Conseguiram parecer assustados

Só a uma primeira vista podem parecer estranhas as considerações do Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho, e de Paulo Portas, em torno da chamada de atenção do primeiro para a suposta ilegalidade de tumultos futuros, e do aviso do segundo para o desperdício de riqueza ao redor de futuras greves que possam vir a ter lugar no seio da sociedade portuguesa. Duas intervenções com o seu quê de incendiário, até mesmo com uma visível marca anti-democrática, mas que têm uma explicação muito simples de perceber.
Há, porém, um dado que tem aqui de explicitar-se: a primeira daquelas duas intervenções foi de uma extrema infelicidade política, mostrando o que eu tantas vezes salientei em escritos meus, e que é a inexperiência política de Pedro Passos Coelho, ao passo que a segunda, muito mais polida e lógica, constituiu, digamos assim, uma espécie de ajuda à defsa da péssima imagem que logo se colou ao Primeiro-Ministro.
Uma coisa é vir falar, sem um ínfimo de lógica, até contra quanto se conhece do modo de estar na vida dos portugueses, como fez o Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho, outra vir salientar que possíveis greves futuras, para lá de pouco virem a conseguir, ainda criariam mais dificuldades ao País e a (quase) todos os portugueses. Esta é política e logicamente correta, a primeira acabou por ser vista como uma ameaça encapotada, embora, quase com toda a certeza, tenha sido uma natural consequência do que atrás referi: a impreparação política do atual Primeiro-Ministro.
Estas duas reações sucessivas, para lá da anterior explicação, tiveram uma causa primeira: o potencial de arrastamento social que se admitiu poder vir a ser causado pelas reações duras e adversas de muita gente adepta da atual maioria de poder. Simplesmente, e tal como pude já explicar em escrito anterior, tais protestos ficaram a dever-se ao facto dos recentes aumentos de impostos e da retirada de deduções fiscais atingirem também os patamares elevados dos nossos políticos e de muitos dos maiores ganhadores. Ora, o que tais protestadores pretendem é que se evitem gastos do Estado com esta mesma estrutura, despedindo a eito, uma vez que neste movimento ninguém da nossa soberania, bem como os seus familiares, será posto em causa.
O que estes protestadores pretendem é mais penalizações sobre os pertencentes aos escalões mais baixos, que só dependem, sem outros apoios, do seu trabalho. Terão, naturalmente, de considerar-se discordantes das medidas de taxar os de maiores rendimentos, porque eles fazem parte desse mesmo grupo.
Acontece que Pedro Passos Coelho por rápido deverá ter operado esta dupla estimativa: se os pontos de vista de Luís Marques Mendes e de José Pacheco Pereira significam pouca coisa, já o de Marcelo, embora algo inexplicavelmente, sempre vale um pouco mais, sendo que o de Manuela Ferreira Leite logo seria tomado – e foi-o – como um eco a sons de Belém, e pelas consequências sociais de tais vozes, normalmente hipertrofiadas pela grande comunicação social.
Um dado, porém, é certo: se riscos puderem surgir para a estabilidade funcional do atual Primeiro-Ministro, esses riscos terão de vir do interior do seu próprio partido, mormente do ditos cavaquistas, e nunca por via da adesão da população a uma ínfima expectativa face a um qualquer projeto alternativo do PS, seja com António José Seguro, seja com Francisco Assis, António Costa, João Soares ou qualquer outro. Basta olhar a recente participação de Mário Soares no encontro de jovens do PSD, com as palavras que ali proferiu, depois das considerações que de há muito vem fazendo sobre Pedro Passos Coelho, para de imediato se perceber que o que hoje se passa merece a melhor compreensão dos (designados) socialistas. No fundo, acabaram por perceber que o melhor seria deixar que o PSD se encarregasse de destruir a Constituição de 1976, assim procurando salvaguardar-se de responsabilidades históricas.
Por fim, o erro inútil do Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho: com esta sua infeliz tirada, marca de uma objetiva impreparação política, ele passou a ficar com a responsabilidade de ter elevado a fasquia da (potencial) violência social a um nível em que se não encontrava. Um nível que, nos termos do que a nossa História de há muito mostrou, está ausente da nossa sociedade. No fundo, foi ele que deu o primeiro passo.

Hélio Bernardo Lopes
De Portugal

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