Mundo Lusíada
Com Lusa
O presidente da Viniportugal, Jorge Monteiro, considerou que o acordo sobre a denominação do Alvarinho alcançado em 14 de janeiro é “muito positivo” e vai contribuir para aumentar a notoriedade do vinho produzido em Portugal.
“Havendo regiões mais identificadas com determinadas castas, o país ficará a ganhar se estas castas, que têm elevada notoriedade e um potencial enorme, puderem ser não um exclusivo de um pequeno território, mas acessíveis a outras regiões”, salientou.
Um acordo sobre Alvarinho, a casta de maior valor nos vinhos verdes, não será mais exclusivo da sub-região Melgaço e Monção no Alto Minho. E poderá ser mencionada nos rótulos de produtores de toda região. A Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) anunciou que os produtores de Monção e Melgaço vão poder usar “um selo de garantia” nos seus vinhos Alvarinho e a Sub-Região, formada pelos dois concelhos, vai dispor de três milhões de euros para investir em promoção nos próximos seis anos.
Para Jorge Monteiro, o acordo é também “uma oportunidade” para os produtores destas regiões afirmarem a sua diferença e conseguirem melhores preços. Segundo ele, os produtores “deverão aproveitar este exercício para se afirmarem com um posicionamento mais elevado”, usando a genuinidade dos seus territórios para “colocar o produto no mercado a preços superiores”.
Quanto aos Alvarinhos de outras regiões, serão “bons vinhos, importantes para a promoção da imagem de Portugal”, já que permitem alcançar uma dimensão para o Alvarinho de Portugal que não seria possível se estivesse restrito apenas a duas regiões.
“As regiões de excelência serão sempre Monção e Melgaço, mas a dimensão destas regiões torna-se insuficiente para criar notoriedade internacional para a casta Alvarinho”, sublinhou o responsável da Viniportugal.
A medida, acrescentou, “elimina uma discriminação negativa face aos restantes produtores de vinho verde fora de Melgaço e Monção e vai permitir criar uma escala para o Alvarinho que até agora não era possível na região dos vinhos verdes”.
No dia 13, representantes dos produtores de Monção e Melgaço no Grupo de Trabalho do Alvarinho (GTA) consideraram que acordo “valoriza” a sub-região composta pelos dois concelhos e “reforça a competitividade” do vinho.
Para a delegação de produtores de Monção e Melgaço no GTA, que representa cerca de 85% dos viticultores dos dois concelhos e 90% do volume de negócio gerado na sub-região, as medidas agora aprovadas “criam condições para o desenvolvimento do negócio do Alvarinho em Monção e Melgaço”.
Em comunicado à Lusa, os produtores da sub-região adiantaram que o acordo vai permitir “gerar riqueza e postos de trabalho, e potenciar nomeadamente a exportação deste vinho já hoje a bandeira da região”.
Como pontos fundamentais do acordo a delegação de produtores com representação no GTP destacou a fixação de “um prazo de 18 anos durante o qual as uvas Alvarinho de Monção e Melgaço não saem da sub-região, sob pena de perderem a designação da casta” e o desenvolvimento “um programa de investimento no valor de três milhões de euros na promoção” do território.
A produção de vinho Verde Alvarinho, a partir de uvas produzidas fora da sub-região só será permitida a partir da vindima de 2020/21. “A partir desta data, todos os lotes que mencionem Alvarinho, terão de conter 51% desta casta, se for a primeira mencionada, e 30% se for a segunda, quando até agora o valor “era de 0,1%”, lê-se na nota.
Protesto
Mas produtores de Melgaço manifestaram-se, no Porto, contra o alargamento da denominação vinho verde Alvarinho à restante região dos vinhos verdes e pela manutenção do atual exclusivo no município e no de Monção.
Os manifestantes viajaram em sete autocarros, um deles da Câmara Municipal de Melgaço, e a esmagadora maioria vestiu uma camisa com a inscrição “o Alvarinho é nosso, não ao alargamento”.
A manifestação foi uma iniciativa da própria autarquia de Melgaço, de maioria socialista, a qual informou que estiveram presentes cerca de 450 manifestantes. Vários deles são pequenos produtores de uva e de vinho Alvarinho que afirmam temer pela sua sobrevivência se perderem o exclusivo da rotulagem vinho verde Alvarinho.
Um grupo pretendia algumas garantias para darem o seu aval ao fim de um exclusivo com mais de 40 anos. O outro alega que não faz sentido haver distinções dentro da mesma região vinícola, sentindo-se lesados pela atual situação.
Na manifestação do dia 13, frente à sede da CVRVV, com o patrocínio da Câmara de Melgaço e da Comunidade Intermunicipal do Minho, a produtora Aida Mendes disse à agência Lusa que estava ali porque “o alargamento pode prejudicar” e salientou que o Alvarinho é “a única fonte de rendimento” local. “O alargamento vai tirar aquilo que é nosso”, reforçou Aida Mendes.
“As restantes sub-regiões da Região dos Vinhos Verdes viram aqui um negócio”, considerou o grão-mestre da Real Confraria do Vinho Alvarinho, José Afonso, referindo haver “interesses econômicos instalados” que cobiçam o que foi feito pelos produtores de Alvarinho daqueles municípios.
O presidente da Câmara Municipal de Melgaço, Manoel Batista, aludiu também aos “interesses das grandes empresas que trabalham com o vinho verde”, mas considerou “injusto” que o alvarinho local, “de repente”, seja utilizado por elas para fazer “grandes negócios”.