COP26: Portugal ausente de compromisso para acelerar fim de veículos poluentes

Da Redação com agencias

Um grupo de países e empresas anunciou planos para deixar de produzir automóveis com motores de combustão e dedicar-se aos veículos elétricos até 2040 e, ou mais cedo, em 2035, nos principais mercados, mas Portugal ficou de fora.

A declaração foi divulgada paralelamente à 26.ª conferência do clima das Nações Unidas (COP26), a decorrer em Glasgow e hoje dedicada ao tema dos Transportes, e foi apoiada por países como Cabo Verde, Canadá, Chile, Dinamarca, Índia, Nova Zelândia, Polônia, Suécia, Turquia e Reino Unido.

Ford, General Motors, Mercedes Benz e Volvo, assim como vários estados e cidades nos Estados Unidos e noutros países subscreveram, bem como outras empresas como a energética portuguesa EDP, a farmacêutica AstraZeneca ou a plataforma de Uber.

Porém, de fora ficaram países europeus com uma importante indústria automóvel, como França e Alemanha, bem como os Estados Unidos e China, e construtores como a Volkswagen ou Renault, avançou a Lusa.

O grupo ecológico Transporte e Meio Ambiente (T&E), a que a portuguesa Zero pertence, lamentou estas ausências, referindo que “será necessário mais do que uma declaração não vinculativa para limpar a maior fonte de poluição dos transportes” e urgiu que as promessas sejam reforçadas por “metas reais estabelecidas por lei”.

Na Lei de Bases sobre a Política do Clima, aprovada na sexta-feira, Portugal apenas se compromete a proibir veículos exclusivamente movidos com combustíveis fósseis até 2035, deixando de fora os automóveis a gasolina e gasóleo híbridos, o que a associação ambientalista Zero condenou.

Separadamente, vários países também se comprometeram a eliminar gradualmente o uso de camiões e autocarros com motores de combustão interna, associando-se a empresas envolvidas no transporte rodoviário, como grupo de entregas DHL, a construtora Scania e a cervejeira holandesa Heineken.

Decisores políticos e milhares de especialistas e ativistas reúnem-se até sexta-feira na COP26 para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030 e aumentar o financiamento para ajudar países afetados a enfrentar a crise climática.

A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.

Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração econômica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.

Do Brasil

Já no dia 09, aconteceu apresentação da agenda de desenvolvimento para a região Amazônica na COP26, pela copresidente do Painel de Recursos Naturais da ONU, Izabella Teixeira.

Mais de 400 instituições da sociedade brasileira, incluindo ambientalistas, cientistas e bancos privados, levam para Glasgow o documento “Uma Concertação pela Amazônia”.

A ex-ministra brasileira do Meio Ambiente, em Glasgow falando à ONU News, Izabella Teixeira explicou que o foco da agenda é construir caminhos inovadores para o desenvolvimento da Amazônia, com “soluções econômicas que mantenham a floresta de pé”:

“Temos que conter esses retrocessos e trabalhar novos modelos de economia e de inclusão social, promovendo um melhor desenvolvimento humano da Amazônia. Fazendo com que essa nova maneira de produzir, e consumir e trabalhar esse crescimento econômico agregue valor a uma participação da Amazônia de maneira mais estratégica na geração do PIB brasileiro. Então estamos mexendo em renda, em erradicação da pobreza, estamos mexendo em aspectos culturais, estamos mexendo em todas as dimensões que dão a identidade de um país mais justo.”

Izabella Teixeira lembra que existem várias “Amazônias” dentro da Floresta Amazônica, que abriga 27 milhões de habitantes apenas na parte brasileira. Segundo a especialista, a situação não “tem mais como adiar, pois, a natureza não perdoa”.

O documento leva em conta não apenas a questão climática e de desenvolvimento, mas também os direitos dos indígenas e dos quilombolas.

A Concertação abrange várias áreas de interesse, como a questão da bioeconomia, do desenvolvimento, das agendas sociais envolvendo os direitos indígenas, direitos quilombolas, envolvendo os desafios da questão climática e o que é de fato o desenvolvimento da Amazônia e a integração da Amazônia com o Brasil nesse “realinhamento contemporâneo do Brasil numa agenda climática”.

“Você não tem uma Amazônia homogênea. Você tem uma Amazônia urbana, você também tem uma Amazônia preservadíssima, intacta, uma já transformada, degradada, que você precisa recuperar, e uma Amazônia que está sob pressão do desmatamento e você precisa interromper o desmatamento para evitar novas conversões de floresta. Temos que parar, trabalhar com os governadores, com prefeitos, com a sociedade e construir soluções econômicas onde a floresta está de pé”.

“Precisamos entender como é que fazemos a troca de serviços, como é que tem que organizar a floresta, para que ela não alimente economias com atividades que sejam degradantes do ponto de vista ambiental e social. Temos que conter esses retrocessos e trabalhar novos modelos de economia e de inclusão social, promovendo o melhor desenvolvimento humano da Amazônia, e fazendo com que essa nova maneira de produzir, de consumir e de trabalhar o crescimento econômico agregue valor a uma participação da Amazônia de maneira mais estratégica na geração do PIB brasileiro. Estamos mexendo em renda, em erradicação da pobreza, estamos mexendo em aspectos culturais” diz Izabella.

Izabella Teixeira em frente à exposição sobre a Amazônia, de Sebastião Salgado, na COP26

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