Da Redação
Com Lusa
Os conselheiros das comunidades portuguesas exortaram o Governo a ouvir mais os emigrantes, em vez de impor uma política feita “a partir de Lisboa”, para evitar “assistencialismo e paternalismo”.
“Se não queremos assistencialismo nem paternalismo, como diz o próprio Governo, é importante que a política das comunidades venha das comunidades para Portugal e não de Portugal para as comunidades, ou que, pelo menos antes de ser devolvido para as comunidades, que elas sejam mesmo escutadas”, disse Flávio Martins, presidente do conselho permanente do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP).
O conselho permanente do CCP, com 12 conselheiros, foi ouvido nesta quinta-feira por deputados com assento na comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, no parlamento português, onde este órgão se reúne até sexta-feira.
“A visão é sempre a partir de Lisboa. As pessoas aqui de Portugal deveriam ouvir mais as comunidades, não apenas o CCP, mas as comunidades mesmo”, considerou o responsável do CCP, que elogiou a iniciativa do atual executivo de levar membros do Governo ao encontro de emigrantes, nos chamados “Diálogos com a Comunidade”.
No final da reunião, em que participaram deputados do PS, PSD e PCP, Flávio Martins lamentou a ausência de eleitos do Bloco de Esquerda e do CDS-PP.
Durante a audição, Amadeu Batel, conselheiro pela Europa, deplorou o que disse ser a “não inscrição das comunidades portuguesas no espaço político português”, defendendo que “há muito trabalho a fazer” na educação das novas gerações sobre os emigrantes.
“Não vale a pena darmos direito de voto a 1,2 milhões de emigrantes. Tem de se motivar [as pessoas] e para isso tem de haver uma política concertada”, sustentou, aludindo à proposta do Governo de facilitar a inscrição dos emigrantes através do recenseamento automático.
Flávio Martins também reconheceu que o CCP “precisa de se afirmar mais, a nível institucional”, e uma das propostas em cima da mesa é a criação de uma página na internet deste organismo.
A reunião do conselho permanente do CCP prossegue até sexta-feira, com a aprovação de um plano de ação até 2020 e a eleição de uma nova mesa diretora para um novo mandato (um ano).
Venezuela
Durante o evento, a conselheira da comunidade portuguesa na Venezuela Maria de Lurdes Almeida acusou o PCP de “blasfemar e mentir” sobre a crise social e política na Venezuela, lamentando a ausência de “um voto único de solidariedade” do parlamento português.
“Eu respeito muito as ideologias partidárias [do PCP], mas não concordo que, por defender umas ideologias de partido, se cometa o que se está a cometer de blasfemar, de mentir, dia após dia, sobre o que se está a passar na Venezuela”, afirmou.
Nas últimas semanas, o parlamento português aprovou um voto de solidariedade e apoio aos portugueses que vivem na Venezuela, mas o PCP votou contra um ponto por não fazer referência às “ingerências externas” no país, enquanto um voto de condenação proposto pelo CDS sobre o agravamento da “situação de instabilidade e insegurança” na Venezuela teve a oposição dos Verdes e dos comunistas, que foram acusados de “branquear” o regime “ditatorial”.
Já o PCP viu aprovados dois pontos de um voto de “repúdio pelas ações de ingerência e desestabilização” contra a Venezuela, nos quais se reafirma “o direito do povo venezuelano a decidir soberanamente sobre o seu caminho de desenvolvimento livre de quaisquer ingerências e pressões externas e em paz”.
Com a abstenção do PS, os votos contra do PSD, do CDS-PP e de oito deputados socialistas, o segundo ponto aprovado manifesta “apoio e solidariedade à comunidade portuguesa” que, “como o povo venezuelano, é vítima da campanha de ingerência e desestabilização”.
Hoje, a conselheira portuguesa na Venezuela criticou declarações do eurodeputado comunista João Ferreira, de que o país “estava melhor do que nunca”. “É muito fácil falar quando se está longe”, lamentou. Maria de Lurdes Almeida sustentou que era “muito importante” que o parlamento português tivesse uma voz única sobre a situação dos portugueses.
Em declarações aos jornalistas, a deputada comunista Carla Cruz garantiu que o PCP está preocupado com os portugueses na Venezuela. Carla Cruz recordou que a iniciativa que apresentou no parlamento “fazia uma referência explícita de manifestação de solidariedade e apoio à comunidade portuguesa que vive na Venezuela”, além de os deputados comunistas terem votado favoravelmente o ponto do voto do PSD que se referia aos portugueses.
Desde o início de abril, uma onda de manifestações anti-Governo de Nicolás Maduro tem sido marcada por violentos confrontos com a polícia, que fizeram quase 30 mortos e centenas de feridos. O Governo português também divulgou que possui um plano de contingência para a comunidade portuguesa na Venezuela, em caso de agravamento da situação no país.
“O que desejamos é que esse cenário se não coloque, embora o Estado português tenha de estar preparado, como esteve no passado, quando ocorreram crises na Guiné ou na Líbia, para procurar dar resposta às necessidades que venham a ser colocadas”, declarou o secretário de Estado das Comunidades, José Carneiro.