Com fila de ambulâncias, Portugal volta a ter recorde de mortes por Covid-19

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Mundo Lusíada
Com agencias

Neste domingo, imagens de Lisboa mostram novamente fila de ambulâncias à espera de deixar os doentes no Hospital Santa Maria, na capital portuguesa.

Neste dia 24, Portugal voltou a registrar recorde diário com 275 mortes relacionadas com a covid-19, o maior número de óbitos em 24 horas desde o início da pandemia, e 11.721 novos casos de infecção com o novo coronavírus, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).

O Instituto Nacional de Emergência Médica-INEM explicou na sexta-feira que, com o aumento dos números da pandemia e a vaga de frio, verificou-se uma grande procura dos serviços de urgência em praticamente todas as unidades hospitalares, com “grande pressão dos serviços e afetando a sua capacidade de resposta”.

“Por esta razão, verifica-se que as ambulâncias, em determinadas situações, não conseguem entregar os doentes nos serviços de urgência com a celeridade desejável e ficam retidas durante períodos mais ou menos longos”, justificou à Lusa.

O INEM ainda acrescentou que, devido à pressão generalizada sobre todos os serviços de urgência, o desvio de ambulâncias para outros hospitais “não é possível ou é apenas exequível em situações muito concretas e pontuais”.

De qualquer forma, o Instituto explica que, após chegada da ambulância ao hospital, os utentes podem ser observados pelas equipes destas unidades para averiguar a prioridade na admissão e garante que esta pré-triagem dos doentes que aguardam nas ambulâncias “está a ser feito de forma sistemática” pelos profissionais de saúde dos hospitais.

O INEM explicou que a triagem nos Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) segue protocolos médicos que “aplicam um conjunto de perguntas” e “baseados em algoritmos de avaliação clínica e que permitem averiguar a gravidade da situação clínica dos utentes e qual o meio de emergência médica pré-hospitalar que melhor se adequa a essa situação”.

Em resposta a perguntas colocadas pela Lusa a propósito das críticas que vieram a público sobre a falta de coordenação no transporte de doentes para as urgências e sobre a não existência de critérios de não transporte para casos que tal não se justifique, o INEM sublinha que “todas as ambulâncias enviadas pelos CODU do INEM são enviadas após a aplicação do respectivo algoritmo de triagem”.

“Quando não existem critérios de gravidade não são enviados meios de emergência médica, sendo a chamada reencaminhada para o SNS24 para aconselhamento”, sublinha.

A propósito das filas de ambulâncias junto às urgências de alguns hospitais, que levaram o Sindicato dos Técnicos de Emergência Médica Pré-Hospitalar a defender a possibilidade de os doentes poderem ser encaminhados para unidades menos pressionadas, o INEM diz que o transporte dos doentes para as urgências é feito “de acordo com as redes de referenciação hospitalares instituídas”.

Diz ainda que a este nível são considerados diversos fatores, entre os quais o estado clínico dos doentes; proximidade das unidades hospitalares; valências clínicas disponíveis e disponibilidades das unidades de saúde para recepção de utentes”.

“A informação sobre a pressão sobre os serviços de urgência e respectivos tempos de atendimento, a taxa de ocupação dos hospitais, as vagas existentes, nomeadamente para doentes covid e não-covid e nas várias valências dos Serviços de Medicina Intensiva é monitorizada em permanência pelo INEM, e o trabalho de referenciação pelos CODU é permanente e resulta de uma articulação muito próxima entre o INEM, as ARS e os hospitais”, garante o instituto.

Diz ainda que, em situações de elevada pressão sobre um hospital, os CODU “podem, transitoriamente, desviar doentes para outras unidades de saúde, sempre em articulação com os hospitais envolvidos e as respetivas ARS, e desde que esse procedimento não coloque em causa a segurança dos doentes”.

Em resposta à agência Lusa a propósito de críticas de falta de equipamentos como monitores de sinais vitais, o INEM respondeu que as suas ambulâncias “estão equipadas com todos os equipamentos necessários ao desempenho de funções por parte dos seus operacionais, incluindo a totalidade dos equipamentos definidos por lei”.

Os técnicos de emergência hospitalar queixaram-se de falta destes monitores de sinais vitais nas ambulâncias, com o sindicato a explicar que estes monitores foram mandados retirar pelo Infarmed há três anos, por não respeitarem as regras exigidas, e não foram repostos.

Hospital de campanha
Neste sábado, o hospital de campanha de Lisboa reabriu antecipadamente e já recebeu pacientes com Covid-19, inicialmente do Hospital Amadora-Sintra e do Hospital Beatriz Ângelo, de Loures.

O governo pretende desafogar a urgência do Hospital de Santa Maria, em que se registrou filas de ambulâncias à espera de vagas. Além dos pacientes de hospitais da região de Lisboa em situação de maior pressão, também poderá auxiliar hospitais de outras zonas do país, quando estiver disponível mais leitos.

O Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada, informou neste domingo que está com uma taxa de ocupação de 309% relativamente ao que previa o plano de contingência, com 204 doentes infectados, 19 deles na UTI. O Hospital de São João, no Porto, regista hoje taxas de ocupação covid-19 entre os 85% e os 95%, segundo o conselho de administração que descreveu um “panorama exigente e complexo”, mas “estável” apesar do “aumento de procura”.

Portugal aumentou as restrições de circulação, e apenas serviços essenciais podem permanecer abertos. O governo também voltou a fechar todas as escolas para conter a disseminação do vírus.

Dados
O boletim epidemiológico de hoje revela também que estão internadas 6.117 pessoas, mais 195 do que no sábado, das quais 742 em unidades de cuidados intensivos (mais 22 nas últimas 24 horas).

Ao dia de hoje, contabilizam-se 10.469 óbitos desde o início da pandemia, em março do ano passado.

Estão hoje ativos 169.230, um aumento de 6.279 casos nas últimas 24 horas.

Desde o início da pandemia, Portugal já registou 636.190 infeções com o coronavírus SARS-Cov-2.

As autoridades de saúde têm em vigilância 210.664 contactos, mais 4.432 relativamente ao dia anterior.

O boletim regista ainda que mais 5.167 pessoas foram dadas como recuperadas, fazendo subir para 456.491 o número de recuperados desde o início da pandemia.

a região de Lisboa e Vale do Tejo – que representa mais de um terço das novas infeções e quase metade dos óbitos – foram notificadas 4.167 novas infeções, contabilizando-se até agora 218.997 casos e 3.873 mortes.

A região Norte passou a ocupar a segunda posição em número de mortos, ultrapassando a região Centro.

A região Norte registou mais 4.188 novas infeções nas últimas 24 horas e, desde o início da pandemia, já contabilizou 284.344 casos e 4.077 mortes.

Na região Centro, registaram-se mais 2.219 casos, totalizando 89.314 infeções e 1.765 mortos.

No Alentejo, foram assinalados mais 623 casos, totalizando 21.995 infeções e 535 mortos desde o início da pandemia.

A região do Algarve tem hoje notificados mais 424 novos casos, somando 15.065 infeções e 165 mortos.

A Região Autónoma da Madeira registou 51 novos casos, contabilizando 3.246 infeções e 32 mortes por covid-19.

Na Região Autónoma dos Açores foram registados 49 novos casos nas últimas 24 horas, somando 3.229 infeções e 22 mortos.

Os casos confirmados distribuem-se por todas as faixas etárias, situando-se entre os 20 e os 59 anos o registo de maior número de infeções (mais elevado entre os 40 e os 49).

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