Por Humberto Pinho da Silva
O tempo do “arroz de quinze” ou do bacalhau a oito tostões, que meu pai adquiria na mercearia do Sr. Ferreira – importante estabelecimento que havia na rua do General Torres, em Gaia, – há muito terminou.
Mas o que nunca terminou, é a subida desenfreada de preços, principalmente após 1976.
Depois do falecimento de Salazar, e a chegada da primavera marcelista, o país sofreu grandes transformações: os ordenados subiram substancialmente, e os preços não acompanharam, como seria de prever, o aumento dos salários… pelo menos no início.
Os portugueses sentiram finalmente, que teriam possibilidade de adquirirem bens, que nunca pensaram possuir … mas foi sol de pouca dura.
Após 1974, a população entrou em euforia. Pensou-se que Portugal transformar-se-ia num país do primeiro mundo, com salários justos, que permitissem, a todos – licenciados ou não, – terem vida digna.
Enganaram-se, como agora todos reconhecem. Aos poucos, a nação enriqueceu, e com ela a elite ou a nova burguesia…mas o povo? …
Os preços subiram, contrariando as perspectivas; os salários, reformas e pensões, mormente a dos funcionários públicos, após haverem subido, acabaram, desde 2013, drasticamente reduzidos.
E ninguém dá explicação…a não ser que o país está endividado…e os idosos ganhavam muito.
E não há quem peça perdão, como outrora fez o Prof. Marcelo Caetano.
Numa das várias “ Conversas em Família”, na RTP, o então Primeiro-ministro, quase pediu desculpa por ter que aumentar um centavo ao pão”. Bom tempo!…
Convido, agora, o leitor, acompanhar-me na visita que vamos fazer a supermercado que ficava na da rua de D. Manuel ll, no Porto – penso que foi o primeiro que abriu nessa cidade.
Estamos em 1973. Nas prateleiras podemos ver: açúcar a 8$00 (kg); litro de leite pasteurizado, a 4$10; óleo alimentar “girassol”, a 21$00; garrafa de “Cola” de litro, a 6$50; pacote de farinha triga a 7$50; manteiga com sal, a 38$50 (kg); massinha, a 7$00; pão (60gr) a $40; pão de mistura (340gr) a 2$00; pescada congelada entre 11$00 e 17$00 o (kg); queijo “flamengo”, com 45% a 56$00 o (kg); laranjada de litro, a 6$00.
No talho encontramos: carne bovina de 1ª a 62$00; cachaço e sobre peito a 42$00; lombo de boi, com osso, a 20$00 o (kg).
Após a visita entremos num bar: o café vai-nos custar 2$00, o que é demasiado caro; o dobro que se pagava em 1969.
Deixemos a Invicta Cidade do Porto e vamos viajar até à capital. Se ficarmos instalado em expendido hotel, no Parque Eduardo Vll: o quarto com duas camas, casa de banho completo e sala de espera com sofás camas – verdadeiro apartamento de luxo, – tudo vai ficar por 120$00!
As refeições, no quarto, vão-nos ficar: o pequeno-almoço por 7$50 e as refeições (almoço e jantar), por 25$00.
Informam – no prospecto que tenho na mão, – que os preços incluem óptimos vinhos, brancos e tintos, servidos à descrição, às refeições.
Agora, que conhece os preços, já pode avaliar a qualidade de vida dessa época – anos sessenta e inicio de setenta, – e comparar com a actual.
Achou caro ou barato? Tudo depende do dinheiro que se tem, ou que se tinha.
Por Humberto Pinho da Silva
De Portugal
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