Mundo Lusíada
Com Lusa
Em visita ao Brasil, o primeiro-ministro afirmou à agência Lusa que Portugal irá em breve lançar duas missões de captação de investimento (uma política e outra empresarial) nas principais cidades brasileiras, defendendo que há ainda muitas potencialidades económico-financeiras por explorar.
António Costa falava à chega a São Paulo, primeiro ponto do programa da visita de quatro dias ao Brasil, que o levará também ao Rio de Janeiro, para cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos, participando antes numa receção promovida pelo presidente do Brasil, Michel Temer.
Em declarações à agência Lusa sobre os encontros com empresários portugueses e brasileiros em São Paulo, António Costa destacou a importância da componente econômica da visita, “porque Portugal e o Brasil não se podem conformar com a relação econômica que têm.”
“Tem havido uma melhoria nos últimos 20 anos, mas ainda há muito para avançar. O Brasil é só o nosso décimo destino exportador e é o nosso 11º fornecedor. Tudo justifica que tenhamos uma relação econômica em ambos os sentidos bastante mais forte”, defendeu o líder do executivo nacional.
Nesse sentido, António Costa adiantou que, até ao final deste mês, o Governo português terá no Brasil uma missão com o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, e com os secretários de Estado para a Internacionalização e da Indústria, que irão estar em São Paulo, Rio de Janeiro e em Belo Horizonte numa ação de captação de investimento.
“Uma ação que será articulada com uma outra com idênticos objetivos da Câmara de Comércio e Indústria de Portugal que logo a seguir terá também uma missão empresarial”, disse.
Interrogado sobre o fator de confiança em termos de estabilidade política e financeira, tanto no caso de Portugal, como no do Brasil, António Costa acentuou que as relações entre os dois países “são seculares e não têm a ver com conjunturas”.
“Desde que Pedro Álvares Cabral chegou a Porto Seguro já tivemos muitas crises, muitos momentos de forte crescimento e de recessão, umas vezes de um lado do Atlântico, outras vezes do outro lado do Atlântico ou em simultâneo – e não foi isso que diminuiu as relações entre Portugal e o Brasil. Independentemente do momento de estabilidade que hoje felizmente se vive em Portugal e do momento político que se regista no Brasil, só há boas razões para existirem essas relações seculares”, acrescentou.
Nesta visita ao Brasil, António Costa está acompanhado pelos ministros da Economia, Manuel Caldeira Cabral, e da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes.
Política
O primeiro-ministro rejeitou, em absoluto, que as relações luso-brasileiras possam ser condicionadas pelos processos políticos internos de cada um dos países e frisou que tanto o Brasil como Portugal já acolheram exilados em períodos de ditadura.
O primeiro-ministro considerou natural que cada um, cidadão português ou brasileiro, faça uma avaliação política da situação interna em cada um dos dois países.
“Mas a nossa relação com o Brasil é Estado a Estado, e esta visita foi marcada para a abertura dos Jogos Paralímpicos, numa altura em que se desconhecia qual o presidente brasileiro que estaria em funções”, referiu o primeiro-ministro, numa alusão ao recente processo que conduziu à destituição de Dilma Rousseff, sendo substituída na presidência brasileira por Michel Temer.
No plano diplomático, de acordo com António Costa, “o que seria absolutamente extraordinário era vir ao Brasil e não ter um encontro com o Presidente do Brasil”, Michel Temer.
Um chefe de Estado brasileiro que António Costa diz conhecê-lo pessoalmente e que teve a oportunidade de o receber na Câmara de Lisboa na altura em que desempenhava as funções de vice-presidente do Brasil.
As relações luso-brasileiras, no plano histórico, segundo António Costa, “foram sempre de grande amizade, independentemente de quem esteve no poder em cada país”.
“Foi assim que a ditadura brasileira não deixou de acolher exilados portugueses antes do 25 de Abril de 1974. E não foi por isso que se deixou de acolher exilados do Brasil durante a ditadura militar brasileira – tudo isto em nada prejudicou a relação entre os dois países. Era o que faltava agora termos qualquer tipo de alteração das relações entre os nossos países em função dos processos políticos internos de cada um”, salientou o primeiro-ministro.
Isso porque o Bloco de Esquerda (BE) considerou que o encontro previsto com Presidente do Brasil é “inoportuno” porque Michel Temer chegou ao poder “sem legitimidade e a braços com a justiça”. “No respeito pela soberania do povo brasileiro e sem prejuízo das relações que ligam os dois Estados, o Bloco lamenta o inoportuno encontro marcado para amanhã [quarta-feira] entre o primeiro-ministro António Costa e Michel Temer, um político que chega à presidência da República do Brasil sem legitimidade e a braços com a justiça”, diz o BE em texto divulgado pela Lusa. “A deslocação do primeiro-ministro, anunciada em apoio aos atletas portugueses nos jogos paralímpicos, é uma iniciativa louvável mas que não aconselha nem justifica o encontro com Michel Temer”, prosseguem os bloquistas, que apoiam no parlamento o Governo liderado por António Costa.
Além dos Jogos Paralímpicos e dos objetivos econômico-empresariais, o primeiro-ministro destacou também a vertente cultural, com a inauguração da Bienal de São Paulo, onde Portugal é o único país europeu representado.
“Juntamente com a exposição da bienal, vamos ter mais duas exposições importantes: Uma no Consulado de Portugal; e outra, muito grande, com muitos artistas portugueses – mas, sobretudo, bastante representativa da pintura contemporânea portuguesa -, que vai ser inaugurada no Museu Afro-Brasileiro, a poucos metros da Bienal”, disse.
António Costa afirmou mesmo acreditar que este conjunto de iniciativas ajudará a mudar a imagem do país junto dos cidadãos brasileiros. “Vai ser um grande momento de presença da cultura portuguesa. Um momento que acontece poucos meses após a Experimenta Design ter levado a cabo uma iniciativa também em São Paulo e contribuiu para dar uma visão do Portugal moderno, que nem sempre está presente no Brasil”, acrescentou o primeiro-ministro.