Primeiro-ministro salienta importância da liberdade no desenvolvimento da língua portuguesa

O primeiro-ministro, António Costa, intervém na cerimónia do Depósito do Instrumento de Ratificação do Acordo sobre a Mobilidade entre os Estados Membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Lisboa, 09 de dezembro de 2021. ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Mundo Lusíada com Lusa

O primeiro-ministro afirmou neste 5 de maio que os países de expressão portuguesa vivem atualmente em democracia, fator que considerou essencial para o enriquecimento e desenvolvimento de uma língua que terá 500 milhões de falantes no final do século.

António Costa assumiu esta posição no discurso que proferiu na cerimônia de encerramento do Dia Mundial da Língua Portuguesa, no Museu Nacional do Teatro e da Dança, em Lisboa, em que também esteve presente o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.

Tendo a ouvi-lo embaixadores e representantes diplomáticos de Estados-membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), António Costa abordou sobretudo as questões da dimensão “universal” da língua e das suas perspetivas de futuro em termos de número falantes.

O primeiro-ministro salientou então “a importância do ensino da língua portuguesa nos países estrangeiros, onde existem comunidades de falantes, mas em que há sobretudo um interesse crescente por esta língua”.

“Esse interesse vai ser cada vez maior, não apenas por sermos a língua mais falada do hemisfério sul, a quarta mais falada a nível mundial e a quinta na internet, mas também por ser uma língua que terá um crescimento demográfico muito significativo. Hoje somos 260 milhões, brevemente seremos 400 milhões e no final do século tudo indica que serão 500 milhões a falar português”, apontou.

Pegando nestes indicadores, António Costa defendeu que a língua portuguesa “está em crescimento, em desenvolvimento e será cada vez mais relevante em todos os domínios”, desde a ciência, passando pela atividade econômica, até à cultura.

Perante os representantes diplomáticos da CPLP, António Costa deixou uma mensagem de caráter histórico e político, apontando que este é o ano em que em Portugal a duração da democracia ultrapassou em longevidade o anterior período de ditadura.

“Estas línguas falam hoje todas em liberdade e há 49 anos nenhuma delas falava em liberdade. Portugal estava em ditadura, o Brasil vivia em ditadura e todos os outros povos estavam privados da liberdade pelo colonialismo. Portugal libertou-se [com o 25 de Abril de 1974], o colonialismo acabou, o Brasil restaurou a democracia”, completou.

Após este contexto, António Costa concluiu: “Em todos estes países expressamo-nos numa língua livre e onde se pode expressar e viver em democracia”.

“Acho que essa é uma grande vitória. Significa que essa liberdade é o que ajudará a enriquecer cada vez mais a nossa língua. A língua enriquece-se, constrói-se no exercício livre da palavra e da forma como a utilizamos”, sustentou

No início da sua intervenção, o líder do executivo referiu também que neste momento em Luanda estão reunidos os ministros da Cultura da CPLP e que o presidente da Assembleia da República se encontra em visita oficial ao Brasil, assinalando o Dia Mundial da Língua Portuguesa.

“Quero também sublinhar o esforço que o Brasil fez na reconstrução do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo, após o trágico incêndio que o destruiu. Na inauguração esteve o nosso Presidente da República [Marcelo Rebelo de Sousa]”, assinalou.

Antes, o primeiro-ministro inaugurou no Museu Nacional do Teatro e da Dança uma exposição intitulada “Mulheres saramaguianas” no âmbito das comemorações do centenário do nascimento de José Saramago.

Na cerimônia, aberta com um breve discurso do presidente do Camões, o embaixador João Ribeiro de Almeida, durante o qual destacou os progressos do português enquanto língua de ciência, comunicação e cultura, o ministro dos Negócios Estrangeiros considerou que o português “é uma língua cada vez mais mundial”, salientando o crescimento que tem na América Latina e África.

Tendo a escutá-lo o seu secretário de Estado dos Negócios e Cooperação, Francisco André, João Gomes Cravinho identificou como principal desafio “procurar alavancar as enormes potencialidades” da língua portuguesa.

“A título de exemplo, temos em países de língua portuguesa 3,6% da riqueza do mundo, 5,45% do tamanho global das plataformas marítimas e 16% da disponibilidade mundial de reservas de água doce. Se temos na base da língua portuguesa esta riqueza, é importante que a nossa língua seja também de negócios e de influência econômica internacional”, acentuou.

O ministro dos Negócios Estrangeiros considerou ainda que, na área da ciência, a língua portuguesa “tem conseguido criar espaços próprios de publicação, através de revistas, colóquios ou portais”.

“É preciso promover a língua portuguesa como língua de comunicação científica. Se a nossa língua for projetada, os nossos países que falam portugueses também serão projetados”, advogou perante uma plateia em que estavam diplomatas de países da CPLP.

No final da sua intervenção, João Gomes Cravinho destacou que também se “está a celebrar “o regresso da revista Camões, criada em 1998, após um interregno de sete anos. Este ano teremos ainda um segundo número da revista dedicado a José Saramago”, acrescentou.

Estratégia

Segundo o governo português, a data é “uma oportunidade para inscrever a língua portuguesa nas diversas agendas globais” e afirmar “a sua importância estratégica”, sublinhou, em nota, o Governo.

A existência deste dia “traduz bem o reconhecimento internacional do seu grande valor e potencial, assumindo-se como um dos maiores ativos estratégicos dos países que a partilham”, sublinhou o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, numa mensagem que será hoje partilhada, segundo um comunicado do Governo.

O Presidente português defendeu a importância das políticas de promoção e defesa da língua portuguesa, no âmbito do ensino, cooperação e cultura, considerando que todos os responsáveis políticos se devem empenhar nesta matéria.

Marcelo Rebelo de Sousa afirma que “as línguas, que não nascem por obra e graça do poder político, necessitam de políticas que as promovam e defendam no âmbito do ensino, cooperação e cultura”.

“A todos, portugueses e estrangeiros, que leem, falam, traduzem, escrevem ou estudam português, devem os responsáveis políticos, a começar pelo Presidente de República, palavras de atenção e gestos concretos”, acrescenta o chefe de Estado.

“Hoje, além da emigração tradicional, há muitos jovens a estudar no estrangeiro, empresários que os negócios levam a diversas paragens, artistas com carreira internacional. Tal como há imigrantes, em especial refugiados, cuja integração também se faz por intermédio da língua”, refere o Presidente da República.

Em 2019, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) proclamou o dia 05 de maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa, decisão que na altura Marcelo Rebelo de Sousa saudou, declarando que significava “o reconhecimento de uma grande língua no mundo, uma das maiores línguas do mundo”.

O português é falado por mais de 260 milhões de pessoas em cinco continentes e, segundo estimativas das Nações Unidas, esse número irá crescer para quase 400 milhões em 2050 e para mais de 500 milhões em 2100.

É já a língua mais falada no hemisfério sul, é a língua oficial dos nove países-membros da CPLP, além de ser falada em Macau, e, por exemplo, é a quinta língua com maior número de utilizadores na Internet.

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