Da Redação
Paulo Alexandre Nascimento Cafôfo, o novo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, tomou posse no último 30 de março.
Em entrevista a Revista Comunidades, parceira do Mundo Lusíada em Portugal, Paulo Cafôfo citou a “honra” e “grande responsabilidade” na sua nomeação, ainda mais quando se trata de servir os portugueses espalhados pelo mundo, segundo ele.
“Um grande desafio que encaro com entusiasmo e que me entregarei com competência e coração. Tenho a expectativa de ter a colaboração de todas e de todos os que também têm responsabilidades na diáspora, sejam aqueles que exercem funções na nossa rede consular, sejam os Cônsules Honorários, os Conselheiros das Comunidades Portuguesas, e os milhares de representante de instituições associativas que fazem um trabalho extraordinário de integração dos portugueses no estrangeiro, divulgando simultaneamente a nossa cultura e afirmando a nossa identidade” declarou.
“Espero também ser bem acolhido pelas centenas de milhares de portugueses e lusodescendentes por esse mundo além, num abraço que nos une, naquilo que somos e podemos fazer para sermos felizes nas opções que tomamos.
Tenho um enorme respeito pela coragem daqueles que, por uma razão ou outra, deram um rumo à sua vida fora do nosso país, e nos inspiram todos os dias com as suas qualidades humanas, capacidade de trabalho, inteligência e visão. Características que nos distinguem entre tantos povos. Todos somos necessários para honrar a bandeira do nosso país, e conto com o envolvimento e a proativade de todas as pessoas, tal como, quero garantir-vos, podem contar comigo” declarou à revista.
O novo SECP defendeu que vai “aproveitar” o que de bom foi feito, melhorando e inovando medidas que visem ajudar as pessoas. “Se as incertezas no mundo são muitas, temos de criar condições para que haja estabilidade nas relações entre o Governo e as nossas comunidades, sabendo que os problemas são muitos e que não podem ser resolvidos de uma só vez. Mas temos de avançar e dar passos seguros, trilhando um caminho em que pisamos um chão comum: o do diálogo”.
Para Cafôfo, as comunidades portuguesas no estrangeiro têm de ter uma importância estratégica para o país. “Além de darem dimensão ao país, alargando as nossas fronteiras geográficas e políticas, acrescentam valor econômico e cultural, fatores determinantes para o nosso desenvolvimento no presente, enquanto nação moderna e próspera, e mais importante, com futuro. Ora, sendo os portugueses espalhados pelo mundo, verdadeiros embaixadores da língua portuguesa e do país, cabe ao Governo reforçar os laços com as comunidades. Para isso, estes portugueses apesar de estarem longe, têm de ser tratados com a dignidade que merece qualquer cidadão que resida no território nacional. Nesse sentido, os assuntos da diáspora têm de ser trabalhados com estratégia e através de uma política integrada, que atue em diversas frentes e de forma complementar”.
O bom funcionamento da rede consular, com a simplificação de procedimentos e a melhoria da acessibilidade aos serviços, através das novas tecnologias, “merecerá a nossa melhor atenção e empenho” declarou. “Com a implementação do novo modelo de gestão consular, existe já uma base que precisa de evoluir, para a concretização mais efetiva de uma simplificação, e consequente aproximação das pessoas, indo assim ao encontro das suas necessidades”.
Associações
“O associativismo, essa marca da afirmação da nossa identidade no mundo, que espalha tão bem a portugalidade, é também fator de coesão e união, promovendo a solidariedade e fraternidade, valores cada vez importantes num mundo individualista. Pela sua dinâmica e vitalidade, as associações são absolutamente estratégicas para a ligação ao país. A língua portuguesa como elo de ligação entre todos nós é uma aposta que temos de manter e elevar, transmitindo a nossa língua às gerações seguintes. Esta língua que permite também a cooperação entre tantos países e é cada vez mais falada em redor do globo, tem de ser continuamente expandida. Para valorizar a nossa língua, que à escala global conta já com mais de 260 milhões de falantes, é fundamental a promoção de um ensino de qualidade, naquela que tem de se afirmar como uma língua para o mundo”.
O novo executivo também deve continuar a intervir através de mecanismos de proteção social, e apostar nos investidores da diáspora.
“As nossas comunidades têm tido, ao longo da nossa história, uma ação determinante no crescimento econômico do país, pelo que compete-nos potenciar esse ativo de desenvolvimento, através da promoção e incentivo ao investimento da diáspora. Esse objetivo ainda se torna mais relevante, se os investimentos forem canalizados com a finalidade de combater o despovoamento e o envelhecimento populacional, fomentando-se a coesão social e territorial”.
Também defendeu o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), o órgão consultivo do Governo para as políticas relativas à emigração e às comunidades portuguesas no estrangeiro, como “uma das melhores formas de potenciar a cidadania, a participação e a representatividade democrática”. “Há alterações legislativas que estão a ser desenhadas, mas será em diálogo com os Conselheiros, que encontraremos as melhores soluções para aquele órgão ter condições de continuar a exercer a sua nobre missão”.
Sobre milhares de jovens emigrantes em mobilidade, para os quais a Europa é o seu mercado de trabalho, o SECP defendeu ser um capital humano que tem de ser valorizado em qualquer parte do mundo. “Muitos destes nossos jovens são empreendedores, pelo que lhes temos de dar as oportunidades que necessitam, eles que são a geração mais bem preparada de sempre” defendeu.
“Os produtos portugueses, além da sua reconhecida qualidade, são muito apreciados por toda a nossa comunidade, pelo que faremos, no âmbito dos programas que estão a decorrer, todos os esforços de modo a potencializar a sua comercialização e reconhecimento. A Marca Portugal tem de ser afirmada de forma eficaz” defendeu.
Paulo Cafôfo também defendeu um mundo funcionando em rede. “No mundo global em que vivemos, o sucesso só poderá ser alcançado se funcionarmos em rede. Pretendo desenvolver um verdadeiro trabalho em rede, de modo a cruzar e partilhar informações, bem como conhecimento. Nos programas que estão curso e em desenvolvimento, esse cruzamento já está a ser efetuado e a que, seguramente darei continuidade”.
Os Encontros, como PNAID que reunia Investidores da Diáspora, tiveram de ser adiados para 2022 devido à pandemia, mas o novo governo está “empenhado” em encontrar uma data consensual para a sua realização. “Quero ainda chamar a atenção para a Rede de apoio ao Investimento da Diáspora, que iremos apresentar em breve, e que se baseia, em grande parte, nas estruturas de atendimento ao emigrante”.
Sobre o Programa Regressar, quando questionado sobre um regime fiscal mais favorável para quem regressa e uma linha de crédito para apoiar o investimento empresarial e a criação de novos negócios em Portugal, citou que será trabalhado com o Ministério do Trabalho e da Segurança Social, “de modo a ultrapassar alguns constrangimentos que ainda possam existir” dentro do programa.
“Tenho pelos portugueses e pelas portuguesas que residem e trabalham no estrangeiro o maior respeito pela sua coragem, dinamismo, empreendedorismo e humildade. São um exemplo e uma inspiração. Como Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, desejo esbater a distância física que os separa do nosso país, estando sempre presente e próximo. E essa proximidade será efetivada em deslocações aos países e regiões de acolhimento, mas também em políticas que resolvam os seus problemas e simultaneamente os valorizem como portugueses de pleno direito. A melhor forma de homenagear e dignificar estes portugueses, que levam a saudade por esse mundo além, e que sentem a portugalidade como mais ninguém, é servi-los com dedicação e muita paixão” concluiu.
Histórico
Paulo Cafôfo nasceu no Funchal em 18 de maio de 1971, na Freguesia de Santa Luzia. Tem dois filhos.
Licenciou-se em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Tornou-se professor de História e exerceu docência em várias escolas da Região Autónoma da Madeira, a par de diversos cargos de direção nos Conselhos Executivos e Pedagógicos. O seu conceito de cidadania participativa fê-lo intervir ativamente e assumir vários cargos em diversas organizações.
Destacou-se no Laboratório de Ideias da Madeira, estrutura que desenvolveu uma série de debates com diversas personalidades, tendo em vista as várias áreas da governação Regional e Local. Pela sua forma enérgica e assertiva com que defendia as suas propostas. As suas intervenções levaram a que fosse escolhido para encabeçar uma Coligação de 6 partidos, liderada pelo Partido Socialista, nas eleições autárquicas de 2013. Foi eleito Presidente da Câmara Municipal do Funchal no dia 29 de setembro de 2013, pela Coligação Mudança, pondo fim à hegemonia do PSD na principal Câmara da Região, onde sempre teve maioria absoluta.
Foi presidente da AMRAM – Associação de Municípios da Região Autónoma da Madeira e da CMU – Confederação dos Municípios Ultraperiféricos. Em 2017, candidatou-se novamente à presidência do Funchal através da coligação Confiança, alcançado a maioria absoluta com 42,05%.
Os seus mandatos ficaram marcados por vários feitos como uma redução da dívida da câmara, a realização do primeiro Orçamento Participativo na Região Autónoma da Madeira, a criação da Loja do Munícipe do Funchal, a reabertura do Complexo Balnear do Lido, o novo PDM, e a definição da reabilitação urbana como o desafio da década para a cidade.
Paulo Cafôfo, foi eleito presidente do PS Madeira a 25 de julho na maior votação de sempre da história do partido. Renunciou ao mandato de presidente da Câmara Municipal do Funchal a 1 de junho de 2019, com vista a ser candidato a presidente do Governo Regional da Madeira, indicado pelo Partido Socialista, nas eleições legislativas regionais de 2019. Obteve a maior votação de sempre do PS, com 35,76%, elegendo 19 deputados. Pôs fim, pela primeira vez na história da democracia, à maioria absoluta do PSD na Assembleia Legislativa Regional da Madeira.
Posteriormente à cerimônia de tomada de posse, o governante afirmou que “os Portugueses espalhados pelo mundo não se devem sentir ‘segundos Portugueses’, não se devem sentir marginalizados ou desprezados e nesse caso é muito importante a questão do apoio social, de termos a capacidade da língua portuguesa e da cultura portuguesa serem bem absorvidas e difundidas e estou certo também que a questão essencial do investimento da diáspora, tendo um problema que estamos num país em que o despovoamento o envelhecimento é claro, pode estar aqui uma solução para esbater aquilo que é o inverno demográfico que impede que tenhamos o futuro que queremos”.
Confira a entrevista completa na revista Comunidades, mídia parceira do Mundo Lusíada em Portugal >>