Da Redação
Com Lusa
Nesta quinta-feira, o primeiro-ministro recusou que o Governo português tenha recorrido a poupanças na despesa ao longo de 2020, em conjuntura de crise sanitária, contrapondo que a receita ficou acima do estimado por causa do IRS e emprego.
Esta posição foi transmitida por António Costa em conferência de imprensa, no final do Conselho de Ministros, depois de confrontado com críticas do PSD e do Bloco de Esquerda em relação à execução da despesa no ano passado.
Na resposta, o líder do executivo começou por referir que “Portugal saiu de 2019 com um excedente orçamental e fechou 2020 com um dos maiores défices de sempre”.
“Portanto, houve tudo menos poupança. Se o défice ficou abaixo do previsto – e ainda bem -, não foi por haver poupança na despesa, mas devido ao aumento da receita expectável”, sustentou o primeiro-ministro.
De acordo com António Costa, o aumento da receita de IRS em relação ao nível inicialmente estimado “resultou de dois fatores positivos” que se verificaram em 2020.
“Apesar da crise, a receita de IRS continuou a aumentar em consequência de uma melhoria global dos rendimentos dos portugueses. Por outro lado, os níveis de desemprego não foram tão acentuados quanto aquilo que tinha sido previsto e, nessa medida, o montante das contribuições para a Segurança Social superou claramente as nossas expectativas”, justificou.
Europa
Neste dia 11, o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, exortou Portugal a dar “bom uso” às verbas comunitárias pós-crise da covid-19, esperando que possam ser uma “positiva contribuição” ao crescimento econômico do país, nomeadamente no setor do turismo.
“Pela parte positiva, Portugal está a trabalhar no seu plano de recuperação e resiliência. Conseguir um bom uso deste plano pode dar uma positiva contribuição para o crescimento em Portugal, face ao que estamos a prever nestas previsões”, declarou Paolo Gentiloni, falando em entrevista à agência Lusa e outros meios de comunicação social europeus em Bruxelas.
Nesta entrevista após a divulgação das previsões macroeconômicas de inverno – na qual a Comissão Europeia previu um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) português de 4,1%, uma revisão em baixa da previsão de 5,4% feita em novembro – o responsável destacou o “potencial muito grande do plano de recuperação”.
Porém, Paolo Gentiloni admitiu “grandes problemas relacionados com a estrutura da economia portuguesa”, dada a elevada dependência do turismo externo.
“Um dos fatores é que 8% do PIB de Portugal está ligado ao turismo externo, o que é verdadeiramente excecional”, observou o responsável.
Ainda assim, Paolo Gentiloni questionou: “Será que teremos uma recuperação do turismo externo? Sim, sem dúvida, mas é difícil prever quando é que isso acontecerá, porque para relançar o turismo externo é preciso garantir que o processo de vacinação avança, mas também que as vacinas são capazes de limitar as infeções e, até ao momento, ainda não há evidências científicas sobre essa questão”.
Segundo o comissário europeu, “este fator desconhecido, relacionado com as viagens internacionais e o turismo externo, é importante para Portugal”.
O responsável italiano apontou, ainda, que “na segunda metade deste ano, haverá um relaxamento gradual das medidas restritivas”.
“E a referência que consideramos é que, em 2022, só haverá medidas setoriais muito limitadas”, concluiu.
Nas previsões macroeconômicas intercalares de inverno, hoje divulgadas, a Comissão Europeia espera que o verão de 2021 seja melhor para o turismo europeu do que 2020, mas não prevê uma recuperação total do setor para níveis pré-pandemia este ano, depois de Portugal ser dos mais impactados.
No documento, o executivo comunitário reforça que a “incerteza de planeamento pode também ter um grande impacto em 2021, especialmente para áreas normalmente alcançadas por transporte aéreo”.
“Espera-se que as viagens extracomunitárias demorem mais tempo a recuperar e, como consequência, o turismo citadino terá um impacto adicional”, adianta a instituição.
No que toca às receitas turísticas, “continuarão a ser afetadas” este ano porque são esses mesmos turistas estrangeiros que costumam “gastar mais por dia”, diz ainda.
De acordo com dados apresentados pela instituição nas previsões, Portugal foi o sexto país da UE com maior queda no total de noites passadas nos alojamentos turísticos em 2020 face ao ano anterior, que ascendeu a -61% (total de 30 milhões) em termos totais e a -74% (total de 14 milhões) no caso de não residentes.
Pior que Portugal só Grécia, Malta, Irlanda, Espanha e Chipre.
Relativamente ao desempenho turístico regional entre janeiro e dezembro de 2020, a região de Lisboa foi a mais afetada do país pela pandemia, com um recuo acima dos 70%.