Covid-19: Cerca de 400 pessoas manifestam-se em Lisboa contra certificado digital

Manifestantes protestam durante a ação "Movimenta: É Hora de Agir - #ALiberdadeNãoÉCertificada", promovida por um grupo de cidadãos que consideram que está em causa o conceito de liberdade face às medidas implementadas pelo Governo de combate à pandemia, em Lisboa, 08 de janeiro de 2022. ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Da Redação com Lusa

Cerca de quatro centenas de pessoas manifestaram-se neste sábado em Lisboa contra a obrigatoriedade de certificado digital para acesso a restaurantes, hotéis ou eventos culturais, no âmbito das medidas do Governo para controlar a pandemia de covid-19, e exigiram liberdade.

“A liberdade é certificada?”, “A liberdade é digital?”, “Para ter saúde é preciso perder a liberdade?” e “És livre até à próxima dose?” foram algumas das questões levantadas pelos participantes, através dos cartazes erguidos durante a iniciativa “Movimenta: É Hora de Agir – #ALiberdadeNãoÉCertificada”, que teve como ponto de encontro o Jardim Amália Rodrigues, junto ao Parque Eduardo VII, onde se juntaram para descer a Avenida da Liberdade até ao Terreiro do Paço, sob escolta da polícia.

A ação de protesto juntou pessoas de diferentes idades, todas sem máscara, algumas acompanhadas com a bandeira nacional, outras com camisetas a dizer “pela verdade” ou “covid é fraude”, inclusive algumas crianças a segurar cartazes onde se podia ler: “O meu futuro vale mais do que o teu medo”.

“Quero ver sempre o teu sorriso” foi a mensagem que Maria Crespo, de 61 anos, trouxe para o protesto e que é a pensar na neta de 9 anos, por considerar que as crianças e os idosos “não estão protegidos de regras que não conseguem de forma nenhuma ultrapassar”, referindo-se às medidas de controle da pandemia de covid-19, desde o uso de máscara à vacinação.

“O que está a acontecer vai para além do que é razoável, ou seja, neste momento estarmos ainda a pensar em certificados digitais, a pensar em restrições, que no fundo não estão a resolver aquilo que está a acontecer do ponto de vista que se considera o contágio, portanto em relação a toda a situação do vírus, não me parece que seja razoável”, defendeu esta manifestante, que veio da Figueira da Foz até Lisboa de propósito para estar no protesto.

Em declarações à agência Lusa, Maria Crespo disse ser contra a vacinação das crianças, sem querer falar na vacinação dos adultos, mas realçou a necessidade de respeitar a decisão de cada cidadão: “este é um direito pelo qual temos de lutar, é o direito a decidirmos sobre estas coisas, e sermos responsáveis na relação com os outros”.

“A partir do momento em que as decisões individuais possam estar a ser comprometidas pelo facto de hoje haver restrições que me impedem – por uma decisão que eu tenha – de circular, de desenvolver determinadas atividades, obviamente que a liberdade está comprometida”, expôs a mesma participante.

Criticando o papel da comunicação social, José Duarte, de 67 anos, afirmou que a participação neste protesto “não tem a ver com vacinas, o ser antivacinas ou ser contra vacinas, é uma questão de liberdade”.

“Eu vivi no tempo do Salazar [regime ditatorial do Estado Novo em Portugal] e sei o que é não ser livre e o que é ser livre”, frisou este participante no protesto, discordando da exigência de certificado digital para poder entrar em determinados espaços.

“Eu só quero é que não me chateiem, que me deixem ser livre. Eu para ir a um restaurante agora, para ir comer um bacalhau assado, tenho de ter uma coisa de um cartão. Por mais que me tentem convencer, não estou a ver que haja razão para isso, nem em termos de saúde pública”, referiu José Duarte, acrescentando que ainda não decidiu se vai ser vacinado contra a covid-19, porque está à espera de mais informação sobre a segurança da vacina.

Entre os cerca de 400 participantes esteve Bruno Fialho, presidente do partido Alternativa Democrática Nacional (ADN), antigo PDR.

Da organização da ação “Movimenta: É Hora de Agir – #ALiberdadeNãoÉCertificada”, Rute Dinay explicou que a ideia da mobilização é “exigir respostas ao Governo”, no sentido de esclarecer as medidas de restrições sucessivas, “sem qualquer lógica às vezes” e que “aparentemente não fazem muito sentido”.

Promovida através das redes sociais por um grupo de cidadãos que consideram que está em causa o conceito de liberdade face às medidas de combate à pandemia implementadas pelo Governo, a iniciativa decorre em simultâneo em cinco cidades, nomeadamente Lisboa, Porto, Quarteira, Ponta Delgada e Funchal.

De acordo com as medidas do Governo, a partir de segunda-feira, 10 de janeiro, o certificado digital passa a ser obrigatório para acesso a restaurantes; estabelecimentos turísticos e alojamento local; espetáculos culturais; eventos com lugares marcados; e ginásios.

O certificado digital inclui ou teste de antigénio ou PCR negativo realizados nas 48 ou 72 horas anteriores, respetivamente, ou o esquema de vacinação completo.

A covid-19 provocou 5.478.486 mortes em todo o mundo desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 19.091 pessoas e foram contabilizados 1.613.427 casos de infeção, segundo a última atualização da Direção-Geral da Saúde.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detectado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China.

Uma nova variante, a Ómicron, considerada preocupante e muito contagiosa pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi detetada na África Austral, mas desde que as autoridades sanitárias sul-africanas deram o alerta, em novembro, foram notificadas infeções em pelo menos 110 países, sendo dominante em Portugal.

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