Mundo Lusíada
Uma das mais expressivas entidades luso brasileiras é a Casa de Portugal de São Paulo. Em suas oito décadas já recebeu as mais ilustres figuras da política, do mundo empresarial, artística e, entre eles, os presidentes portugueses, um dia na vida pública eles passaram pela entidade. Assim vem sendo ao longo de décadas da vida associativa da casa na mais importante metrópole do Brasil.
O domingo, dia 7 de agosto de 2016 é mais um que vai ficar marcado na história da entidade como um dia muito especial, que marcou a visita de nada menos que o Excelentíssimo Presidente da República de Portugal, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, que foi recepcionado pelos diretores da entidade, por membros da comunidade portuguesa, e adentrou à casa pelo tapete vermelho estendido ao centro de um corredor formado pelos componentes do Grupo Folclórico da entidade.
Na chegada, o chefe de Estado foi surpreendido com uma interpretação especialíssima da cantora Fafá de Belém que, acompanhada pelos músicos Renato e Ricardo Araújo, cantou o Hino de Portugal, sendo muito aplaudida e abraçada ao final pelo presidente, emocionado com a performance da artista que conforme ele, “cantou o hino com sua doçura única e por isso o hino ficou perfeito”.
Nesta manhã de domingo uma breve solenidade foi preparada pela direção da casa. Com a ausência do presidente Antonio dos Ramos, em viagem a Portugal, o presidente Marcelo Rebelo foi recebido pelo Paulo José Machado, o 1º Vice-Presidente, representando a casa, e pelo Dr. Antonio de Almeida e Silva, representando o Conselho da Comunidade Luso Brasileira.
Em seu discurso na abertura da solenidade, Paulo Machado ressaltou algumas das principais ações da entidade principalmente na realização de expressivos eventos culturais com grandes nomes da música portuguesa, eminentes escritores e pensadores, e ações que tornaram a casa um ponto de encontro de ligação da luso brasilidade, entre muitos outros valores que foram formando a instituição ao longo de suas oito décadas.
O dirigente ainda lembrou que o imponente prédio da Casa de Portugal já abrigou (nas últimas décadas) o Instituto Camões, o Consulado Geral, a Academia Lusíada de Ciências, Letras e Artes, mantém atualmente a Câmara Portuguesa de Comércio, o Conselho da Comunidade Luso Brasileira, e ainda a Provedoria da Comunidade de São Paulo.
Paulo Machado agradeceu, em nome da casa, pela visita de Marcelo Rebelo, depois de convite feito pelo presidente Antonio dos Ramos (em Chaves, Portugal), aceito pelo presidente para estar na entidade nessa sua primeira visita oficial ao país.
O presidente do Conselho da Comunidade, Antonio de Almeida e Silva, também fez seu discurso na maior parte em agradecimento pela tão honrosa presença da maior autoridade do país. “São notórios os vínculos que esta comunidade sempre manteve com a família de vossa excelência desde quando, aqui chegaram os saudosos Baltazar Rebelo de Sousa e Dona Maria das Neves. Depois com a presença do irmão Pedro, e agora do filho Nuno Rebelo”, disse ele lembrando que o pai do presidente, Dr. Baltazar foi vice-presidente da Casa de Portugal, entre outros cargos de relevo.
Almeida e Silva valorizou o movimento associativo, as pessoas que trabalham por amor às coisas de Portugal, as Associações Portuguesas, dizendo que são essas pessoas que hoje recebem na casa mais expressiva e representativa da luso brasilidade, a maior autoridade do país. E reforçou dizendo que Portugal “pode contar com essa comunidade sempre”.
Por fim falou a maior autoridade, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa começou por agradecer a cantora Fafá de Belém pela interpretação (com “doçura”) do Hino de Portugal, dizendo ter sido uma interpretação única e cantada por “uma alma brasileira mas que compreende Portugal”.
Marcelo Rebelo elogiou a Casa de Portugal, de muitas qualidades, mas apontou uma, dizendo que a casa nasceu para ser um ponto de encontro de portugueses com São Paulo e com o Brasil, “portanto um ponto de encontro de portugueses com brasileiros”, de muitas e muitas gerações, referiu.
Falando dos deslocamentos de autoridades ao longo dos anos, Marcelo Rebelo disse que, independente dos partidos, todos que vieram representaram Portugal, como ele o fez também nesta ocasião. “E hoje o Presidente da República de Portugal está aqui, para dizer aquilo que desde o primeiro minuto do meu mandato, não me canso de dizer, eu sou presidente de todos os portugueses, mas isso não é apenas uma palavra, decidi que o 10 de junho, Dia de Portugal, fosse alternadamente vivido em território físico português e fora dele, junto das comunidades espalhadas pelo mundo”, referiu ele que começou já neste ano com Paris, e revelou que vai prosseguir com as celebrações, não totalmente presenciais, e nem em todas as partes do mundo, “seria impossível”, mas na maior possível.
O presidente disse que isso é para dar sentido e valor aos que vivem longe. E a idéia de vir à Casa de Portugal de São Paulo e inaugurar uma placa na parede, é justamente para dizer: “Portugal está aqui, e nós estamos convosco”, além de ser para ele pessoalmente, como disse, “uma peregrinação espiritual familiar”, porque em São Paulo muitos de seus mais próximos familiares conviveram ao longo dos anos.
“Porque aqui se lançou uma bibliografia do meu pai, porque aqui entraram vários membros da mesma família, mas isso não é mérito nenhum, porque é isso a vida de várias famílias portuguesas, não há uma família que não tenha alguém um pé em algum lugar do mundo, portanto é uma peregrinação espiritual familiar que eu faço”, disse ele elogiando os antigos pelas dificuldades que tiveram, ao contrário das facilidades que tem os de hoje para esses deslocamentos. Marcelo Rebelo encerrou agradecendo a todos os presentes, chamados por ele de “embaixadores de Portugal”. Foi muito aplaudido por todos.
Numa atitude que foi digna dos maiores elogios, o presidente fez questão de ficar no local junto da comunidade que foi lá para vê-lo. Fez questão de abraçar a todos quanto pôde, fez questão de tirar fotos, e de conversar pacientemente com todos, foi extremamente acessível e “comum” como qualquer dos convidados, sem a truculência da segurança ou de assessores para limitá-lo de alguma coisa. Talvez não seja uma unanimidade à toa.
Fafá de Belém – Em depoimento aos jornalistas, a cantora Fafá de Belém falou do português que as vezes é visto como quem fala com mais rispidez porque “fala o que pensa”. “O que eu queria trazer nesse hino não é competir com ninguém, mas trazer o olhar de uma brasileira que ama Portugal, e vê esse povo dessa forma”.
Ela que é muito conhecida em Portugal, tem uma história com os benfiquistas pela canção “meu coração é vermelho”, falou sobre esse sentimento português. “Portugal é o cantinho de todos nós. Eu estou há 30 anos entre lá e cá e as vezes não sei onde acordo. Quando estou muito triste ou angustiada pego o primeiro avião e vou a Portugal, rever pessoas, ser abraçada pelo povo, e matar uma saudade de coisas que nem sei”, diz completando que a cada curva do Minho lembra de sua avó, e o céu de Lisboa, de sua família e infância.