Da Redação
Com Lusa
O ministro português da Economia, Pedro Siza Vieira, admitiu aos jornalistas que o Governo irá refletir sobre as previsões que constam do Orçamento Suplementar, após a contração de 16,5% do PIB no segundo trimestre divulgada nesta sexta-feira. Segundo o ministro, os dados revelam “quebra abrupta” em consequência da pandemia, mas já vê sinais positivos em junho.
“Obviamente estes números vão obrigar a refletir sobre as previsões do Orçamento Suplementar. Estes números vão obrigar a refletir sobre as projeções que constam do Orçamento Suplementar, não é nada que não antecipássemos já e vão, portanto, levar-nos a fazer essa reflexão”, disse Pedro Siza Vieira, num comentário à queda do PIB divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
O governante sublinhou, no entanto, que os dados estão em linha com as estimativas da Comissão Europeia, e que em junho já se registraram sinais de retoma.
No trimestre em que se registrou a maior queda de sempre do PIB português em termos homólogos, a queda em cadeia – relativamente ao primeiro trimestre do ano – foi de 14,1%, adiantou também o INE.
“Vamos continuar atentos aos próximos tempos. É de esperar que neste trimestre já teremos um crescimento relativamente ao segundo trimestre. Vamos ver qual é o ritmo de crescimento da economia nestes próximos meses e até ao final do ano para tentar perceber qual será, no conjunto do ano de 2020, o impacto desta pandemia na economia”, disse.
Em comunicado, o Ministério das Finanças lembrou também que a contração muito acentuada da economia no segundo trimestre se está verificar em todo o mundo e está em linha com a queda verificada os principais parceiros econômicos como Espanha (22,1%), França (19%) e Itália (17,3%).
“Esta redução muito acentuada do PIB no segundo trimestre reflete o impacto provocado pela pandemia de covid-19 e está associada ao período de maior recolhimento do estado de emergência, que vigorou entre 18 de março e 2 de maio, e das restantes medidas de proteção sanitária implementadas e consequente queda da atividade econômica”, refere.
Nas últimas semanas, acrescenta, “os indicadores econômicos de alta frequência apresentam já sinais de uma recuperação progressiva da atividade econômica”.
Recuperação é Miragem
A queda do PIB, em 16,5%, no segundo trimestre, em termos homólogos, mostra que a recuperação econômica “é uma miragem”, defendeu a Associação Empresarial de Portugal (AEP), em comunicado.
A entidade destacou que “teve hoje a confirmação oficial daquilo que as empresas e, consequentemente, a economia portuguesa já têm vindo a sentir: uma quebra abrupta na atividade, de que não há memória”.
“Significa que, como prevíamos, estamos em recessão técnica, tal como estão os nossos principais parceiros comerciais, que registaram igualmente reduções no seu PIB na ordem dos dois dígitos”, destacou a AEP.
A associação recordou ainda que “os dois principais mercados de destino das exportações portuguesas registraram a evolução mais severa, com o PIB espanhol a cair 18,5% em cadeia e 22,1% em termos homólogos e o PIB francês a registar uma quebra de 13,8% em cadeia e de 19% em termos homólogos”, a que acresce “a forte quebra na Alemanha (-10,1% e -11,7%) e em Itália (-12,4% e -17,3%)”.
Por isso, para o presidente da AEP, Luís Miguel Ribeiro, citado no mesmo comunicado, “estes dados suscitam elevada preocupação e demonstram bem que, infelizmente, a tão desejada fase de retoma é neste momento ainda uma miragem e constituem, por isso, mais uma prova da necessidade de uma redobrada atenção e, fundamentalmente, de uma rápida atuação por parte das políticas públicas”.
A AEP sublinhou “a enorme importância das medidas de apoio à economia, nomeadamente o prolongamento do ‘lay-off’ simplificado, no modelo que funcionava até agora, pelo menos até ao final do ano” e pediu ainda “outras medidas de apoio à enorme carência de liquidez das empresas portuguesas”.
Para a AEP é essencial “colocar no terreno as linhas de crédito com garantia do Estado já reforçadas, os seguros de crédito à exportação, várias medidas fiscais, bem como a realocação de verbas do Portugal 2020 para o tecido empresarial”.
A associação apelou ainda à “implementação de uma política laboral flexível, que se adeque à dinâmica da atividade econômica”.
“Neste contexto, a prioridade de Portugal terá de se centrar, cada vez mais, no reforço do apoio à atividade empresarial”, vincou o organismo.
Pequenas empresas
O presidente da Confederação das Micro, Pequenas e Médias Empresas considerou urgente a criação de um fundo de tesouraria para suportar os efeitos da atual crise econômica, proposta que o PS vai transmitir ao Governo.
Esta medida foi reivindicada por Jorge Manuel Pisco após uma reunião de cerca de uma hora com o secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, e com o coordenador da bancada socialista para as questões da Economia, Hugo Costa.
“No momento presente, é fundamental para as micro, pequenas e médias empresas a criação de um fundo de tesouraria. Num momento em que muitas empresas não conseguem faturar, era muito importante que o Governo olhasse para este setor”, declarou no final da reunião, que se realizou na sede nacional do PS, em Lisboa.
Jorge Manuel Pisco disse que apresentou ao PS “as preocupações e angústias” que os micro e pequenos empresários têm no presente.
“Ao longo destes meses, temos apresentado várias propostas ao Governo e, nesta reunião, houve uma troca de opiniões bastante construtiva”, referiu.
Logo a seguir, o secretário-geral adjunto do PS manifestou a disponibilidade de os socialistas sensibilizarem o Ministério da Economia em relação às dificuldades que estão a ser sentidas por micro e pequenos empresários.
“É relevante o facto de o Governo ter encontrado um conjunto de soluções para os períodos mais críticos desta crise, nomeadamente os da emergência e da estabilização econômica e social, através de linhas de crédito, mecanismos de lay-off ou moratórias fiscais, designadamente em sede de IRC e IVA. Por outro lado, ouvimos a proposta que nos foi apresentada de aperfeiçoamento de alguns desses instrumentos e de sensibilização dos tempos difíceis que se poderão agravar nos próximos meses para muitas micro e pequenas empresas”, referiu José Luís Carneiro.
Por essa razão, segundo o “número dois” da direção do PS, existe da parte do seu partido e do Governo “consciência da necessidade de aperfeiçoar alguns instrumentos e também que as propostas políticas possam chegar ao terreno”.
Em relação à proposta para a criação do fundo de tesouraria, José Luís Carneiro disse que o PS se compromete em transmiti-la ao ministro de Estado e da Economia, Pedro Siza Vieira.
“Trata-se de um fundo de tesouraria e, em termos muito objetivos, sem taxas de juro. Mas há duas medidas que foram adotadas a pensar neste segmento da economia: O programa Adaptar e a linha de crédito destinada especificamente às micro, pequenas e médias empresas”, acrescentou.