Da Redação
A XIII Cimeira da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) realiza-se sexta e no sábado, dia 17, com autoridades e chefes de estado dos países membros, em Angola, país que assume a presidência rotativa da organização.
Do Brasil, embarcou para Luanda neste dia 15 o vice-presidente Hamilton Mourão, com o Ministro das Relações Exteriores, Carlos França, e o Secretário de Assuntos Estratégicos, Alte Rocha.
“Estreitaremos a cooperação econômica-empresarial em prol do desenvolvimento sustentável dos países-membros” declarou Mourão antes da viagem.
A delegação brasileira também deve cumprir agenda oficial com autoridades, empresários e representantes da Nações Unidas junto à República de Angola e à África Central, além dos demais membros da CPLP.
“Além do vínculo histórico e cultural que nos unem, minha ligação com a Angola tornou-se ainda mais forte por ter sido observador militar da ONU em Andulo e Chitembo, províncias do Bié, e em Lubango, capital da província de Huíla, nos anos 1996 e 1997” declarou o vice-presidente brasileiro.
A viagem acontece em meio a internação hospitalar do presidente Jair Bolsonaro, no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, após ser diagnosticado com um quadro de obstrução intestinal (suboclusão). Em boletim médico divulgado na noite desta quarta-feira (14), a equipe médica informou que, por enquanto, está descartada qualquer intervenção cirúrgica e o presidente receberá tratamento conservador, ou seja, à base de medicamentos e outros procedimentos não invasivos.
O presidente chegou à unidade por volta das 19h, depois de ter passado o dia internado no Hospital das Forças Armadas (HFA), em Brasília, onde passou por exames e alguns procedimentos. Ainda não tem previsão de quanto tempo Bolsonaro permanecerá internado, e teve sua agenda de compromissos cancelada.
Promover português
O embaixador do Brasil junto à Organização das Nações Unidas (ONU), Ronaldo Costa Filho, defendeu que o país tem feito um “esforço muito amplo” para promover da língua portuguesa no mundo.
No âmbito dos 25 anos da CPLP, o diplomata destacou o trabalho que o Brasil tem desenvolvido na projeção do português, com foco na Rede Brasil Cultural, hoje denominada Rede de Ensino do Itamaraty, cuja “vocação é a promoção e difusão da língua portuguesa e da cultura brasileira no exterior”.
De acordo com Costa Filho, essa tem sido uma das principais ferramentas usadas pelo Brasil na promoção do português, estando presente em mais de 40 países, em cinco continentes.
“Através dessa rede, são oferecidos cursos de língua portuguesa em todas as suas vertentes. O português pode ser ensinado como uma língua estrangeira, língua de herança ou como uma língua não materna. Então, todos esses focos estão presentes nesse esforço. A rede conta também com leitores, ou seja, professores que atuam em universidades no exterior nessa promoção”, explicou em entrevista à Lusa.
Paralelamente a esta rede de ensino, o Itamaraty – nome como é conhecido o Ministério das Relações Exteriores do Brasil -, tem, anualmente, um programa de atividades de língua portuguesa conduzido no exterior pelas embaixadas, consulados e missões por todo o mundo.
“Como exemplo de uma atuação nessa área, nós promovemos a comemoração do Dia Mundial da Língua Portuguesa todos os anos. Em 2021, foram 124 eventos, realizados por 56 postos em 48 países ao longo do mês de maio. Esses eventos incluem conferências, debates, lançamentos de filmes, vídeos, livros, revistas, plataformas virtuais, concursos literários”, entre outros, detalhou o embaixador.
“É um esforço muito amplo que o Brasil, através do Ministério das Relações Exteriores, conduz com vista à promoção da língua portuguesa no exterior. (…) É um trabalho que tem resultado e ao qual o Brasil atribuiu grande importância”, salientou.
Entre os principais beneficiários da rede de ensino oferecida pelo país sul-americano, o diplomata identificou os alunos estrangeiros que tencionam estudar no Brasil e que aproveitam esses cursos de português para se prepararem para o período em que viverão no país.
Ronaldo Costa Filho tem sido um dos principais porta-vozes do Brasil sobre a importância que a promoção do português pode, e deve, ter.
Contudo, o embaixador reforçou que o trabalho a fazer pela CPLP “nunca está concluído” e que “há sempre mais a fazer” nesse sentido.
“É um trabalho continuo. Nunca se poderá dizer que concluímos a tarefa de difundir o português no mundo. (…) O Brasil e os membros da CPLP são todos parte de uma comunidade internacional e a realidade internacional exige que nós nos conheçamos melhor, para que possamos ajudar-nos e cooperar. E a difusão do português faz parte desse esforço”, disse.
“Aqui, nas Nações unidas, todos as missões dos países da CPLP têm uma relação muito boa e procuramos atuar em conjunto quando é possível. Evidentemente, não é sempre que coincidem plenamente os objetivos e interesses dos nove membros, mas, sempre que possível, trabalhamos em conjunto”, admitiu.
Sobre o consumo da cultura em português, como literatura ou música, Costa Filho contou que não são raras as vezes em que, em Nova Iorque, cidade norte-americana onde reside, acaba por escutar músicas em língua portuguesa a serem transmitidas em diferentes ambientes.
“É algo que acontece bastante. Mas não é fácil, porque não é uma língua de grande tradição nessa área. Enfrentamos outras línguas que têm já mais penetração na divulgação das suas músicas e obras, como o inglês, francês ou italiano. Mas o progresso dá-se pouco a pouco e só corrobora o que disse antes, de que o trabalho nunca está concluído”, avaliou.
Questionado sobre a não ratificação do acordo ortográfico por todos os países da CPLP, Ronaldo Costa Filho afirmou que o tratado é “um esforço de manter uma harmonia da língua nos seus diferentes países, mas a realidade também se impõe”.
“Acho que a língua se desenvolve e cresce por pressão do uso das populações. Eu sei, por exemplo, que mesmo a difusão de telenovelas brasileiras tem influenciado a maneira como se fala português em Portugal. Tem um impacto. Então, a língua é muitas vezes mais dinâmica do que o acordo ortográfico”, acrescentou.
Sobre o futuro da língua portuguesa, o embaixador não tem “a menor duvida de que é positivo”.
“A língua portuguesa é das mais faladas no mundo (…) e ela tem uma riqueza e uma vitalidade que a transforma num instrumento de aproximação e de conhecimento dos povos que é inegável. Temos de continuar a dar força e apoiar, para que seja sempre assim”, concluiu.