Mundo Lusíada com Lusa
O Presidente de Portugal fez nesta sexta-feira de comemorações um elogio ao povo português, no seu discurso no 10 de Junho, “a arraia-miúda” que construiu Portugal e se espalhou pelos oceanos e que “se desdobrou em dois” na independência do Brasil.
“É o povo português a razão de sermos o que somos e como somos, de sermos Portugal, viva o povo português, vivam os portugueses de ontem, de hoje e de sempre onde quer que façam Portugal. Viva o nosso querido Portugal”, declarou o chefe de Estado, na cerimônia militar comemorativa do 10 de Junho, na Avenida da Liberdade, em Braga.
Num discurso de aproximadamente 15 minutos, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que, ao longo da História de Portugal, desde a separação do Reino de Leão, esteve “sempre, sempre presente o povo”.
“Se é verdade que os seus soberanos, os seus líderes, os seus chefes encheram também páginas da nossa História, não é menos que sem o povo, sem a arraia-miúda de que falava Fernão Lopes, não teria havido o Portugal que temos”, defendeu.
“Porque foi esse povo quem morreu aos milhares na conquista do território, partiu em cascas de noz pelos oceanos para o desconhecido, ficou espalhado um pouco por todo o universo, e deixou língua, alma e saudades das raízes. E ainda esteve nos momentos decisivos para podermos vir a ser o que somos, desde os combates nos séculos XIV e XVII pela nossa independência, a nossa restauração”, acrescentou.
O chefe de Estado dedicou parte do seu discurso à Constituição de 1822 e à independência do Brasil, no mesmo ano: “Celebramos este ano dois séculos do começo do fim do nosso império colonial, partilhando o júbilo dos nossos irmãos do outro lado do Atlântico como outro passo do nosso povo, que se desdobrou em dois, o povo brasileiro e o povo português, com a naturalidade do que era inevitável e portador de futuro”.
Assinalando a Cimeira dos Oceanos que terá lugar em Lisboa no fim deste mês, defendeu que “só é possível em Portugal porque o mesmo povo português escolheu o oceano como seu destino”.
“São os milhões e milhões de portugueses de carne e osso que fizeram Portugal, que fazem Portugal, que farão Portugal. Foi o povo que deu o que tinha e o que era sempre Portugal. Foi o povo português que cruzou oceanos e fez dos oceanos a nossa nova terra de futuro”, declarou.
Na intervenção, o chefe de Estado e Comandante Supremo das Forças Armadas referiu-se às forças militares como “o povo armado para servir Portugal” e destacou as suas missões no estrangeiro: “É o povo com armas que faz e quer fazer a paz, em Moçambique, na República Centro-Africana, no Mali, no Golfo da Guiné, no Mediterrâneo, na Lituânia, na Romênia”.
Fez também referências aos municípios, “que nasceram diversos nos usos e nos forais antes de serem submetidos ao poder político central”, e às regiões autónomas da Madeira e dos Açores, descrevendo Portugal como “um arquipélago feito de um retângulo de terras e dois outros arquipélagos compostos de ilhas variadas”, com um mar “muito maior” do que a terra.
Marcelo Rebelo de Sousa situou “o fim do fim do império” português em 2002, com o reconhecimento de Timor-Leste como Estado independente “depois de mais de um quarto de século de combate heroico” contra a ocupação indonésia.
Segundo o Presidente da República, “a unir tudo isto” esteve “sempre o povo”, que com a Constituição de 1822 viu reconhecido “um novo papel na vida nacional” e que “ajudou a criar Brasis ou a restaurar Timores-Leste”.
Depois, falou sobre o acolhimento de imigrantes: “É o povo português que aprende e reaprende a receber irmãos vindos das Áfricas, das Américas, das Ásias, do Pacífico. Africanos irmãos na língua, depois brasileiros, depois europeus de Leste, depois asiáticos e africanos não falando português, há pouco afegãos, agora de novo ucranianos ou vindos da Ucrânia”.
“É o povo português que tudo isso e muito mais faz, resistindo a pandemias globais, a crises mundiais e nacionais, construindo impérios com menos de um milhão de pessoas e, depois de acabados esses impérios, deixando pedaços de si, tantas vezes os mais corajosos, os mais sonhadores, os mais resistentes, em todos os cantos da terra”, enalteceu.
“A nossa pátria é História, é memória, é língua, é alma, é sucesso e fracasso, heróis, líderes, em monarquia como em República. Mas é muito mais do que isso. É povo, é povo com séculos de raízes”, resumiu.
O chefe de Estado manifestou a vontade de abraçar esse povo em todas os lugares onde vai e sustentou que “quanto mais longe estão mais portugueses ficam”.
Língua Portuguesa
O presidente da comissão organizadora das comemorações do 10 de junho, Jorge Miranda, criticou os frequentes “atropelos” de que a língua portuguesa é alvo, sublinhando que “internacionalizar não pode significar desnacionalizar”.
“Não posso deixar de reagir contra os atropelos que [a língua portuguesa] vem sofrendo entre nós”, disse Jorge Miranda, no discurso da cerimônia militar comemorativa do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Entre os atropelos, apontou os “constantes” erros de sintaxe na comunicação social, o ensino em escolas superiores portuguesas por professores portugueses a alunos portugueses em língua estrangeira, a denominação de algumas escolas superiores também em inglês e o “alastramento” de denominações comerciais de empresas portuguesas operando em Portugal em inglês.
Destacou ainda a “adulteração” do Erasmus, programa de intercâmbio cultural de jovens universitários.
“Internacionalizar não pode significar desnacionalizar”, referiu.
Para Jorge Miranda, o uso da língua portuguesa constitui um “direito fundamental dos cidadãos portugueses e brasileiros, tal como dos cidadãos de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de São Tomé e Príncipe, de Angola, de Moçambique, de Timor”.
“O direito de falar, de ouvir, de escrever, de ler, de receber mensagens, o direito de comunicar em português. Um direito e também um dever”, reforçou.
No seu discurso, Jorge Miranda disse não conhecer nenhum outro país que eleve a celebração a dia nacional de um seu poeta, designadamente Camões, “que ergueu a língua portuguesa ao máximo esplendor”.
“Todavia, Portugal e a língua portuguesa não se confundem. Ela pertence não só a Portugal, pertence ao Brasil e pertence aos cinco estados africanos e a Timor que a declaram sua língua oficial”, concluiu.