Da Redação
Com Lusa
A China quer usar Portugal e os países de língua portuguesa como meio para a internacionalização da sua moeda, o renmimbi, um dos objetivos estratégicos do Governo de Pequim.
No seminário “Serviços financeiros, estímulo e cooperação entre a China e os Países de Língua Portuguesa, com a Região Administrativa Especial de Macau como plataforma”, que decorreu em Lisboa, o presidente da Autoridade Monetária de Macau, Teng Lin Seng, disse que a região administrativa chinesa, pela sua relação privilegiada com Portugal, deverá reforçar o seu papel de plataforma de serviços comerciais entre o mercado chinês e os Países de Língua portuguesa, em especial nos serviços financeiros e na liquidação de renmimbi entre a China e Portugal.
“A adesão formal, a partir do dia 1 do próximo mês, do RMB [renmimbi] aos direitos de saque especiais do Fundo Monetário Internacional simbolizará um importante marco no caminho da internacionalização do RMB. Com o avanço contínuo desta etapa, estamos crentes de que o RMB será cada vez mais procurado no mercado internacional e será uma moeda de ampla utilização (…)”, disse Teng Lin Seng, no seminário que contou com a Caixa Geral de Depósitos na organização.
E adiantou: “Com base no volume de importações e exportações entre a China e os países de língua portuguesa, ascendendo a 98,5 biliões de dólares em 2015 (…), pode-se verificar que o espaço de desenvolvimento associado ao uso transfronteiriço do RMB nas relações comerciais a desenvolver pela China e pelos países de língua portuguesa será muito amplo”.
A CGD tem uma forte presença no sistema financeiro de Macau, onde tem o Banco Nacional Ultramarino há 114 anos.
O 13.º Plano Quinquenal do Governo da República Popular da China tem, entre os seus objetivos, abrir o mercado de capitais do país e desenvolver a moeda chinesa, pelo que as várias autoridades do país estão a reforçar as relações com o exterior nesse sentido.
Também o diretor-geral do Shanghai Municipal Financial Services Office, Zheng Yang, salientou a necessidade de reforçar as relações comerciais entre o mercado português e a China, considerando que “Portugal é o mais importante parceiro de negócios da China na União Europeia”, enquanto a “China é o décimo maior mercado das exportações e o sétimo maior mercado das importações de Portugal”, e defendeu que é altura de haver uma melhoria na “cooperação em serviços financeiros entre Xangai, Macau e Lisboa”. A cidade de Xangai é o mais importante centro de negócios e financeiro da China.
Também o responsável pela representação em Lisboa do Bank of China, Xiao Qi, afirmou que o seu banco está muito envolvido na internacionalização da moeda chinesa e oferece uma série de produtos e serviços em renmimbi nos 50 países e regiões em que está presente, incluindo em Portugal.
Este seminário contou com a presença de um membro da nova administração da Caixa Geral de Depósitos, Emídio Pinheiro, que frisou que o banco público quer ajudar nas ligações comerciais entre Portugal e a segunda maior economia do mundo.
À margem do evento, o novo administrador não quis fazer declarações aos jornalistas sobre a sua nova função na CGD. Emídio Pinheiro era presidente executivo do Banco de Fomento de Angola, participado pelo BPI.
Grupos chineses
O presidente da Autoridade Monetária de Macau, Anselmo Teng, disse que a China está interessada em fazer mais investimentos e aquisições em Portugal no setor financeiro e que as que já aconteceram são o início de uma tendência que será reforçada.
“Cada vez mais entidades chinesas querem participar nos capitais de bancos portugueses e seguradoras e isto é uma tendência marcada, como mencionou o representante da Fosun, agora envolvida numa ação no BCP”, afirmou Anselmo Teng.
Após questões de jornalistas sobre interesses de grupos chineses em bancos portugueses, o ‘chairman’ da Autoridade Monetária de Macau pediu a palavra para afirmar que a China não só apoia os movimentos que têm existido, como deseja que se reforcem.
“Enquanto autoridades governamentais, temos gosto nesta tendência. Isto é só o início de aquisição de entidades chinesas em Portugal, haverá no futuro mais”, acrescentou.
Este seminário contou com a presença de um representante do grupo chinês Fosun, que detém em Portugal a seguradora Fidelidade e a Espírito Santo Saúde, e quer comprar 16,7% do capital do BCP, podendo reforçar posteriormente a sua participação para entre 20% a 30% no banco, dependendo das limitações de votos dos estatutos.
Também presente neste evento esteve o presidente do conselho de administração do Haitong Bank (ex-Banco Espírito Santo de Investimento), Hiroki Myiazato. De acordo com informação da imprensa, o Haitong propôs, à margem do concurso para a compra do Novo Banco, ao Fundo a aquisição parcial do Novo Banco pelo próprio banco assim como por outros investidores, ficando com cerca de 30% da instituição que resultou da resolução do BES.