Da Redação
Com Jornal da USP
Em cerimônia realizada no dia 14 de dezembro, foi empossado o escritor e intelectual português Álvaro de Vasconcelos como novo titular da Cátedra José Bonifácio da USP. Até o final de 2024, ele conduzirá pesquisas sobre o tema “Europa e América Latina num contexto de polarização mundial: caminhos e desafios sociais, políticos, econômicos e culturais para uma cooperação necessária”.
O evento foi realizado na sala Villa Lobos, no complexo da Biblioteca Brasiliana, no campus da USP em São Paulo, e entre os presentes, esteve ministro de Negócios Estrangeiros de Portugal, João Gomes Cravinho. Vasconcelos sucede a argentina Susana Malcorra no cargo e é 11º catedrático a assumir a cadeira, sendo o primeiro de Portugal e o segundo da Península Ibérica.
O diretor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) e coordenador do Centro Ibero-Americano (Ciba) da USP, que administra a iniciativa, Pedro Dallari, deu início ao encontro falando sobre a história de criação e os objetivos da Cátedra e sobre o novo catedrático.
Em seguida, Vasconcelos classificou seu trabalho à frente da Cátedra como “uma aventura intelectual” e disse que já se sente parte da comunidade universitária.
“Para uma iniciativa ter sucesso, é necessário que três fatores sejam convergentes: ser uma boa ideia, ter uma metodologia adequada e ter uma boa coordenação. A Cátedra José Bonifácio é um bom exemplo disso”, destacou o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior. “E esse não é um projeto que fica apenas na discussão na sala de aula, porque existe uma documentação, que é o livro, que pode ser compartilhado”, complementou o reitor citando que, no início de novembro, o diretor do IRI entregou à tradicional Biblioteca da Organização dos Estados Americanos a coleção de livros da Cátedra.
Em relação ao novo catedrático, Carlotti ressaltou a importância da presença de Vasconcelos e afirmou que “daqui a um ano, não seremos a mesma Universidade depois de sua passagem”.
O ministro português, João Gomes Cravinho, considerou que “ao procurar uma personalidade portuguesa que pudesse seguir as ilustres pegadas de 10 outros catedráticos de grande renome, não poderia a USP ter feito melhor do que encontrar um catedrático como Álvaro de Vasconcelos. Como José Bonifácio, Álvaro é um intelectual cuja capacidade está radicada também não só no vigor atual, mas também em um profundo sentido de justiça”.
Antes da cerimônia oficial de posse, Vasconcelos iniciou as atividades da Cátedra conduzindo a primeira reunião do grupo de pós-graduação, que conta com 56 pesquisadores e estará sob sua direção. Assim como ocorreu nas gestões anteriores, o trabalho deve resultar em um livro, a ser publicado em agosto de 2024.
Durante sua visita essa visita ao Brasil, o ministro Cravinho afirmou à agencia Lusa, que Portugal terá um papel de ponte entre América Latina e África, numa altura em que é país observador no G20, o grupo das vinte maiores economias do mundo. “Portugal é um país que pode fazer pontes, faz pontes com a América Latina, faz pontes com África”, defendeu João Gomes Cravinho, após a reunião com o homólogo, em Brasília.
Quem é Álvaro Vasconcelos
Com presença ativa no debate dos assuntos políticos, sociais e culturais da Europa e do mundo, Vasconcelos é investigador do Centro de Estudos Interdisciplinares CEIS20 da Universidade de Coimbra. Já foi diretor do Instituto de Estudos de Segurança da União Europeia e do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais, investigador sênior da Arab Reform Initiative, além de fundador do Fórum Demos, importante think tank europeu de relações internacionais. No Brasil, foi professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP e, mais recentemente, participou do encontro O Bicentenário da Independência do Brasil visto do exterior.
Opositor do Estado Novo e da guerra colonial portuguesa, esteve exilado em Bruxelas e Paris de 1967 a 1974. Ao regressar ao país natal, participou ativamente do processo de transição democrática e, hoje, atua como colunista e comentador em jornais, rádio e televisão.
No dia 15 de dezembro, Vasconcelos participou do programa “Desafios”, apresentado pelos jornalistas da Superintendência de Comunicação Social Luiz Roberto Serrano e Marcello Rollemberg.
Cátedra José Bonifácio
Criada em 2013, a Cátedra José Bonifácio homenageia um importante personagem da história do Brasil. Também conhecido como “o patriarca da Independência”, José Bonifácio de Andrada e Silva nasceu em 1763 e foi um notável pesquisador, escritor e homem público. Como cientista, chegou a descobrir novos minerais, enquanto no campo político foi ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros de janeiro de 1822 a julho de 1823.
Sua imagem ilustra a intenção de integrar a experiência de lideranças sociais aos processos educacionais e de pesquisa do ambiente universitário, e da preocupação em se produzir subsídios que promovam a melhoria das condições de vida da população.
Assim, a iniciativa busca estimular a geração e a disseminação de conhecimento sobre a Ibero-América, sempre por meio da participação rotativa de uma figura pública da região, ligada ao ambiente universitário e de relevo internacional, que durante um ano lidera um grupo de investigadores para promover reflexões e debates acerca da área em que atua.
“Todos os dez especialistas de grande relevância que já estiveram à frente da Cátedra realizaram trabalho excepcional e muito marcante na vida da Universidade, cumprindo um compromisso rigoroso com a construção e disseminação de conhecimento: em dez anos, foram dez livros publicados pela Edusp com o resultado das atividades. São mais de 200 artigos, que têm, ainda, o valor do envolvimento de jovens pesquisadores nessa produção, muitas vezes alunos de pós-graduação publicando pela primeira vez”, comemora Dallari.
Gerida pelo Centro Ibero-Americano (Ciba), a ação está vinculada à Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação (PRPI) e ao Instituto de Relações Internacionais (IRI).
Com informações do Jornal da USP