Por Eduardo Neves Moreira
Acabo de receber uma notícia que me deixou seriamente preocupado e bastante abalado: “A confirmar-se uma diretiva do Ministério da Educação e Cultura/MEC, aprovada no início deste ano, a literatura portuguesa deixará de ser obrigatória no ensino médio brasileiro”.
Quando, mais do que nunca, se promovem atividades em todo o território nacional, de reconhecimento do valor da literatura portuguesa para o nosso próprio engrandecimento como povo e como nação, quando inúmeros estudantes e professores deslocam-se do Brasil para Portugal e vice-versa procurando aprimorar seus conhecimentos em língua, cultura e literatura portuguesas, alguns “mestres“, certamente vendidos a teorias do chamado bolivarismo, pretendem proibir o ensino da literatura portuguesa em todo o ensino médio nacional.
Foi por iniciativa do Brasil, que se constituiu a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP, que também sediou a sua primeira reunião e que se transformou numa realidade de valor inestimável para a integração de seus povos, tendo por elo maior de sua existência, a unidade linguística, a lusofonia. Da mesma forma, promoveu-se a reforma ortográfica, igualmente por iniciativa do Brasil e que objetiva facilitar a integração dos povos de língua portuguesa, providência que torna viável e facilita o reconhecimento da língua camoniana como uma das línguas oficiais da ONU. Talvez mereça até estudos a implantação da cadeira de literatura lusófona, contemplando todos os escritores de língua portuguesa.
Apesar de não ser matéria obrigatória do ensino médio em todos os Estados da Federação, a literatura portuguesa é ministrada em muitos e é um forte elemento contributivo para que os alunos possam melhor se identificar com as suas origens e com a própria nação brasileira, pois através da literatura portuguesa é mais fácil entender o que é a nação brasileira. Entendo que, diante dessa equivocada pretensão é até uma boa oportunidade para que o MEC decida, em contrário, determinando o ensino obrigatório da literatura portuguesa em todo o território nacional. Afinal, foram 322 anos de ligação e o território brasileiro chegou a ser a capital do Reino, após a chegada da Família Real ao Brasil. Tudo isso merece e deve ser considerado.
Não há dúvida que, concretizada essa intenção do MEC, estará se promovendo um enorme retrocesso no caminho até ao presente trilhado e fazendo que os nossos jovens, bem como as gerações futuras, fiquem à deriva cultural, diante do distanciamento de literatura portuguesa, reconhecida internacionalmente e meio de propagação dos nossos princípios culturais comuns.
Precisamos fazer alguma coisa para evitar que se concretize essa verdadeira agressão cultural às raízes maiores do povo brasileiro.
Por Eduardo Neves Moreira
Acadêmico titular da cadeira 34 e Vice-Presidente da Academia Luso-Brasileira de Letras
Ex-Deputado da Assembleia da República
Ex-Presidente do Conselho Permanente das Comunidades Portuguesas