Da Redação
Com Lusa
A Mystic Invest, holding que detém a Douro Azul, teve um primeiro semestre “melhor que a desgraça prevista”, esperando agora faturar 90 milhões de euros este ano, mas um terço do orçamentado antes da pandemia, afirma Mário Ferreira.
O empresário, que falava no âmbito da retoma dos cruzeiros no Douro, explica que na ‘holding’ que gere o turismo de cruzeiros estavam preparados para duas situações: o ‘cenário zero’, que representaria faturação zero até ao final do ano, e o cenário ’15 de julho’, nas quais existiam várias variáveis, entre as quais, retomar a atividade nesta altura, mas com taxas de ocupações inferiores.
Neste último cenário, a Mystic continuaria “a ter prejuízos, mas já atenuados”, refere Mário Ferreira. Passado que está o primeiro semestre do ano, o responsável diz que este período “correu melhor do que a desgraça prevista”.
“A realidade foi que até final de junho” a empresa teve “dois milhões de euros acima do previsto”. Ou seja, “dentro do negativo ainda conseguimos ter dois milhões de euros positivos, já que faturamos alguma coisa em junho”, refere.
Assim, o empresário diz que, na semana passada, em conjunto com os seus sócios americanos na Mystic Invest, reviram a previsão de faturação até ao final do ano.
“A estimativa que temos, neste momento, é que possamos vir a faturar 90 milhões de euros [em 2020], o que não é nada face aos 270 milhões que esperávamos [no orçamento para este ano], mas ainda é alguma coisa. Se não fizéssemos nada – se fosse o ‘cenário zero’, teríamos 47 milhões de euros de Ebitda [Lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] negativos, quando antes estávamos à espera desse valor positivo. Por isso, agora, esperamos à volta de 25 milhões de Ebitda negativos, o que já não é tão mau, dada a situação e a dimensão global da empresa”, explica Mário Ferreira.
O CEO da Douro Azul destaca também que o grupo manteve o investimento de 110 milhões de euros, tendo cinco navios oceânicos ainda em Viana do Castelo em construção.
Em Viana do Castelo, pronto, à espera de ser estreado, está um navio-hotel para o Douro, que será “a embarcação mais luxuosa da Douro Azul para estes cruzeiros”, acrescentou.
“Não desaceleramos. Se tivéssemos parado o investimento não ia ser nada agradável para a indústria portuguesa. Fizemos um esforço para o manter”, disse.
A faturação “é, assim, um terço do que pensávamos antes e é com um grande esforço das nossas equipas que não têm medo, ao contrário do que acontece em outras empresas, de andar a trabalhar [nos navios] de máscaras e luvas, senão nem isto faturávamos”, refere.
Mário Ferreira diz que ainda têm “muita gente em ‘lay-off'”, mas já muito menos do que os 400 antes, dado que neste momento já estão navios a operar.
A Douro Azul retomou esta semana a atividade no rio Douro, com um programa de quatro cruzeiros dirigido ao mercado português, a bordo do Douro Serenity.
“Ao longo dos anos temos tido muita dificuldade em explicar aos portugueses que num cruzeiro de uma semana no Douro há que fazer. Há o que ver, que é interessante. Tivemos sempre essa dificuldade e é um erro nosso. Os portugueses têm mais facilidade em ir aos cruzeiros do Reno, ao Danúbio, do que viajar em Portugal. Estamos a tentar esforçar-nos para mudar isso. Quem faz o Douro fica deliciado e diz maravilhas (…) Neste contexto, voltámos a acreditar que seria bom para nós e para os portugueses puderem andar cá dentro em coisas que muitas vezes têm qualidade superior às que usufruem lá fora”, disse.
Ainda assim, diz que as operações este ano são para a empresa ir “mantendo alguma atividade, para manter pessoal”, pois “a sensação é que cada cruzeiro até ao final do ano é sempre a perder dinheiro”.
No entanto, nos “30 e tal” navios que detêm no resto do mundo a atividade “está a andar muito melhor”.
“Surpreendentemente essas é que são as boas notícias, é que aí já avançamos dentro dos 70, 75% de ocupação, no Danúbio, Reno, Croácia. A empresa que é direcionada para os cruzeiros de rio no mercado alemão [Nicko Cruises] é a que está a arrancar melhor”, disse.
Dadas as restrições nos portos, a empresa ainda não conseguiu avançar com os cruzeiros de mar.
Mário Ferreira acrescentou que a Mystic Invest está a estudar seis empresas de cruzeiros no mercado americano com vista a aquisição de uma. “São empresas que estão em dificuldades financeiras e o mercado americano é muito bom para estarmos. São empresas agregadas a outras mega-empresas” de turismo, referiu sem querer especificar.
Em maio de 2019, Mário Ferreira vendeu 40% da Mystic Invest Holding aos americanos do fundo Certares por 250 milhões de euros. Na altura, a revista Exame deu conta de que esta operação iria permitir reforçar o capital e provisões da companhia e investir em outros negócios, incluindo a empresa mãe, a Mystic Invest SGPS.
A Certares é um fundo que investe em empresas de viagens, turismo e hotelaria, tendo ficado com posição minoritária na ‘holding’ que conta com empresas como a Douro Azul, a Nicko Cruises ou a Mystic Cruises.
Entretanto, em 14 de maio deste ano, Mário Ferreira comprou 30,22% da Media Capital, que detém a TVI, através da Pluris Investments, mas sobre a estação televisiva o empresário não quis, neste momento, fazer comentários.