China nega responsabilidade sobre potencial crise de dívidas soberanas na África

Da Redação
Com Lusa

O Governo chinês negou qualquer responsabilidade sobre uma potencial crise de dívidas soberanas em África, apontando antes que cabe aos países desenvolvidos desempenharem um “papel exemplar” no apoio ao continente.

“Nenhum país africano está a ter dificuldades com endividamento devido à cooperação que mantém com a China”, defendeu o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, numa resposta por escrito enviada à agência Lusa.

Lembrando que a China está disposta a procurar “soluções apropriadas”, através de “consultas amigáveis”, mas sem avançar com mais detalhes, as autoridades do país asiático remeteram para a Europa e Estados Unidos a responsabilidade em dar o exemplo.

“Esperamos que os países desenvolvidos e as principais instituições financeiras internacionais aumentem o apoio a África, através de maiores esforços na redução e perdão de dívidas destes países”, lê-se na mesma nota.

Numa altura em que a pandemia do novo coronavírus ameaça causar uma recessão em África, os governos do continente pediram um total de 100 mil milhões de dólares (91 mil milhões de euros) em assistência, incluindo o apoio a uma moratória da dívida externa e, eventualmente, perdão de dívidas.

O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional anunciaram já medidas de alívio imediato, incluindo o perdão de dívida a alguns dos países mais pobres do continente, reforçando as expetativas de que Pequim adote medidas semelhantes.

Segundo a universidade norte-americana Johns Hopkins, o Governo, bancos e empresas da República Popular da China emprestaram cerca de 143 mil milhões de dólares (131 mil milhões de euros) aos países africanos, entre 2000 e 2017 – cerca de um terço da dívida soberana do continente.

Críticos apontam para um aumento problemático do endividamento junto de entidades chinesas, que em alguns casos coloca os países africanos numa situação financeira insustentável.

Angola, por exemplo, um dos principais parceiros comerciais da China em África, destinou quase 43% das receitas do Estado, em 2019, para pagamento de juros e amortizações da dívida externa, uma das percentagens mais altas no continente, segundo a organização não-governamental Comité para o Jubileu da Dívida. Em comparação, Moçambique gastou cerca de 20% com o serviço da dívida.

O Governo chinês negou, no entanto, ser um dos principais credores de África, e defendeu ter agido sempre com “responsabilidade” no “apoio ao desenvolvimento econômico de África e melhoria do nível de vida da população do continente”.

“A cooperação no âmbito de financiamento foi sempre realizada de acordo com o desejo dos países africanos”, realçou.

O Governo chinês lembrou ainda ter participado na implementação de uma moratória no valor de 20.000 milhões de dólares (18.200 milhões de euros) no pagamento de dívidas dos países mais pobres, no âmbito de um acordo entre os membros do G20, mas não avançou nenhuma medida unilateral.

O ministro das Finanças do Gana, Ken Ofori-Atta, disse esta semana esperar mais de Pequim.

“A minha expetativa é que a China deve tomar uma posição mais forte”, apontou Ofori-Atta, durante uma intervenção na unidade de investigação Center for Global Development, com sede em Washington.

“Julgo que, no total, a dívida de África com a China é superior a 145 mil milhões dólares (132 mil milhões de euros), cerca de 8 mil milhões devem ser liquidados este ano […] isto deve ser analisado. Estamos num período apocalíptico”, defendeu.

Na resposta por escrito enviada à agência Lusa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês disse que a China apoiou já África a “superar dificuldades” no combate à epidemia através do envio de equipamento médico.

“A China vai continuar a prestar assistência a África dentro das suas capacidades e de acordo com o desenvolvimento da pandemia e das necessidades do continente africano”, assegurou.

O número de mortes provocadas pela covid-19 em África subiu para 1.614 nas últimas horas, com mais de 37 mil casos da doença registrados em 53 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 230 mil mortos e infectou mais de 3,2 milhões de pessoas em 195 países e territórios.

Cerca de 908 mil doentes foram considerados curados.

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