Mundo Lusíada
No âmbito do tratado de cooperação científica assinado por Brasil, Portugal e África do Sul em julho deste ano, a União Europeia lançou um edital no valor de 33 milhões de euros para financiar pesquisas no Oceano Atlântico. A chamada, lançada no âmbito do programa Horizon 2020, contempla também pesquisadores brasileiros.
Segundo o coordenador-geral de Oceanos, Antártica e Geociência do Ministério brasileiro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Andrei Polejack, a participação de brasileiros no edital só foi possível graças ao esforço dos países para criar um plano de desenvolvimento científico para o Atlântico Sul, a partir do trabalho conjunto dos pesquisadores.
“O programa de trabalho europeu reflete quatro anos de negociações que muito contaram com nossos cientistas, que trouxeram o que se desejava para esta cooperação. Assim, dá-nos imensa satisfação agora poder retornar a essa comunidade com um resultado concreto dessa dedicação, com possibilidades reais de intensificação da cooperação internacional e de projetos de pesquisa que considerem o Atlântico como um só sistema, de polo a polo”, afirmou Polejack.
Segundo ele, o Ministério brasileiro está pronto para atender pesquisadores brasileiros interessados em parcerias com grupos da África do Sul e da Europa.
Além de ser o primeiro passo para a implementação dos compromissos assumidos pelos países na Declaração de Belém, assinado e julho, a chamada atende os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, das Nações Unidas, de “conservar e usar sustentavelmente os oceanos, os mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável”.
O plano científico construído por Brasil e África do Sul, discutido em Lisboa em julho, prevê o aprofundamento da cooperação em pesquisa no Atlântico Sul e Tropical e em outros oceanos austrais. O documento destaca a relevância do oceano para as economias e sociedades dos dois países, diante da influência marinha no clima e, consequentemente, em atividades de agropecuária, mineração, pesca e aquicultura, transporte e turismo. Reforça, ainda, a necessidade de conhecer melhor o papel das porções meridional e tropical do oceano nas mudanças climáticas de ambas as nações, dos continentes vizinhos e do planeta.
Foram identificadas três áreas-chave para a parceria: mudanças climáticas, controle de processos de variabilidade de ecossistemas e recursos marinhos vivos e minerais, a exemplo da biodiversidade. A geografia sul-africana favorece a abrangência dos desafios a serem compartilhados, já que o país se localiza na confluência de três sistemas oceânicos – Atlântico, Índico e Antártico.
Brasil-Portugal
O Ministério da Ciência e Tecnologia ainda divulgou a reunião entre dirigentes de agências de fomento e institutos de pesquisa brasileiros que mantenham cooperação com instituições de Portugal, em preparação para um encontro bilateral marcado para acontecer entre os dias 20 a 22 de novembro, em Florianópolis (SC). Na oportunidade, os dois países devem promover diálogos de alto nível entre academia científica, governo e indústria.
“A reunião agendada para Florianópolis tem como foco dar partida no Centro de Investigação Internacional do Atlântico, o AIR Center, exatamente para tentar identificar caminhos para viabilizar essa cooperação”, explicou o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCTIC, Jailson de Andrade, ao lembrar que o Brasil é um dos países fundadores do empreendimento científico, ao lado de África do Sul, Angola, Argentina, Cabo Verde, Espanha, Índia, Nigéria, Portugal e Reino Unido. A infraestrutura em rede, sediada no arquipélago dos Açores, se destina a pesquisar clima, espaço e oceanos.
Segundo Polejack, o objetivo do MCTIC é direcionar a cooperação bilateral de acordo com as prioridades da academia e da indústria envolvidas em parcerias. “Nosso levantamento traz assuntos das mais diferentes vertentes, desde medicina regenerativa até engenharia aeronáutica, passando por energia renovável, nanotecnologia e biociências, seja para a saúde ou para a prospecção de moléculas de uso industrial”, ilustrou. “E seria muito interessante se nós pudéssemos fazer um esforço nacional para congregar essas visões e projetos já em andamento com os portugueses em um guarda-chuva só, para que o ministério coordene ações e identifique o que o Brasil deseja para o centro.”
O diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Marcelo Morales, apontou como possíveis “pontos de contato” da cooperação os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) e a atuação do Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (Peld) em ilhas oceânicas. Já o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Marcos Cintra, por videoconferência, indicou como caminho o Sistema Nacional de Laboratórios em Nanotecnologias (SisNano).
Também participaram da videoconferência a presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (Consecti), Francilene Garcia; o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe), Ricardo Galvão; e o diretor de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Finep, Wanderley de Souza; além de representantes do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM); do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes) vinculado à Petrobras; e da Embraer, que possui fábricas em Portugal.