Da Redação
Com Lusa
O resultado da coleta das celebrações de Natal no Santuário de Fátima vai ter como destino a Diocese de Pemba, em Moçambique, para apoiar os deslocados afetados pela violência em Cabo Delgado, no norte daquele país.
“Em todas as missas das três solenidades e na festa da Sagrada Família faz-se a recolha de ofertas durante a veneração do menino Jesus, que neste ano será destinada à Diocese de Pemba, em Moçambique, para os deslocados de Cabo Delgado”, anunciou hoje o Santuário de Fátima, realçando a “grave crise humanitária” que afeta aquela zona no norte do país.
Na nota de imprensa, o Santuário referiu que vai assegurar as celebrações de Natal e ano novo, “respeitando todas as regras de segurança previstas, nomeadamente a necessidade de preservar o distanciamento físico entre peregrinos e o uso obrigatório da máscara”.
A violência armada em Cabo Delgado, norte de Moçambique, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
A província está desde há três anos sob ataque de insurgentes e algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico desde 2019.
Apoio militar
Portugal vai apoiar Moçambique na organização logística e capacitação de militares para fazer face aos grupos rebeldes, anunciou o ministro da Defesa português.
“A partir do início de janeiro virá uma equipe de militares portugueses para trabalhar com o Estado-Maior General das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique no desenho do projeto, que queremos que comece muito rapidamente”, disse João Gomes Cravinho, no último dia da visita de trabalho que realiza a Moçambique desde quarta-feira.
Segundo o governante português, a formação, a ser feita em Moçambique, vai abranger as forças de intervenção rápida, forças especiais, fuzileiros e militares da área do controlo aéreo tático, tendo sido definidas como as “áreas de interesse específico” a ciberdefesa, a cartografia, a hidrografia e a cooperação industrial de defesa.
“Nós estamos a falar de uma missão não executiva. O que nós vamos fazer é dar apoio as autoridades moçambicanas para que elas possam exercer a sua soberania”, frisou João Gomes Cravinho.
Para o ministro, o terrorismo no norte de Moçambique tem algumas especificidades locais e o primeiro elemento importante para travar as incursões destes grupos é “conhecer o inimigo”.
“O aparecimento do terrorismo no norte de Moçambique tem algumas características em comum com o terrorismo em outras partes do mundo, particularmente na costa africana. Mas também tem especificidades locais. Portanto, é fundamental perceber aquilo que vem de fora e aquilo que se desenvolveu com raízes nacionais”, declarou.
João Gomes Cravinho disse ainda que Portugal, que assume a presidência da União Europeia no primeiro semestre de 2021, vai procurar reforçar o pedido de apoio já feito por Maputo a Bruxelas.
“É uma coincidência muito favorável. Vamos utilizar esta presidência para reforçar a capacidade de resposta da UE face às necessidades no terreno”, declarou João Gomes Cravinho.
Moçambique e Portugal têm um acordo de cooperação na área da defesa desde 1988.
Durante a visita de João Gomes Cravinho, além de aspectos ligados à violência armada em Cabo Delgado, as partes debateram aspetos ligados à resposta à covid-19, tendo Portugal manifestado abertura para apoiar Moçambique no seu plano nacional de vacinação.
A visita de trabalho do ministro da Defesa português a Moçambique tinha em vista a negociação de um novo programa de cooperação bilateral no domínio da Defesa e o estreitamento de relações com África no âmbito da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia (PPUE), que se iniciará em janeiro.