Mundo Lusíada
A Embaixada de Portugal divulgou que vai realizar a entrega da homenagem ao Vasco da Gama, pelos 125 anos de fundação, nesta sexta-feira no Rio de Janeiro.
As insígnias serão impostas pelo Embaixador Luís Faro Ramos, em 1 de setembro às 17h, no Consulado Geral de Portugal no Rio de Janeiro, Palácio de São Clemente.
O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, outorgou ao Clube a comenda da Ordem do Infante D. Henrique, altura em que ligou pessoalmente para o presidente Jorge Salgado para informar da concessão da honraria, citando que “talvez não exista no mundo outra instituição com tamanho alcance na propagação da história e da cultura portuguesa”.
O anúncio da homenagem já tinha sido feito pela embaixadora Gabriela Soares de Albergaria, cônsul-geral no Rio de Janeiro, em seu discurso no evento que celebrou o aniversário do Clube, na sede náutica da Lagoa, no último dia 21.
Na ocasião, a Diretoria Administrativa do Clube agradeceu a Francisco Gomes da Costa, Grande Benemérito do CRVG e presidente do Real Gabinete Português de Leitura, e a Manuel Domingues e Pinho, Conselheiro do Vasco e presidente honorário da Câmara de Comércio Brasil – Portugal. Eles intercederam junto ao governo português pela concessão da honraria ao Vasco.
A Ordem do Infante D. Henrique foi criada em 1960, para comemorar o 5° Centenário da morte do Infante D. Henrique, o Navegador, filho do Rei D. João I e da Rainha D. Filipa de Lencastre, e o grande promotor e impulsionador da expansão marítima portuguesa.
Em 1962, a finalidade da Ordem passou a “distinguir quem houver prestado serviços relevantes a Portugal no país e no estrangeiro” e “serviços na expansão da cultura portuguesa ou para conhecimento de Portugal, sua história e seus valores”.
Confira a nota da Embaixada na íntegra:
“Pela sua história, o Clube de Regatas Vasco da Gama – “o time que venceu o racismo” – constitui, a partir do Rio de Janeiro, uma referência incontornável para todos os desportistas, incluindo em Portugal.
No dia 21 de agosto de 2023, a celebração do 125º Aniversário do Vasco da Gama levou-nos a percorrer as nossas melhores memórias e a projetar valores nobres como a tolerância e a não discriminação, muito além do desporto,
partilhados com torcedores de todos os clubes brasileiros e portugueses.
A este fato, não serão alheias as raízes luso-brasileiras do clube e a sua ligação às comunidades portuguesas no Brasil, sendo a sua designação um tributo ao navegador Vasco da Gama, que a partir de Lisboa descobriu o
caminho marítimo para a Índia, onde chegou em 1498.
Neste contexto, Sua Excelência o Presidente da República, Grão-Mestre das Ordens Honoríficas portuguesas, decidiu, em reconhecimento pela rica história do clube, condecorar o Vasco da Gama com categoria de Membro Honorário da Ordem do Infante Dom Henrique.”
Vasco 125 anos
Fundado em 1898, sob nome de Club de Regatas Vasco da Gama, a instituição surgiu como praticante do remo. Por lá, a bola só começou a rolar em 1916, por influência de Raul Campos.
Assim como os demais portugueses que vinham ao Brasil na época, ele chegou com o objetivo de ingressar no clube carioca. Se associou em 1913. Um ano depois, virou sócio benemérito. Mais 365 dias se passaram e se tornou presidente. A partir daí, começa a história lusitana no esporte bretão.
O primeiro time de futebol vascaíno surgiu sob descontentamento dos praticantes de remo. Depois de um início com resultados complicados, a agremiação começou a procurar jogadores em ligas periféricas, independente de cor ou condição social. Encontrou e entrou para a Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT), que organizava o Campeonato Carioca da época, com uma equipe formada, em maioria, por negros e pobres.
Pouco tempo depois, em 1922, o Vasco é campeão da Série B do Estadual e conquista o acesso à elite no ano seguinte. Comandado pelo uruguaio Ramón Platero, o time venceu 11 jogos, empatou dois e perdeu apenas um. A excelente campanha levou ao título da primeira divisão.
Recém-campeã da elite carioca, a equipe, que começou a ser montada em 1919, sofreu obstáculos para continuar. A Liga impôs uma regra que proibia analfabetos de atuarem no campeonato. Com ajuda do associado e bibliotecário da instituição portuguesa, Custódio Moura, os atletas conseguiram aprender a ler e escrever os dados necessários para seguirem jogando.
Um ano depois de levantar o troféu, o clube se viu em mais uma situação complicada: os rivais se reuniram para fundar a Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA). Por ser o atual campeão, o Vasco foi convidado, mas com uma restrição: deveria excluir 12 de seus jogadores do elenco – negros e pertencentes das camadas populares – por não terem “condições sociais apropriadas para o convívio esportivo”. No dia 7 de abril, José Augusto Prestes, presidente à época, redigiu e assinou a “Resposta Histórica”, que abria mão de fazer parte da AMEA e priorizava a manutenção dos desportistas.
A representatividade em campo refletiu na sociedade, principalmente no subúrbio, que se identificou com os atletas. O apelo da torcida vascaína era muito grande, mesmo sem ter um lugar para chamar de “casa”. A Cruz de Malta precisava pagar aluguel à rivais para conseguir atuar em seus estádios.
A exclusão da instituição lusitana da Associação não foi bem recebida pelo público. Com partidas sempre lotadas, o Vasco foi campeão do torneio organizado pela LMDT de forma invicta. Diante do sucesso e da repercussão, o clube é convidado para ingressar novamente na AMEA. Desta vez, sem critérios ou restrições.
Nélson, Leitão, Mingote, Nicolino, Claudionor, Artur, Paschoal, Torterolli, Arlindo, Cecy e Negrito, além do treinador Ramón Platero, foram 12 dos responsáveis por popularizar o esporte no Rio de Janeiro. Os negros, operários e semianalfabetos poderiam, e seriam, campeões.
A força cruzmaltina só aumentou. Sua torcida apaixonada liderou a campanha de arrecadação de recursos para comprar um terreno em São Cristóvão, escolhido pelo clube por ser parecido com seu local de fundação, na zona portuária do estado. 685 contos e 895 mil réis foram juntados, além de dois mil contos de réis para a construção.
Em 21 de abril de 1927, dez meses depois do início da obra, ocorreu a primeira partida no Estádio de São Januário, uma derrota carioca por 5 x 3 para o Santos. O placar pouco importou para uma torcida que acabava de erguer um estádio privado dos próprios bolsos.
Quando começaram a escrever esta história, provavelmente nenhum dos Camisas Negras imaginava o tamanho que teriam. Desde então, dentre outros troféus, a agremiação conquistou 24 títulos estaduais, quatro Brasileiros, uma Copa do Brasil, uma Libertadores e uma Mercosul.
Glórias, lutas, vitórias. Esta é a história de uma das maiores instituições do Brasil, que em 21 de agosto, completou 125 anos. Informações da CBF