Comunidade quer fundo financeiro para regresso voluntário de brasileiros em Portugal

Foto Claudio Kbene

Mundo Lusíada com Lusa

Em Lisboa, representantes da comunidade brasileira em Portugal pediram ao Governo do Brasil a criação de um fundo financeiro para apoiar o repatriamento voluntário de cidadãos em situação de extrema vulnerabilidade, estimados em várias centenas.

A proposta consta de uma carta entregue pela direção da Casa do Brasil em Lisboa, ao ministro brasileiro Márcio Macedo, que integra a comitiva do Presidente Lula da Silva na sua visita de Estado a Portugal, que se prolonga até terça-feira.

“Sugerimos a criação de um fundo financeiro para apoio na compra de passagens aéreas para o repatriamento de pessoas brasileiras que se encontram sem situação de extrema vulnerabilidade e que desejam regressar ao país”, referem.

Na carta, os líderes da comunidade dão conta do aumento de pedidos de “repatriamento e retorno voluntários” e de “apoios sociais para habitação e alimentação” e apelam para que os consulados brasileiros em Portugal sejam dotados de “mais recursos e orçamento” para apoiar os brasileiros que querem regressar ao Brasil, mas não têm meios para o fazer.

De acordo com os representantes da comunidade, o aumento de pedidos fez derrapar para pelo menos três meses o prazo para uma resposta da Organização Mundial das Migrações (OIM) para a concessão de retorno voluntário aos imigrantes.

Vários representantes de movimentos sociais brasileiros em Portugal estiveram, durante a manhã deste domingo reunidos com os ministros Márcio Macedo (Presidência), que coordenou a reunião, Sílvio Almeida (Direitos Humanos e Cidadania) e Anielle Franco (Igualdade Racial), além do presidente da Embratur, Marcelo Freixo, com quem abordaram algumas das principais preocupações da comunidade brasileira em Portugal.

O funcionamento dos consulados brasileiros e a morosidade na obtenção de documentos, a demora e os custos do reconhecimento de diplomas e graus acadêmicos em Portugal, os problemas com os títulos de residência, as condições laborais dos brasileiros e as queixas de racismo e xenofobia foram assuntos abordados com o Governo brasileiro.

“Entendemos ser essencial a existência de um canal de diálogo real e permanente entre o Governo brasileiro e os cidadãos…] para que a comunidade brasileira em Portugal possa ter os seus direitos e integração assegurados”, sustentam.

De acordo com governantes brasileiros, presentes na reunião, o Movimento Revolu ressaltou a necessidade de prontidão e de articulação contra a ascensão da extrema direita, o Movimento T, de travestis migrantes em Portugal, denunciou as dificuldades de inserção no mercado de trabalho e a exposição quotidiana à violência e o Núcleo de Estudantes Luso-brasileiros relatou dificuldades relacionadas com o alto valor das mensalidades e a obtenção de vistos de estudante.

Por sua vez, o Movimento Brasileiros Emigrados reivindicou a criação, na estrutura do governo, de um conselho de direitos de brasileiros emigrados.

Participaram também no encontro porta-vozes das comunidades brasileiras de Espanha, França e Irlanda.

Cerca de 252 mil brasileiros residem legalmente em Portugal, de acordo com dados oficiais, que não contabilizam os brasileiros com nacionalidade portuguesa ou outra nacionalidade europeia.

Segundo estimativas brasileiras, a comunidade poderá ter entre 275 mil e 300 mil pessoas.

Do governo, a ministra Anielle Franco ressaltou que a política deve ser feita “com afeto, olho no olho, sem que nunca a gente se esqueça de onde veio”.  Frisou que, para isso, a comunicação deve ser a mais acertada possível e que a transparência deve ser a marca. Declarou-se sensibilizada com as homenagens que viu em Portugal à sua irmã Marielle Franco e o quanto seu assassinato foi responsável pela ascensão de um movimento contra a violência política e em defesa da igualdade racial em escala global.

O presidente da Embratur, Marcelo Freixo, frisou a necessidade de que os movimentos sociais pratiquem uma comunicação social mais efetiva, particularmente em face do desafio de se lutar contra estratégias de desinformação calcadas no discurso do ódio e nas fake news.

O ministro Silvio Almeida salientou que a política de direitos humanos precisa ser uma política de Estado, e não apenas de um governo, daí a necessidade de um arcabouço institucional bem alicerçado. Nesse sentido, citou a necessidade de fortalecer políticas de reparação e de proteção.

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