Por Ígor Lopes
Do Rio para o Mundo Lusíada
Que o papel das Câmaras Portuguesas de Comércio e Indústria no Brasil é fundamental nas relações comercias entre os dois países, ninguém tem dúvida. Resta saber se esse contato entre Brasil e Portugal está no bom caminho. Tendo em vista o número de portugueses que decidiram se mudar para o nosso país em pouco mais de um ano, pode-se concluir que as nossas relações com Portugal continuam vivas.
O Mundo Lusíada conversou com Rômulo Alexandre Soares, presidente do Conselho das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil. Durante a nossa entrevista, foi possível perceber que o conselho preza pelo bom relacionamento econômico entre os dois países, promovendo serviços e negócios. Este responsável falou ainda sobre os motivos que levaram à fundação das câmaras portuguesas no Brasil, do relacionamento dessas entidades com o governo central português e sobre a Câmara Portuguesa do Rio, que celebrou 100 anos de existência no ano passado.
Mundo Lusíada: Qual é a importância do Conselho das Câmaras Portuguesas de Comércio no contexto empresarial brasileiro?
Rômulo Soares: O Conselho é uma entidade formada pelas 13 Câmaras Portuguesas de Comércio existentes no Brasil e tem por objetivo ser um centro de articulação de ações de interesse comum dessas câmaras na promoção dos negócios luso-brasileiros. Os estados brasileiros onde existem câmaras portuguesas são: Bahia, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.
ML: Que trabalhos o Conselho desempenha?
RS: Em termos operacionais, o Conselho coordena uma plataforma eletrônica de comunicação das câmaras, através do portal www.brasilportugal.org.br, bem como na promoção dos negócios entre os países da CPLP, através do portal www.negociosna linguaportuguesa.com, além de ser responsável pela veiculação de um boletim de notícias de circulação quinzenal, enviado para uma lista de cerca de 30 mil empresários brasileiros, portugueses e de comunidades de língua portuguesa ao redor do mundo.
Em 2007, iniciamos um trabalho de divulgação no Brasil da comunidade dos países de língua portuguesa (tendo como ponto chave o evento Encontro de Negócios na Língua Portuguesa, realizado em Fortaleza, no Estado do Ceará no ano de 2009) e, desde 2010, também estamos desenvolvendo um trabalho de divulgação em torno do Acordo entre União Européia e Mercosul, que é outro importante instrumento que poderá facilitar as trocas comerciais entre os dois países (tendo como ponto chave, o evento Encontro de Negócios Brasil-Portugal – O ambiente de negócios luso-brasileiros no espaço intercomunitário da União Européia e Mercosul).
Também nos envolvemos em trabalhos de pesquisa no âmbito das relações de comércio entre Brasil e Portugal, visando a ampliar as exportações portuguesas para o Brasil. Em 2007 e 2009 patrocinamos um estudo encomendado pela Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil em São Paulo com Cisa Trading, em iniciativa financiada por este Conselho, e desenvolvida pela Funcex, para identificarmos o que Portugal e Brasil produzem e vendem no exterior e o que cada um compra do outro. Portugal tem competitividade internacional, mas o Brasil importa pouco os produtos portugueses, comprando similares de outros países. Precisamos, então, incentivar mais conhecimento para que possamos conseguir alcançar o objetivo de fazer o nosso comércio crescer.
Do ponto de vista do apoio ao investimento também temos desenvolvido importantes ações, como, por exemplo, a proposta junto aos governos português e brasileiro para a extinção da necessidade de consularização de documentos, uma vez que esse trâmite burocrático já foi abolido desde 2006 entre os governos brasileiro e francês.
ML: Qual é o relacionamento do Conselho com as Câmaras Portuguesas no Brasil?
RS: Como disse acima, a missão do Conselho é servir as 13 Câmaras de Comércio Portuguesas no Brasil e, deste modo, servir às relações luso-brasileiras, praticando, sobretudo, uma ação de auxiliar as Câmaras na afirmação de seu papel na diplomacia econômica e na busca da auto-sustentabilidade.
ML: O Conselho tem dados da existência de Câmaras Portuguesas espalhadas pelo mundo?
RS: O Conselho tem se articulado com as demais congêneres ao redor do mundo, em especial com aquelas vinculadas à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe), no sentido de reforçar o debate sobre o que deve ser feito para impulsionar os negócios em língua portuguesa e promover o intercâmbio comercial. Também temos relacionamento com Câmaras Portuguesas localizadas em países em que a língua oficial não é o português, a exemplo das Câmaras Portuguesas localizadas em países da União Européia, América Latina e América do Norte. No âmbito Sul Americano, o Conselho participa de uma entidade que congrega todas as câmaras portuguesas existentes na América do Sul.
ML: É possível descrever em que cenário nasceu a necessidade de se “fundar” as Câmaras Portuguesas aqui no Brasil?
RS: A existência das Câmaras Portuguesas no Brasil é fruto do expressivo relacionamento comercial entre Portugal e Brasil. No início do século, a comunidade empresarial portuguesa no Brasil sentiu a necessidade de formar um centro de articulação empresarial e, com isto, em 1911 foi autorizada pelo governo português a formação de câmaras portuguesas de comércio no Brasil, sendo a primeira instalada no Rio do Janeiro, naquele mesmo ano. Nos anos seguintes constituíram-se câmaras em São Paulo (1912), Pernambuco (1913) e Pará (1916). Num ambiente de expressivo investimento português a partir dos anos 1990, multiplicaram-se as áreas de investimento, estendendo-se a presença portuguesa para outros estados, provocando, deste modo, o nascimento de novas câmaras, alcançando as atuais 13.
ML: No ano passado, a Câmara Portuguesa do Rio comemorou 100 anos de existência. Como avalia esse percurso e que lição podemos tirar desse centenário?
RS: A celebração dos 100 anos da Câmara Portuguesa de Comércio do Rio de Janeiro é um marco histórico para uma cidade que tem profundas relações com Portugal. O resgate dessa história foi uma ação importante que a Câmara fez durante 2011. Dentre as ações que julgamos mais relevantes, destacamos o lançamento do livro “A Outra Margem do Atlântico: a Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro e as relações comerciais luso-brasileiras”.
ML: Existe alguma relação entre o Conselho e o Governo português?
RS: Faz parte dos objetivos do Conselho facilitar o processo de integração das Câmaras de Comércio Portuguesas no Brasil e sistematizar um diálogo com o Governo português e brasileiro sem, contudo, limitar a autonomia de diálogo que cada uma dessas Câmaras possui no Brasil e em Portugal. As instituições luso-brasileiras, assim como seus representantes de governo, têm estabelecido fortes parcerias ao longo dos anos. É claro que o apoio pode e deve ser intensificado através de programas direcionados. A exemplo das parcerias institucionais com o MRE, APEX, a AICEP, a FCCE, a Câmara Luso-Brasileira em Lisboa, importante parceira em Portugal, além da AIP. Embora a sede do Conselho esteja localizada em Brasília, sua secretaria é rotativa, de acordo com a localidade da Câmara a qual o presidente eleito esteja vinculado.
ML: O que o Conselho espera da comunidade portuguesa que reside no Brasil?
RS: De acordo com Serviços do Ministério dos Negócios Estrangeiros Português,
a comunidade portuguesa no Brasil é constituída por cerca de 700 mil pessoas, incluindo os bi-nacionais, caracterizando uma das mais importantes comunidades portuguesas no estrangeiro. A comunidade portuguesa, ainda que perfeitamente integrada na sociedade brasileira, constitui um importante movimento de preservação e difusão da cultura portuguesa fora de Portugal.