Zona do euro entra em recessão pela primeira vez desde criação da moeda única.
Mundo Lusíada Com Lusa
A União Européia confirmou, em 14 de novembro, que a economia da zona do euro entrou oficialmente em recessão técnica ao registrar uma variação negativa de 0,2% no terceiro trimestre, depois de idêntica contração no segundo trimestre. Boa parte dos países da zona do euro já entraram em recessão, o que nunca aconteceu na região desde a criança da União Européia, em 1999, e a adoção da moeda única em 2002. Alemanha, Itália e Estônia entraram em recessão técnica, enquanto Reino Unido, Espanha e Hungria registraram um crescimento negativo no terceiro trimestre deste ano, segundo os dados do Eurostat (gabinete europeu responsável pelas estatísticas do bloco). A França foi o único dos grandes países da Europa que conseguiu registrar, ainda que com um ligeiro 0,1%, um crescimento positivo no terceiro trimestre, depois de ter caído 0,3% no anterior. O PIB alemão, a maior economia da Europa, recuou 0,5% no terceiro trimestre, depois de já ter caído 0,4% no anterior. Estas variações foram idênticas às registradas pela Itália no período em análise. A Estônia foi o país europeu que mais caiu no trimestre, ao registrar uma contração de 1%, isto depois de já ter recuado 0,8% no anterior. No Reino Unido, a economia caiu também 0,5%, enquanto na Espanha a contração, a primeira em 15 anos, foi 0,2%. Portugal e Holanda não registraram crescimento, a Áustria e a Bélgica cresceram 0,1% e a Grécia, 0,5%. O Banco Central Europeu (BCE) já havia previsto que “a intensificação das turbulências nos mercados financeiros” deveria enfraquecer a demanda na zona euro por um período prolongado, com a inflação e o crescimento em desaceleração. No seu boletim de novembro, a instituição afirmava que “tendo em conta a forte queda dos preços das matérias-primas nos últimos meses, os preços, os custos e as pressões salariais deverão também diminuir”, melhorando as perspectivas para a estabilidade dos preços. Os economistas que elaboram trimestralmente projeções para o BCE prevêem taxas de inflação de 3,4% este ano, 2,2% em 2009 e 2% em 2010. Em agosto, as estimativas apontavam para 3,6%, 2,6% e 2,1%, respectivamente. As projeções de crescimento das 15 economias da zona do euro também foram cortadas, passando dos 1,6%, previstos para este ano para 1,2%. Para 2009, a previsão de expansão econômica cai para 0,3% contra o 1,3% previstos em agosto. A retoma esperada em 2010 é também revista em baixa, com a zona euro crescendo 1,4%, contra 1,8% esperados nas projeções anteriores. O BCE considera que "o nível de incerteza com origem nos desenvolvimentos nos mercados financeiros continua extraordinariamente elevado, colocando desafios excepcionais". A instituição disse esperar que "o setor bancário contribua para restaurar a confiança" e nota que será "crucial" estabelecer "bases sãs para uma recuperação". Em 4 de dezembro, o BCE publica, após a sua reunião mensal sobre as taxas de juro, as suas novas previsões para o crescimento e a inflação, que segundo afirmou Guy Quaden, diretor da entidade econômica, deverão sofrer "uma modificação substancial". Bancos: Dificuldade em financiar economia O sistema financeiro português poderá travar o crescimento econômico do país, por não responder às necessidades de financiamento das empresas e investidores particulares, alerta o banco BPI (que tem o Itaú como acionista) no relatório de novembro sobre os mercados financeiros. “Num momento em que a economia está perdendo alguns dos seus motores de crescimento dos últimos anos (exportações e investimento), o setor bancário português (…) poderá não dispor dos meios suficientes para manter o ritmo de financiamento a atividade econômica”, indica o texto. Além disso, pode convergir num "fator adicional de redução da atividade econômica nacional por via da desaceleração do consumo e do investimento em construção, que vinha revelando sinais de melhoria do desempenho", aponta. "O crédito bancário é uma fonte de financiamento para o setor não-financeiro muito mais relevante em Portugal do que em outras economias", diz a economista-chefe do BPI, Cristina Casalinho. Entre 2000 e 2006, o crédito bancário representava perto de 70% dos meios de financiamento da economia portuguesa, valor que compara com porcentagens de 40% na França, perto de 55% na Alemanha e Espanha, e menos de 20% nos EUA, segundo dados do Banco Mundial citados pelo BPI. Portugal é o país, de um conjunto de dez, em que a importância do mercado de ações para o financiamento é mais baixo (pouco mais de 20%). Cristina Casalinho considera que "esta dependência" de empresas e particulares do crédito dos bancos é "particularmente importante" na atual conjuntura, já que Portugal tem um elevado déficit externo, que deverá ser de 13% do PIB em 2009, segundo o FMI. Como a explosão do crédito em Portugal, nos últimos anos, não foi acompanhada por uma forte subida dos depósitos, os bancos portugueses tornaram-se "dependentes" do mercado monetário e de capitais externo, aponta o documento.
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