Por Humberto Pinho da Silva
Sempre que há revolução, mudança de regime ou guerra entre povos, surgem os vira-casacas.
São vira-casacas, os que tudo lhes serve, desde que os sirva. Os sem carácter, os que não têm vergonha, nem ideologia.
Apareceram, em Portugal, com a queda da Monarquia e da 1ª República, e com a chamada Revolução dos Cravos.
Surgiram, também, no Brasil, após o Imperador D. Pedro II ter embarcado, para o exílio, no vapor Alagoas.
Depois do regicida de D. Carlos e do Príncipe Real, os corpos foram escoltados por força militar, sob esquadrão comandado pelo Tenente J.G.P.
Durante o curto trajecto, o Tenente, virando-se para os soldados, disse indignado: “ Se pelo caminho encontrardes alguns desses republicanos, atirai-lhes como cães!”
Decorrido meses, o mesmo oficial, foi nomeado Governador Civil, pelos republicanos!
Como ele, muitos que serviram o Rei e com Ele conviveram, implantada a República, tornaram-se “acérrimos” defensores do novo regime.
Conta o Juiz António Manuel Pereira, em:” Do Marquês de Pombal ao Dr. Salazar”, que grupo de monarquistas, reuniram-se, num clube elegante da cidade do Porto. Ao terem conhecimento do hediondo assassinato do Rei, deram, juntamente com alguns republicanos, vivas à República!
Com a queda do Estado Novo, muito – que se vangloriavam de serem amigos do Prof. Marcelo Caetano, – ao saberem que este partira para o exílio, apressaram-se a inscreverem-se em partidos, mormente de esquerda, receosos de perderem privilégios.
Essas deploráveis atitudes verificam-se em todos os países e em todas as épocas. No Brasil, nobres, que frequentavam a corte, foram os primeiros a aderirem aos ideais republicanos, e muitos fizeram-no publicamente, mandando telegramas ao Marechal Deodoro, como o barão de Tefé.
Outros, participaram em manifestações republicanas, como o barão Homem de Melo.
Até o barão de Ramiz, encarregado da educação dos filhos da Redentora, a Princesa Isabel – Mulher que aboliu a escravatura, mesmo sabendo que iria desagradar a muitos monarquistas, – após a retirada de D. Pedro II , renunciou ao titulo nobiliárquico, e aceitou o cargo de director da Inspetoria – Geral de Instrução Publica !
Felizmente há também Homens de palavra, que jurando serem fiéis aos ideais, afastaram-se, para não servirem novo regime.
Está nesse caso o General Couto Magalhães, governador de São Paulo, que foi fiel a seus princípios; e muitos – devia dizer: poucos, – que em Portugal, após mudança de regime, mantiveram-se afastados da vida política, para honrarem juramentos.
Mas não se pense que só políticos e militares são vira-casacas: escritores, jornalistas, intelectuais famosos, emitam, de modo vergonhoso, a indigna atitude do Duque de Sabóia.
Não sei se o leitor sabe quem era o Duque de Savóia, e o que fez durante a guerra entre a Espanha e a França; mas caso desconheça, leia o que se segue:
Durante a contenda, Carlos Manuel, Duque de Sabóia, tanto apoiava a Espanha, como se batia pelas razões defendidas pela França, consoante os interesses de ocasião.
Para evitar despesas desnecessárias, pediu, ao alfaiate, casaco com duas faces: de um lado branco, do outro vermelho.
Quando se inclinava para a França, envergava o lado branco; se defendia os interesses de Espanha, vestia pelo lado vermelho.
Para finalizar, se me permitem, uma dica, para o leitor desavergonhado: se não tiver carácter, emite o exemplo de Carlos Manuel. Pode ser chamado, e com razão, de traidor…quiçá por outros traidores…, mas pode obter a oportunidade de ser nomeado para altos cargos da nação, ficar rico, e até conseguir o doutoramento honoris causa.
Por Humberto Pinho da Silva
De Portugal