Da Redação
Com Lusa
O Presidente português defendeu que o comércio aberto e a aliança entre os Estados Unidos e a União Europeia como um todo têm “uma importância nuclear”, expressando preocupação com a conjuntura global e europeia.
Durante um almoço na Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, em Lisboa, para assinalar o 184.º aniversário da fundação da instituição, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a criticar “o regresso do protecionismo comercial” e deixou também uma mensagem de apelo ao investimento externo em Portugal por parte dos seus aliados.
“O conjunturalismo eleitoral, o imediato e o subsequente, não deve comprometer visões de médio e longo prazo, para as quais o comércio aberto e a aliança entre os Estados Unidos e a União Europeia – digo bem, a União Europeia, e não fragmentos dela – têm uma importância nuclear. Sobretudo para quem diga querer evitar excessivos avanços asiáticos no Ocidente e manter viva e operacional a Aliança Atlântica”, afirmou.
No seu entender, “os sinais dos últimos tempos são preocupantes e só admira como não tiveram sinais mais graves”.
Depois, quanto ao investimento externo em Portugal, o chefe de Estado argumentou: “A melhor maneira que têm os nossos amigos e aliados de garantirem que o investimento que nos chega é o que apreciam é eles próprios investirem. De nada vale queixarem-se de vindas que não apreciam quando, perante oportunidades e necessidades instantes, criticam, temem, apostrofam, mas não avançam, primam pela ausência”.
“Como todo o meridiano jurista sabe, em direito, como na política ou na economia, os ausentes nunca têm razão”, observou.
Sem nomear nenhum país em concreto, Marcelo Rebelo de Sousa referiu: “O senhor primeiro-ministro e o Governo não se têm poupado a esforços para sensibilizar os nossos amigos e aliados para o seu investimento em Portugal”.
Sobre a situação da União Europeia, o Presidente da República falou em tom grave, considerando que “seria um erro de efeitos irreversíveis” remeter decisões para depois das eleições para o Parlamento Europeu de maio e da formação da nova Comissão Europeia.
Por outro lado, “decidir timidamente e em clima de falta de coesão e unidade é dar passos largos para a descredibilização europeia”, disse.
“Já basta a inação de tantos, tempo demais, e a sobranceria de outros, para os quais os princípios valem o que valerem os seus próprios egoísmos. E, sobretudo, só uma Europa que saia bem do desafio imediato poderá assegurar crescimento e emprego, mesmo se moderados”, acrescentou.
O chefe de Estado apontou “as clivagens entre Estados-membros, os tropismos ditos populistas ou quase e as divisões ou debilidades em economias essenciais”, concluindo: “Há sérios motivos de preocupação também nesta frente”.
No plano nacional, elogiou “a fibra e a força dos empresários, dos empreendedores e dos gestores portugueses”, mas avisou que há que estar atento às “variáveis externas” e ter em conta as “dificuldades estruturais enfrentadas por empresários e pelo povo”.
Portugal é uma “sociedade que, à partida ,não é desafogada e tem dívidas pública e externa de uma dimensão assinalável em relação à riqueza produzida – o que nunca nos deve deixar de preocupar”, advertiu.
Segundo o Presidente da República, a resposta deve ser apostar em “maior produtividade, melhor gestão e, sobretudo, mais investimento, potenciador de mais e melhor exportação”.
“Internamente, o reforço da aposta nas exportações, seu incentivo e diversificação é caminho inquestionável. Aberto no passado, a afirmar-se no presente e a acelerar no futuro. O que houver a fazer em rumos, estruturas e pessoas, que seja feito. O mesmo se diga no tocante ao investimento interno e externo”, advogou.
Ainda em relação ao quadro internacional, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou a expectativa de que este tempo “de novos protecionismos” seja “transitório” e de que “o aparente desanuviamento com a cimeira de Singapura e o bom senso no Próximo e Médio Oriente prevaleça sobre considerações eleitorais”.
“Seria possível e benéfico para todos, a ninguém interessa o crescendo mundial da tensão e da conflitualidade mundial”, sustentou.
Sobre o espaço lusófono, declarou: “Espero sinceramente para breve visíveis perspetivas positivas, potenciáveis já a partir da cimeira do Sal e com expressão em passos favoráveis em irmãos e parceiros agora mais próximos”.