Mundo Lusíada
Com Lusa
Mais de 40 organizações portuguesas juntam-se no sábado a milhares de pessoas que vão sair às ruas de várias cidades de todo o mundo para participar na Marcha Mundial do Clima, segundo o presidente da associação ambientalista Zero.
Sob o lema ‘Parar o petróleo! Pelo clima, justiça e emprego!’, mais de 40 organizações portuguesas de ambiente, movimentos cívicos, sindicatos e partidos políticos vão sair às ruas de Lisboa, Porto e Faro às 17h00 para “exigir que não se inicie a exploração de combustíveis fósseis e se faça uma transição justa e rápida para as energias renováveis”.
Em declarações à Lusa, Francisco Ferreira explicou “que a marcha visa também que os combustíveis fósseis deixem de fazer parte da ementa energética na medida em que são os principais responsáveis pelas emissões de gases com efeitos de estufa e pelas alterações climáticas”.
“Trata-se de uma mobilização mundial pelo clima e por uma ação que é absolutamente crucial por ser urgente. Em cada país este mote de salvar o clima tem as suas especificidades. No caso de Portugal o grande apelo em linha com o acordo de Paris é que nós não avancemos com novas infraestruturas para a extração de combustíveis fósseis”, disse.
De acordo com o presidente da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, em cima da mesa está o caso de exploração de petróleo em Aljezur (Faro) e de gás natural em Aljubarrota (Leiria) utilizando “métodos dramáticos do ponto de vista ambiental”.
“É fundamental que nós ao demarcarmos o objetivo de neutralidade carbónica para 2050, no caso de Portugal, sejamos coerentes com este objetivo e para tal decorre do acordo de Paris que nós não aumentemos a oferta de hidrocarbonetos que possam vir a ser queimados e a prejudicar o clima”, disse Francisco Ferreira.
O ambientalista lembrou os recordes de temperatura este verão, as secas e os incêndios descontrolados e as suas consequências para as próximas gerações.
“No caso de Portugal esta questão é vital e portanto, para nós, a ênfase está em mostrar que o nosso país tem um potencial enorme em termos de energias renováveis e eficiência energética (…) e é crucial que os políticos em todo o mundo percebam esta urgência de reduzir as emissões”, salientou.
A Marcha Mundial do Clima marca o início de uma série de eventos políticos sobre a temática até ao final do ano.
“Na próxima semana vai haver uma cimeira de mobilização global sobre o clima em S. Francisco, nos Estados Unidos: chama-se Cimeira da ação global do clima e vai decorrer entre os dias 12 e 14 de setembro. São mais de 350 eventos com participação de políticos, diretores de grandes empresas e de organizações da sociedade civil e a zero vai estar presente”, disse Francisco Ferreira.
“Em dezembro vai decorrer na Polônia a cimeira anual das Nações Unidas sobre o clima onde vai ser discutida a revisão das metas do acordo de Paris fixadas em 2015 para terem lugar a partir de 2020”, disse.
Francisco Ferreira adiantou ainda que a 7 de outubro vai ser apresentada a versão final do relatório do painel intergovernamental de mais de três mil cientistas para as alterações climáticas e que tem vindo a ser discutido.
Cientistas
Ainda no Porto, mais de 30 cientistas de várias instituições lusas subscrevem uma carta aberta ao reitor da Universidade do Porto em protesto contra a realização de uma conferência de “negacionistas” das alterações climáticas marcada para sexta-feira e sábado.
Os signatários contestam o fato da Academia, presidida pelo reitor António Sousa Pereira, “promover uma conferência que vem favorecer a desinformação, credibilizando ideias políticas que visam travar as ações para se conseguir obter a estabilização climática do planeta durante este século”, traz a carta.
No documento, intitulado “Universidade do Porto deve escrutinar os eventos que organiza e promover o conhecimento baseado em Ciência”, os cientistas acrescentam que, “estas ideias cientificamente infundadas – a que se dá o nome de negacionismo -, em vez de esclarecerem e sensibilizarem para as alterações climáticas não pretendem mais do que criar dúvidas sem qualquer fundamento ou método científico”.
Em causa está a recente polêmica em volta da presença de várias personalidades conhecidas como “negacionistas” das alterações climáticas numa conferência que vai decorrer na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Entre eles, Piers Corbyn, irmão do líder trabalhista britânico Jeremy Corbyn, que considera que a contribuição humana no aquecimento global é “mínima” e que o aumento da temperatura se deve a um aumento da atividade solar.
O grupo de cientistas defende que, sendo a Universidade do Porto uma instituição pública e uma das maiores produtoras de Ciência em Portugal, “impõe-se o escrutínio dos eventos que acolhe”. “Esta instituição, pela responsabilidade que tem em divulgar o conhecimento informado, não deve emprestar o nome e dar credibilidade à negação da Ciência e do Conhecimento, mas antes promover o conhecimento científico sobre as alterações climáticas, seguindo as boas práticas científicas internacionais”, acrescentam.
Na carta dirigida ao reitor, os signatários garantem que não são “alheios às táticas frequentemente utilizadas por este tipo de organizações ‘negacionistas’, que utilizam o espaço da democracia para tentar polarizar a sociedade e ganhar espaço mediático, criando uma polêmica artificial e errada, invocando censura e vitimizando-se no processo”, e defendem que o momento escolhido tem uma intenção clara.
“Também não estranhamos a realização deste evento coincidindo com a data da Marcha Mundial do Clima, a realizar no próximo dia 8 de setembro (sábado), em que manifestações sairão às ruas por todo o mundo, e em Portugal também, para exigir ações concretas para travar a espiral de descontrole que têm sido as últimas décadas em termos de eventos climáticos extremos e aquecimento do Planeta”, referem.
“Existe um aquecimento inequívoco do planeta, não apenas simulado ou previsto, mas medido. A emissão de gases com efeito de estufa de origem na ação humana, o mais relevante dos quais o dióxido de carbono, é a principal razão para este aquecimento e provém maioritariamente do uso de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural), mas também de outras fontes como a desflorestação e a agropecuária. Esta asserção ficou bem patente no último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas”, dizem.
A iniciativa é subscrita por, entre outros cientistas, Carlos Borrego, do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro, Carlos Fiolhais, do Departamento de Física da Universidade de Coimbra, Filipe Duarte Santos, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável, e que foi revisor do relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas da ONU, Francisco Ferreira, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Manuel Sobrinho Simões, do IPATIMUP, e Teresa Lago, do Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade
Em comunicado enviado à Lusa, a Universidade esclareceu que a realização da conferência “não significa que as posições assumidas pelos seus oradores e participantes sejam um reflexo da visão da Universidade do Porto sobre o tema em debate”.