Migrações: Bispo de Coimbra critica malfeitores que prometem paraísos aos mais pobres

Da Redação com Lusa

 

Neste dia 13, o bispo de Coimbra criticou os malfeitores que “prometem paraísos aos mais pobres das periferias do mundo”, e advertiu para os casos em que a comunidade é lugar de discriminação e o trabalho meio de exploração.

“O mundo tem notícia da existência de muitos rostos escondidos que, sem escrúpulos, prometem paraísos aos mais pobres das periferias do mundo. E por detrás de uns milhares de euros ou de dólares, aqueles rostos, que inicialmente se apresentam como bons samaritanos, acabam por revelar-se rostos de cruéis malfeitores, que abandonam homens, mulheres e crianças caídos à beira do caminho ou então que os entregam à sua sorte nas vagas do mar, sem esperança e sem futuro, prelúdio de morte ou, pelo menos, de embate com a dura realidade que os espera na praia”, disse Virgílio Antunes, no Santuário de Fátima.

Na missa de encerramento da peregrinação internacional de agosto, que integra a peregrinação nacional do migrante e do refugiado, o também vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa afirmou que a atualidade “continua marcada pelas migrações de portugueses”.

“Persiste também nos nossos jovens a necessidade da mudança não desejada, seja por motivo de estudo, de investigação, de trabalho em condições mais favoráveis, de procura de realização mais adequada aos seus ideais de vida”, adiantou Virgílio Antunes.

Aos cerca de 50 mil participantes na celebração, o prelado recordou que se há imigrantes que escolhem o país “pelos mesmos motivos que levam os portugueses a sair”, muitos outros fazem-no a “fugir dos flagelos da pobreza ou da guerra e à busca de novas oportunidades de vida”, alertando que para estes “o desenraizamento e a entrada numa realidade nova são motivos de não poucas dificuldades”.

“Também os que chegam ao meio de nós têm de enfrentar a novidade do desconhecido, do desconhecido em terra estrangeira que é sempre fonte de apreensões e, não raro, de imensa solidão”, prosseguiu.

Na homilia, o bispo de Coimbra aludiu ainda à imagem da casa, para sublinhar que esta “é a habitação digna e necessária, essencial à vida da família”, mas significa também a “inserção na sociedade, o acolhimento e o respeito mútuos”.

“Quantas vezes ouvimos dizer aos migrantes ‘já tenho casa, já tenho trabalho, já conheço pessoas que estimo e que me querem bem, já estou integrado, já me sinto em casa, já estou em casa’. Porém, sabemos também que aquilo que se espera, por vezes, não acontece. A casa, a sociedade, torna-se lugar de rejeição, a comunidade, às vezes, torna-se um lugar de discriminação e o trabalho, frequentemente, torna-se um meio de exploração”, destacou.

O presidente da peregrinação salientou ainda que todos precisam de uma luz e “a luz de Deus vai à frente” e os seus reflexos “hão de ser as luzes dos homens, mas também dos Estados, das organizações, das instituições que acompanham, que protegem, que ajudam a rasgar horizontes de esperança aos mais vulneráveis, como são os exilados, os refugiados e os migrantes”.

Sobre o santuário, onde foi reitor, o bispo da Diocese de Coimbra assinalou que Fátima “continua a ser para os migrantes reduto de fé, lugar de súplica e de gratidão”, apelando à Virgem para ajudar a “acabar com as guerras” e “a construir um mundo de paz”.

Na missa, concelebrada por quatro bispos e 90 sacerdotes, cumpriu-se a tradição, iniciada há 84 anos, da oferta de trigo.

Segundo o santuário, no ano passado, foram oferecidos 5.635 quilogramas de trigo e 477 de farinha. Nesse ano, foram consumidas, aproximadamente, 13.539 hóstias médias, 410 hóstias grandes, 659 mil partículas e 480 partículas para celíacos.

perseguições e discriminação

No dia 12, o bispo de Coimbra disse que a guerra, as perseguições e a discriminação fazem desejar uma humanidade nova, considerando que em matéria de migrações o mundo tem “responsabilidade acrescida” por conhecer as “experiências negativas do passado”.

“Trazemos em mente a guerra, as perseguições, a discriminação de pessoas e de povos por muitas e diversas razões sem sentido, trazemos ainda os atentados contra a vida, contra a integridade dos irmãos, e tudo isso nos faz chorar com os que sofrem, tudo isso nos faz desejar uma humanidade nova, tudo isto nos faz suplicar à Virgem de Fátima que não permita que se adense ainda mais a noite escura da humanidade, mas que faça brilhar desde já a claridade do futuro”, afirmou Virgílio Antunes, no Santuário de Fátima.

Na homilia da celebração da palavra, na peregrinação internacional de 12 e 13 de agosto, Virgílio Antunes salientou que, “de entre as sombras que obscurecem pessoas e povos, sobressai na atualidade (…) a experiência dramática dos refugiados e exilados devido à guerra, à fome, às perseguições, às injustiças, às políticas totalitárias, às condições de vida absolutamente desumanas”.

Para o presidente das celebrações, que integram a peregrinação nacional do migrante e do refugiado a Fátima, “o facto de, ao longo de todos os períodos da História, sempre ter havido fenômenos semelhantes a este, não diminui em nada a magnitude do problema, nem a responsabilidade da comunidade humana”.

“Hoje, podemos dizer que temos ainda uma responsabilidade acrescida por conhecermos as experiências negativas do passado e por estarmos no topo, pelo menos do ponto de vista cronológico, do nosso percurso civilizacional, embora tenhamos de reconhecer que, em alguns aspetos, houve, continua a haver, muitos retrocessos”, defendeu na celebração da palavra, antecedida da recitação do terço e da procissão de velas, perante cerca de 45 mil fiéis, segundo dados do santuário.

O também vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa sublinhou que “em Portugal, na Europa e em tantos outros lugares do mundo” se conhece “esta realidade das migrações forçadas, a realidade dos refugiados e exilados”, não somente pelos meios de comunicação social, mas também direta e pessoalmente.

“Todos os dias contactamos com pessoas – homens, mulheres e crianças – que não são somente migrantes por vontade própria, por vontade livre, pelo desejo legítimo de procurar melhores condições de vida para as famílias. Temos vizinhos que são refugiados e exilados, trabalhamos com eles, encontramo-nos com eles nos mesmos bancos das igrejas, nas mesmas enfermarias dos hospitais, as crianças sentam-se às mesmas carteiras das salas de aula e brincam nos mesmos recreios das escolas”, realçou.

Citando a Bíblia, o bispo de Coimbra lembrou que “para Deus não há estrangeiros”, mas “somente homens e mulheres que caminham sobre esta terra, uns porventura beneficiados pelas possibilidades de uma vida pacífica e com condições normais para a sua peregrinação, e outros que fogem do passado e almejam um presente e um futuro mais felizes”, para notar que embora hoje se fale da “igual dignidade de todos”, este “é ainda sonho por concretizar”.

Antes, ao referir-se à vigília de Fátima, de cujo santuário já foi reitor, realçou que aqui se sente “pulsar o coração do mundo na diversidade de rostos e das experiências de vida”, pois “aqui chegam as maiores alegrias, mas também as maiores dores, aqui se agradece e aqui se suplica, aqui às vezes aflora mesmo a revolta interior, mas também a possibilidade de se pacificar o coração”, acrescentando que neste templo a Virgem “deixou ao mundo uma réstia de claridade, promissora de esperança”.

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