Da Redação com Lusa
No Egito, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, avisou neste dia 06 que o “planeta está a enviar um sinal de sofrimento”, numa mensagem vídeo enviada aos participantes na Cimeira do Clima COP27.
“No momento em que arranca a COP27, o nosso planeta está a enviar um sinal de sofrimento”, afirmou Guterres, citado pela agência de notícias AFP, referindo-se a uma situação “crônica do caos climático”.
A conferência climática da ONU começou neste domingo em Sharm el-Sheikh, no Egito, com um novo alerta sobre a aceleração do aquecimento global, cujo financiamento dos danos a países pobres está pela primeira vez, oficialmente, na lista dos debates.
Segundo dados divulgados hoje pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), os oito anos entre 2015 e 2022 serão os mais quentes já registrados.
Até 18 de novembro, delegados de quase 200 países tentarão dar um novo fôlego à luta contra o aquecimento global, enquanto as múltiplas e inter-relacionadas crises que abalam o mundo – guerra na Ucrânia, inflação e ameaça de recessão, crise alimentar – levantam receios de que o tema vai ficar em segundo plano.
“Vamos implementar juntos [os nossos compromissos] para a humanidade e para o nosso planeta”, apontou o ministro egípcio Sameh Choukri, que preside à cimeira.
Os impactos das alterações climáticas têm-se multiplicado, como mostram os diversos desastres que atingiram o planeta em 2022, desde as inundações históricas no Paquistão, às repetidas ondas de calor na Europa, além de furacões, incêndios, ou secas.
Os custos daqueles desastres já rondam as dezenas de milhares de milhões de euros, pelos quais os países do sul do globo, mais afetados, reivindicam uma compensação financeira.
O tema delicado das “perdas e danos” foi oficialmente adicionado à agenda das discussões, durante a cerimônia de abertura, enquanto até então era apenas objeto de diálogo previsto até 2024.
“O sucesso ou fracasso da COP27 será julgado [conforme se alcance ou não] um acordo sobre este mecanismo de financiamento de perdas e danos”, alertou Munir Akram, embaixador do Paquistão na ONU e presidente do G77 + China, que representa mais de 130 países emergentes e pobres.
A desconfiança dos países em desenvolvimento é forte, enquanto não se cumpre a promessa dos países do norte de aumentar para 100.000 milhões de dólares por ano, a partir de 2020, a ajuda aos do sul, para reduzirem as emissões e se prepararem para os impactos.
Abertura
A Cimeira do Clima COP27 foi hoje formalmente inaugurada com a eleição do novo presidente, o ministro egípcio Sameh Shukri, que prometeu que o encontro será “um ponto de viragem na concretização da ação multilateral coletiva”.
Perante os delegados das mais de 190 entidades que fazem parte deste encontro, promovido pelas Nações Unidas, para enfrentar a crise provocada pelas alterações climáticas, Shukri afirmou que este encontro não cessará os esforços para obter resultados tangíveis, pois “é tempo de passar da fase de negociação para a de implementação dos compromissos”, avançou a agência noticiosa EFE.
O diplomata egípcio insistiu, no seu discurso de abertura, nas mesmas questões que a organização tem vindo a reivindicar há várias semanas: que a situação climática global requer “ação internacional urgente” e que a atual crise política e econômica não deve “desviar os esforços globais para enfrentar as alterações climáticas”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio salientou, ainda, que esta reunião vai procurar arduamente “fornecer o financiamento necessário aos países em desenvolvimento”, para que possam enfrentar a sua transição energética e atenuar os danos causados pela situação ambiental.
Por sua vez, num breve discurso de abertura, o presidente cessante da COP26, o britânico Alok Sharma, salientou que no ano decorrido desde o encerramento da reunião de Glasgow, Escócia, houve muitos “avanços” na gestão global da mudanças climáticas, tendo sido dados passos “históricos e esperançosos”.
“Para todos os céticos do clima, a minha mensagem é clara: por mais frustrante que seja, o sistema de ação [estabelecido pela COP] está a funcionar”, apontou.
No entanto, Alok Sharma acrescentou que, “apesar do progresso, a escala do desafio é crítica”.
“Há muito a ser feito nesta década. Estamos no caminho certo para manter o limite de 1,5 graus celsius de aquecimento, mas devemos ser claros. Por mais desafiador que seja, a inação só pode levar à catástrofe climática”, alertou.
Países pobres
A questão do financiamento de gastos inevitáveis com consequências das alterações climáticas vai ser abordada durante a COP27. Os países pobres e vulneráveis, pouco responsáveis pelo aquecimento mas muito expostos a consequências devastadoras, insistiram durante meses para que a questão das “perdas e danos” (ou prejuízos) fosse oficialmente inscrita na ordem do dia da COP, à qual os países ricos estiveram muito reticentes.
Os países pobres reclamam a criação de um sistema de financiamento específico, quando os desastres climáticos se multiplicam através do mundo, causando prejuízos que se cifram já em dezenas de mil milhões de dólares.
No ano passado, durante a COP, em Glasgow, face à reticência dos países ricos, foi decidida a criação de um quadro de diálogo sobre a questão do financiamento das perdas e danos, até 2024.
A primeira sessão desse diálogo ocorreu em junho. Os países em desenvolvimento e vulneráveis haviam denunciado a falta de progresso e exigido que a questão fosse oficialmente inscrita na ordem de trabalhos da COP27.
Finalmente, um artigo foi acrescentado à agenda oficial da conferência sobre a discussão de “questões relativas aos acordos de financiamento em resposta às perdas e danos associados aos efeitos nefastos das alterações climáticas”, e inclui uma alínea sobre a gestão das perdas e danos.
Numa nota, esclarece-se que os resultados dessas discussões não impedirão eventuais ações legais no futuro.
É sobretudo o medo de enfrentarem eventuais processos legais que leva os países ricos, nomeadamente os Estados Unidos e a Europa, a manifestarem resistência a um reconhecimento específico das perdas e danos.
Consideram, por outro lado, que os “financiamentos climáticos” compreendem já mecanismos suficientes para que possam ocorrer, sem serem acrescidos de complexidade.
Decisores políticos, académicos e organizações não-governamentais reúnem-se entre hoje e 18 de novembro em Sharm el-Sheikh, no Egito, na 27.ª cimeira da ONU sobre alterações climáticas (COP27), para tentar travar o aquecimento do planeta, limitando o aquecimento global a 2ºC (graus celsius), e se possível a 1,5ºC, acima dos valores médios da época pré-industrial.
Líderes como o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, confirmaram a presença, e o Governo português está representado pelo primeiro-ministro, António Costa.