Cabo Verde quer usar água dessalinizada para agricultura não depender sempre das chuvas

Da Redação
Com Lusa

Cabo Verde quer passar a usar água dessalinizada na agricultura para deixar de depender sempre das chuvas para o setor e evitar secas com a que enfrenta este ano.

A intenção foi manifestada à imprensa, na cidade da Praia, pela presidente do Instituto Nacional de Investigação e Desenvolvimento Agrário (INIDA), Ângela Moreno, durante um encontro que abordava a intenção do país de inovar o setor agropecuário.

“Cabo Verde é um país que está condenado a ter uma agricultura inovadora. Não temos muitos recursos naturais, não temos muita chuva, mas temos um grande oceano e, no futuro, se calhar, vamos ter que pensar em usar a água dessalinizada na agricultura”, projetou Ângela Moreno.

Cabo Verde tem apostado na dessalinização da água, mas apenas para o consumo, mas no caso da agricultura não quer depender sempre da chuva, que, por exemplo, praticamente não chegou ainda este ano, provocando uma seca severa e mau ano agrícola.

Da água dessalinizada para consumo, a presidente do INIDA disse que boa parte perde-se e volta novamente ao mar, pelo que avançou que outra ideia é tratar e aproveitar as águas residuais para regar grandes parcelas agrícolas em diversas ilhas.

A presidente do INIDA notou que Cabo Verde não tem muita terra para regar, e tem de apostar também na hidroponia ou culturas fora de solo e aumentar a rega gota-a-gota.

“Essas ideias já estão assumidas no Ministério da Agricultura, temos isso traçado como prioridade”, referiu, dizendo que o fórum tem como objetivo obter experiências e contributos externos para a intenção de inovar o setor da agricultura, da floresta e da pecuária.

O encontro realizou-se no âmbito do projeto da área GLOBAL, para partilha de conhecimento e tecnologia entre Europa, África e América Latina no setor agrícola, que conta com apoio da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e do Instituto Camões — Instituto da Cooperação e da Língua.

Depois do encontro na cidade da Praia, com presença de investigadores, agricultores, empresários e estruturas associativas com ligação aos setores agrícola, o presidente do INIDA indicou que o próximo passo será a procura de parceiros internacionais e financiadores para inovar e desenvolver o setor da agricultura.

Um dos países-parceiros que Cabo Verde quer ter é Israel, que Ângela Moreno considerou que tem uma “experiência enorme” e está “tremendamente avançado”, mesmo não tendo a metade dos recursos naturais de Cabo Verde.

A presidente do INIDA disse que Cabo Verde não quer continuar a passar a ideia que a agricultura no país é de subsistência e que não tem futuro.

“A agricultura em Cabo Verde tem futuro, o que falta são ideias inovadoras, apostar em novas experiências e de outras paragens e tentar adaptar o quanto possível à nossa realidade e melhorar a agricultura”, reforçou, indicando que muitos jovens já apostam “a sério” no setor.

Na partilha de conhecimento e tecnologia, Cabo Verde conta com parceria da INOVISA, uma rede criada pelo Instituto Superior de Agronomia (ISA), da Universidade de Lisboa, com o intuito de apoiar docentes, investigadores e alunos a criarem o seu projeto empresarial.

Luís Mira da Silva, da INOVISA, disse que Cabo Verde não tem vocação para produzir agricultura em extensão, mas poderá usar vários projetos inovadores para “produzir mais com menos água”, como frescos, hortícolas, frutas e fazer agricultura protegida.

Relativamente à dessalinização da água do mar, o consultor disse que é a “única alternativa”, tendo em conta que o custo baixou e há vários países que utilizam água dessalinizada para regar.

Entretanto, alertou que para isso é preciso utilizar essa água de forma “muito eficiente” e também em produtos que depois a valorizem, como os frescos, e não em grandes extensões.

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