10 Junho: Os portugueses querem um futuro na África do Sul com segurança – Presidente

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, discursa durante o encontro com a comunidade portuguesa na Cidade do Cabo por ocasião das celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, Cidade do Cabo, África do Sul, 05 de junho de 2023. TIAGO PETINGA/LUSA

Mundo Lusíada com Lusa

Na Cidade do Cabo, o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou neste dia 05 que os portugueses residentes na África do Sul querem ficar no país e ter um futuro com segurança, mensagem que prometeu levar ao seu homólogo sul-africano.

Marcelo Rebelo de Sousa, que chegou nesta segunda-feira à África do Sul para as comemorações do Dia de Portugal, falava na Cidade do Cabo, num encontro centenas de portugueses e lusodescendentes na Associação Portuguesa do Cabo da Boa Esperança.

Durante o seu discurso, o chefe de Estado referiu-se à preocupação dos emigrantes na África do Sul com a ausência uma ligação aérea direta a Portugal: “Como eu compreendo, fui hoje dar a volta ao Dubai para chegar aqui, não se pode dizer que seja a linha reta”. “Vai-se para leste para depois vir para o sul. Convinha ser mais direto”, considerou.

O Presidente da República, que segue nesta noite de avião para Pretória, antecipou algumas das mensagens que tenciona transmitir ao seu homólogo sul-africano, Cyril Ramaphosa, na terça-feira.

“Eu vou dizer, em relação às nossas comunidades, o seguinte: que nós temos a agradecer à África do Sul, desde sempre, o ser a potência que é”.

“Nós esperamos que saiba sempre compreender e aceitar também a potência que é Portugal e a potência que são as nossas comunidades aqui”, prosseguiu, descrevendo Portugal como “uma potência, na língua, na cultura, nas comunidades e no papel das Forças Armadas”.

Marcelo Rebelo de Sousa prometeu dizer ao Presidente da África do Sul “que esta comunidade quer ficar cá, vai ficar cá e quer ter futuro cá”.

“Nós queremos que haja esse futuro, um futuro com condições econômicas, sociais e segurança, queremos isso. E queremos reforçar as relações com a África do Sul, bilaterais, isso é muito importante. E o vosso papel é decisivo”, acrescentou.

Investimento militar

O Presidente defendeu ainda que Portugal deve afirmar-se “como um dos maiores países marítimos do mundo” e investir mais na Armada e nas Forças Armadas em geral.

Marcelo Rebelo de Sousa falava numa cerimônia a bordo do navio-patrulha Setúbal, da Marinha portuguesa, atracado na Cidade do Cabo, primeiro ponto do programa de celebrações do 10 JUNHO.

Num discurso perante os marinheiros do navio Setúbal e do submarino Arpão, que se encontra também na Cidade do Cabo, o chefe de Estado e comandante supremo das Forças Armadas referiu que ali perto fica o Cabo da Boa Esperança, antes denominado Cabo das Tormentas, e recordou o feito do navegador português Bartolomeu Dias, que o dobrou em 1488.

“Foi através do mar que Portugal construiu a sua identidade, e foi com as armadas de então que se estabeleceram laços que ainda hoje perduram em todas as latitudes. É esse mesmo mar que nos impele hoje a ver Portugal, não enquanto um país periférico da Europa, mas antes como uma nação central do Atlântico”, disse.

Segundo o Presidente da República, “Portugal deve, por isso, sempre pugnar pela sua afirmação como um dos maiores países marítimos do mundo, olhando o mar de forma renovada, continuando a elevá-lo dia após dia a componente essencial do seu desígnio de sempre, e, portanto, do futuro de sucessivas gerações”.

“Faz sentido reafirmar, e reafirmar reiteradamente, aquilo que todos comungamos: a necessidade imperiosa de investimento permanente nas capacidades e equipamentos militares, mas também na valorização do papel dos militares na sociedade, nas suas carreiras, nos seus regimes de prestação de serviço e seu sistema estatutário e retributivo”, acrescentou.

Estavam presentes nesta cerimônia a ministra da Defesa Nacional, Helena Carreiras, o chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, general José Nunes da Fonseca, e o chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Henrique Gouveia e Melo.

Defesa

A África do Sul vai assinar terça-feira um acordo-quadro na área da Defesa militar com Portugal, país membro fundador da OTAN, que estabelece um relacionamento mais próximo com Pretória, segundo fonte diplomática à Lusa.

O embaixador de Portugal na África do Sul, José Costa Pereira, adiantou que o acordo será assinado em Pretória, entre a ministra da Defesa e dos Militares Veteranos da África do Sul, Thandi Modise e a sua homóloga portuguesa Helena Carreiras, durante o primeiro encontro oficial de Marcelo Rebelo de Sousa e o Presidente da República da África do Sul, Cyril Ramaphosa.

“É mesmo um acordo de Defesa, um acordo-quadro que estabelece os parâmetros para um relacionamento mais próximo, mais uma vez, nesta matéria que é muito específica da Defesa”, frisou.

O ex-representante permanente de Portugal no Comité Político e de Segurança da UE, desde março na África do Sul, sublinhou que o novo instrumento bilateral “estava a ser negociado já há alguns anos, para se encontrar os textos certos, para se encontrar também a ocasião certa para o assinar”.

“O acordo de defesa é importante neste momento para a África do Sul, é importante na definição da sua própria política porque a África do Sul tem sido, como sabe, muitas vezes acusada de estar próximo da Rússia no contexto da agressão deste país à Ucrânia, e portanto, neste momento a África do Sul assinar um acordo bilateral com um país que é membro fundador da NATO é com certeza um sinal que a África do Sul quer enviar ao resto do Mundo, dentro da sua política, que é dela, de equilíbrios estratégicos internacionais”, salientou.

Segundo o diplomata, o novo acordo-quadro de Defesa militar, que carece ainda de calendarização, permitirá a Portugal “ter aqui um campo para alargar toda uma série de intercâmbios, toda uma série de trocas de opiniões sobre assuntos que são importantes quer para eles, quer para nós”.

Nesse sentido, entre os “intercâmbios” possíveis com a África do Sul apesar da sua declarada política de “não-alinhamento” relativamente aos EUA e aos países da NATO na guerra da Rússia na Ucrânia, o novo relacionamento militar “poderá ser missões, de trocas de missões, de apoios a missões internacionais, e de discussões no plano de Defesa relativamente aquilo que se passa em África”.

“Temos contribuições importantes portuguesas no domínio da paz e de segurança em África, a África do Sul também tem, temos interesses também, basta referir o exemplo de Moçambique onde há uma missão europeia de treino para as forças moçambicanas em que 60% dessa missão europeia é constituída por militares portugueses, a África do Sul é também uma parte integrante, a parte principal do esforço da missão da SADC, da organização regional em Cabo Delgado, portanto há toda uma série de áreas de interesse comum em que podemos trabalhar em conjunto”, explicou.

“O acordo é apenas um primeiro passo, é aquilo que no permite ser uma plataforma que agora teremos se calhar maior peso, e maior escopo, no futuro”, sublinhou.

José Costa Pereira considerou ainda à Lusa que o facto de cada um dos dois países terem ambições militares em âmbito de organizações internacionais no contexto africano “é imediatamente um bom ponto de partida” para o que Lisboa procura alcançar com o Governo do Congresso Nacional Africano (ANC), no poder desde 1994 na África do Sul.

Na ótica de José Costa Pereira, “quanto mais estivermos próximos das autoridades sul-africanas, quanto mais tivermos um intercâmbio com eles, melhor podemos também proteger a nossa comunidade, melhor podemos junto dos sul-africanos fazer-lhes perceber qual é o papel que a comunidade portuguesa aqui na África do Sul representa”.

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