Mundo Lusíada
Com Lusa
Os sindicatos que representam os trabalhadores da TAP, entre os quais os pilotos, decidiram avançar com uma greve de quatro dias, entre 27 e 30 de dezembro.
Num comunicado conjunto, a plataforma que reúne os 12 sindicatos da TAP refere que a greve tem como objetivo “sensibilizar o Governo para a necessidade de travar o processo de privatização”.
“As garantias invocadas pelo Governo, até este momento, não são credíveis, nem eficazes. O interesse nacional não é salvaguardado. Não há urgência em privatizar, tal como o ministro da Economia transmitiu no passado dia 05 de Dezembro, na Assembleia da República”, adianta o comunicado da Plataforma Sindical da TAP, divulgado após uma assembleia-geral do Sindicato dos Pilotos de Aviação Civil realizada em 10 de dezembro.
Os 12 sindicatos sublinham que a privatização do grupo “não garante o crescimento da atividade, nem a manutenção da TAP de hoje, nem o nível do emprego, nem as receitas fiscais, nem os fluxos turísticos no território nacional”.
A Plataforma acusa o Governo de pretender entregar todo o grupo TAP “a interesses privados, por um preço irrisório, mas rejeitar uma participação significativa aos trabalhadores, que são um fator de estabilidade do centro de decisão empresarial em Portugal”.
“Os interesses vitais dos trabalhadores ficam comprometidos“, sustentam os sindicatos, realçando que “é necessário combater com toda a energia este modelo de privatização e salvaguardar o futuro do grupo TAP, dos trabalhadores e do país”.
Os sindicatos referem também que o Governo, ao excluir os trabalhadores do processo de reprivatização da TAP, põe “em causa a continuidade dos acordos de empresa em vigor, os postos de trabalho, os direitos contratuais estabelecidos e a utilização do trabalho”.
O Governo aprovou em novembro passado o relançamento do processo de privatização da TAP, pela alienação de ações representativas de até 66% do capital social da TAP SGPS.
Prejuízos
O vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, criticou a greve. “É, lamento dizê-lo, um ato de egoísmo face a uma economia que está a esforçar-se enormemente para recuperar e sair da crise“, declarou citando um grande prejuízo nesta época e complicações para as famílias portuguesas.
O presidente da Associação das Agências de Viagem e Turismo já disse que a greve anunciada implicará em prejuízos astronômicos e poderá provocar a perda de postos de trabalho.
Segundo o presidente da associação, Pedro Costa Ferreira, uma greve realizada nessa altura irá prejudicar “de forma cruel” as famílias portuguesas, “que, naturalmente, utilizam este período do ano quer para visitar famílias, quer para passar férias”.
Lembrando que “há muitos hotéis que já estão pré-pagos”, alertou que os turistas ou visitantes portugueses prejudicados pela greve não vão receber reembolso. “Estamos a falar de pessoas que pouparam ao longo do ano para, nesta altura, visitarem as suas famílias ou passarem férias e que simplesmente vão ficar sem o dinheiro”, criticou.
Para Pedro Costa Ferreira, a greve também irá prejudicar a TAP, “em vários milhões de euros”, já que “vai enfraquecer a posição econômica e financeira na companhia”. Por isso, sublinhou, a paralisação vai enfraquecer a posição da TAP na privatização.
“Muito provavelmente vamos ter um preço que de venda mais barato e, por causa disso, — coisa que eu estranho francamente uma vez que estamos a falar de uma possível greve dos trabalhadores da TAP – coloca em risco várias centenas ou milhares de postos de trabalho na TAP”, lamentou Pedro Costa Ferreira.
Por outro lado, acrescentou o presidente da Associação Portuguesa de Viagens e Turismo, a greve também poderá levar a despedimentos noutras empresas, “nomeadamente em agências de viagens, que nesta altura do ano tinham as suas últimas esperanças de equilibrar as suas posições e exercícios”.
Por último, referiu, a paralisação irá “prejudicar o país em geral como destino turístico, porque haverá uma quebra de confiança e as quebras de confiança pagam-se caro a nível mundial”.
Portugália com adesão total
Ainda, a adesão à greve dos tripulantes de cabine da Portugália (PGA), que começou às 00:00 do dia 12, é “quase total”, disse à agência Lusa Ivo Fialho, do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC). “Tirando os voos de serviço mínimo, que têm de ser obrigatoriamente feitos, e os voos de regresso a Portugal. Nos outros todos que estavam previstos, os tripulantes vão fazer greve”.
A greve de dois dias deverá ter impactos reduzidos, já que a maioria dos passageiros foi contactada e transferida para outros voos. O diretor do SNPVAC adiantou que a PGA optou por cancelar com antecedência a maior parte dos voos.
Hotelaria
Também na Ilha da Madeira, trabalhadores do setor da hotelaria do arquipélago vão estar em greve no final do ano, contra a “denúncia do acordo coletivo de trabalho”, segundo o sindicato que convocou o protesto. A greve foi convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores na Hotelaria, Turismo, Alimentação, Serviços e Similares da Região Autônoma da Madeira para os dias 30 e 31 de dezembro e 01 de janeiro, como forma de protesto.
Segundo o presidente do sindicato, Adolfo Freitas, “desde agosto de 2013 que as entidades patronais fizeram a denúncia do contrato coletivo de trabalho e querem impor o retrocesso social, ao retirar todos os direitos que os trabalhadores têm e que foram conquistas históricas”.
Adolfo Freitas lembrou, por outro lado, que 2013 e 2014 foram “anos excelentes de entrada de turistas e de receitas”, mas que isso não se traduziu em qualquer aumento salarial para os trabalhadores.
Questionado sobre a convocatória desta greve, o presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, disse-se convicto de que “a maioria esmagadora dos trabalhadores madeirenses é consciente e não vai em fantasias do partido comunista”, força política que considerou estar por detrás do protesto.