Mundo Lusíada
Com Lusa
Portugal ganhou, pela primeira vez, o Festival Eurovisão da Canção, com “Amar pelos dois“, interpretada por Salvador Sobral, um cantor que está na boca do povo e nas pesquisas da internet pela Europa.
A canção, com letra e música de Luísa Sobral, irmã de Salvador Sobral, obteve 758 pontos na votação combinada dos júris nacionais e do público, na final do festival disputada em Kiev, na Ucrânia, que foi transmitida em direto pela RTP1. A final do Festival Eurovisão da Canção foi disputada por 26 países.
“Vivemos num mundo de música descartável, de música ‘fast-food’ sem qualquer conteúdo. Isto pode ser uma vitória da música, das pessoas que fazem música que de fato significa alguma coisa. A música não é fogo-de-artifício, é sentimento. Vamos tentar mudar isto. É altura de trazer a música de volta, que é o que verdadeiramente interessa”, disse Salvador Sobral nas primeiras declarações após a vitória no festival.
O Presidente português Marcelo Rebelo de Sousa felicitou Salvador Sobral pela vitória. “Quando somos muito bons, somos os melhores dos melhores. Muitos parabéns ao Salvador Sobral”, foi a mensagem enviada ao intérprete português.
Também a Comissão Europeia felicitou o cantor pela sua vitória no Festival Eurovisão da Canção, lembrando a sua experiência no programa Erasmus, de intercâmbio de estudantes. “Queria felicitar Salvador Sobral, vencedor da Eurovisão 2017, não apenas porque deu pela primeira vez a vitória a Portugal, mas também porque foi um estudante Erasmus”, disse o porta-voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas.
“Não há melhor maneira de celebrar os 30 anos do programa Erasmus do que constatar, com orgulho, que um de nós venceu a Eurovisão”, adiantou, dando, em português, os parabéns ao cantor.
A melhor classificação portuguesa num Festival da Eurovisão, um sexto lugar, foi obtida por Lúcia Moniz, em 1996, com a música “O meu coração não tem cor”, tendo esta sido também a última vez que Portugal ocupou um lugar no top 10.
Aeroporto repleto
O terminal de chegadas do aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, encheu-se para receber o vencedor Salvador Sobral, que acredita que esta vitória inédita “é muito importante para a cultura” portuguesa.
Salvador Sobral e a irmã Luísa aterraram em Lisboa e à sua espera estavam largas centenas de pessoas, que quando o viram chegar pelas escadas rolantes aplaudiram e gritaram, em êxtase, “Salvador! Salvador! Salvador!”, que estava rodeado de polícias e visivelmente surpreendido pela recepção.
Antes de abandonar o aeroporto, em conferência de imprensa, o vencedor da Eurovisão tinha considerado que este resultado era “muito importante para a cultura portuguesa”, recordando que muitos dos que votaram “não percebiam uma única palavra” e que “a língua portuguesa esteve muito bem representada”.
Depois das dezenas de disparos das máquinas fotográficas dos repórteres, quando Salvador entrou na sala apinhada de jornalistas, da plateia levantou-se uma surpresa para os irmãos Sobral, a avó, que fez questão de ir dar um abraço e um beijo aos netos, antes mesmo de começarem as perguntas.
“O idioma aqui, mais do que a língua portuguesa, foi a música. As pessoas na Europa inteira votaram a canção e não perceberam uma única palavra. Eu podia estar ali a dizer: ‘vão-se todos lixar. A Europa não serve para nada. Queremos sair’ e eles não percebiam”, enfatizou.
Visivelmente cansado – motivo pelo qual pediu desculpas aos jornalistas – Salvador Sobral não perdeu o sentido de humor que o caracteriza e quando questionado sobre o futuro enquanto cantor, brincou: “Vamos ter de cobrar um bocadinho mais pelos concertos”.
O vencedor da edição deste ano do festival da canção quer “continuar a tocar por aí e a trabalhar no segundo disco”, enaltecendo que esta conquista inédita “é um bom passo na música portuguesa”. “Se podemos ajudar de alguma maneira a música portuguesa, eu fico feliz. Espero que lá fora comecem a perceber que a música portuguesa é muito mais do que aquilo que tem chegado”.
Depois da conferência de imprensa, Salvador Sobral foi engolido pela multidão que encheu o terminal de chegadas do aeroporto Humberto Delgado e que gritava pelo nome do cantor e de Portugal, tendo entoado “Obrigado! Obrigado! Obrigado!”.
Protegido por um cordão de polícias que furou a moldura humana, Salvador entrou no carro que o esperava à porta, tendo os presentes, na despedida, cantado de novo o refrão da música que levou Portugal a vencer.