade, a troca de experiências, as discussões colaboraram para termos uma sociedade mais humana”.

A Coordenadora Geral FIPA BRASIL, Maria Rita Amoroso mencionou a oportunidade de apresentar este Patrimônio, muitas vezes desconhecido pela sociedade brasileira ou não valorizado em sua importância histórica. “Nesta edição do FIPA, resolvemos abrir espaço para uma exposição inédita sobre Patrimônio Cultural do Maranhão a fim de fomentar a valorização de seu patrimônio estadual, e mais uma vez, nos manter fiel a proposta de inovar na área de Patrimônio, através de um evento único capaz de agregar as técnicas e soluções mais recentes da arquitetura no Brasil, em Portugal e em todo o mundo. O intuito é suprir demandas sempre com um olhar contemporâneo em prol de um futuro melhor, mas nunca desprezando o passado que nos une”, finalizou Maria Rita Amoroso.

No primeiro dia, o Presidente do Conselho Diretivo Nacional da Ordem dos Arquitetos, o Arquiteto Português, Gonçalo Byrne, ministrou a palestra magna intitulada “Vulnerabilidade e Resiliência do Patrimônio Arquitetônico Construído no Brasil”. Durante sua palestra, Gonçalo Byrne enfatizou que o patrimônio edificado é altamente vulnerável. “Se não for feito nada para interromper esse ciclo, ele gradualmente perde sua vitalidade e vai se transformando em ruínas”, disse. Ele enfatizou que a resiliência é essencial para enfrentar os desafios climáticos e econômicos, “Restaurar, resgatar, ressignificar e refundar. Não se trata apenas de resistência, mas da capacidade de renascer das cinzas e se reconstruir”.

O arquiteto português também apresentou três projetos de seu escritório, que envolviam a reabilitação de quarteirões da Arquitetura Pombalina, datados da época da reconstrução de Lisboa. Além disso, ele mencionou o trabalho do renomado arquiteto português Álvaro Siza Vieira, vencedor do Prêmio Pritzker, que coordenou o Gabinete de Reabilitação em Portugal, contribuindo para a preservação e revitalização do patrimônio arquitetônico no país.

Deixou também mensagem de otimismo, ressaltando que a crise climática exigirá uma transição para uma economia mais circular, buscando soluções que respondam aos desafios ambientais e econômicos. “Não há outra saída para a crise climática, ela terá de ser possível. Para enfrentar os desafios da sustentabilidade ambiental e econômica, teremos que transitar para uma economia mais circular. E isso tem tudo a ver com a questão do patrimônio: restaurar, resgatar, ressignificar e refundar”.

Com o tema “Diversidade em Diálogos Permanentes”, o FIPA fomentou a discussão de demandas sustentáveis, de valorização e proteção do patrimônio arquitetônico local e global por meio de boas práticas, com a mobilização de recursos no campo da arquitetura em sintonia com o patrimônio cultural, suas misturas e identidades atravessando diálogos com as comunidades técnica, científica e institucional.

O evento contou com uma vasta programação, entre palestras, oficinas, minicursos e atrações culturais, dividida em quatro eixos temáticos: Ações de conservação e salvaguarda, boas práticas para uma cidade sustentável, povos que se unem e diálogos em torno da arquitetura.

Coordenador do do FIPA Portugal e professor da Universidade de Aveiro, Aníbal Costa enfatizou a dificuldade de colocar o conhecimento acadêmico em prática, em aproximar a teoria da realidade. “É difícil colocar esse conhecimento na utilização do dia a dia. Essa é uma dificuldade que existe em Portugal e no Brasil”, afirmou, reforçando a necessidade de unir esforços em eventos como o FIPA, para conservar e salvaguardar o patrimônio histórico.

O FIPA foi idealizado pelas arquitetas Maria Rita Amoroso, brasileira, e Alice Tavares, portuguesa, com o objetivo de fortalecer a relação entre Portugal e Brasil no campo do patrimônio, discutindo técnicas construtivas e promovendo a valorização, conservação e salvaguarda de bens materiais e imateriais nos dois países. “Portugal e Brasil têm um legado comum e gostaríamos muito de fazer convergir universidades e toda a comunidade acadêmica, comunidade técnica, e as instituições, para preservar o patrimônio. Temos muito a aprender uns com os outros, com as boas práticas que podemos promover em conjunto. Também observamos o que os bons projetos que cada país tem e partilharmos essas experiências e o legado que queremos deixar para as gerações futuras”, declarou Alice.

Participaram da abertura do evento, o professor da Universidade de Aveiro e coordenador-geral do Fipa Portugal, Aníbal Costa; o presidente da União Internacional de Arquitetos (UIA), Jose Luís Cortés; presidente do Conselho de Arquitetura do Brasil (CAU-BR), Nádia Somekh; vice-presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Rafael Passos; presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Leandro Grass; diretor-geral da Direção Geral de Patrimônio Cultural de Portugal, João Carlos; reitor da Universidade Estadual do Maranhão (Uema), Walter Canalles; coordenador cultural da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), Rui Lourido; presidente do Conselho Internacional Arquitetura Língua Portuguesa (CIALP), Rui Leão; diretor da Organização das Cidades Brasileiras Patrimônio Mundial (OCBPM), Mário Augusto Ribas Nascimento; doutor Honoris Causa pela Faculdade de Arquitectura da UTL e pela Universidade de Alghero, Gonçalo Byrne.

Homenagem

O segundo dia do evento teve roda de conversas sobre experiências práticas de preservação do patrimônio em diferentes regiões do país. A mesa “Boas Práticas: Projetos de reabilitação/conservação e salvaguarda para uma cidade sustentável e segura” também abriu espaço para uma revisão teórica dos documentos legais e reflexões sobre abordagens contemporâneas a respeito da questão patrimonial.

E houve também uma emocionante homenagem prestada à arquiteta e urbanista Dora Alcântara, reconhecida guardiã do Patrimônio Histórico Brasileiro e pesquisadora da azulejaria luso-brasileira. Dora, que completou 92 anos neste dia, tem uma atuação incansável na defesa da preservação do patrimônio cultural e do ensino de Arquitetura e Urbanismo. Foi Diretora de Tombamento e Conservação do Iphan, entre outros cargos, professora da da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e escreveu livros e pesquisas sobre azulejos luso-brasileiros, com prêmios no Brasil e no exterior.

Na homenagem, Dora expressou sua gratidão aos arquitetos e urbanistas presentes e ressaltou a importância dos debates promovidos pelo CAU, IAB e Iphan. “Esses momentos de discussão são de extrema importância. Todo o ensino, desde a base, deve incutir a ideia de patrimônio”, afirmou. “Precisamos amar mais nosso país, olhar para nós mesmos a partir de uma visão global. As coisas antigas nos dão raízes fortes e vibrantes para construir o futuro”.

Conselheiro do CAU com a arquiteta e urbanista Dora Alcântara (à frente). Foto CAU/BR

Em 2020, Dora Alcântara recebeu o Colar de Ouro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), a maior comenda da instituição, pela sua contribuição à arquitetura brasileira e à preservação do patrimônio cultural.

Também o presidente do IPHAN Leandro Grass enfatizou a importância do diálogo entre nações irmãs, como Brasil e Portugal, para promover a cooperação e troca de conhecimentos sobre patrimônio. Falou ainda do interesse do Governo em estabelecer parcerias internacionais, especialmente com governos africanos, reconhecendo que o Brasil também possui uma ligação profunda com a história e o patrimônio cultural da África.

No fim das apresentações, o conselheiro do CAU Brasil Ricardo Mascarello destacou que só através da união de esforços será possível garantir a preservação e a valorização do patrimônio histórico. Este II Seminário de Patrimônio Histórico foi mais um passo importante nessa jornada, impulsionando ações e inspirando a proteção e revitalização de nossos centros históricos.

A 9ª edição do Fipa reuniu 32 palestrantes, dezenas de representantes de prefeituras de outros estados, 100 pessoas do Conselho de Arquitetura Urbanismo do Brasil (CAU-BR), chegando a um total de mais de 600 participantes, segundo o prefeitura de São Luís.

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